Espíritos do Mal

Desde que fora ao enterro de seu amigo, Dimas, no cemitério São João Batista, a vida de Alfredo das Neves deu uma guinada… para trás! Tudo começou a dar errado: perdeu o emprego, a namorada e foi despejado de sua casa pelo senhorio. Os amigos, que já eram poucos, sumiram. E, para piorar: voltou a beber! Gastou os cinquenta reais que ainda tinha com cachaça. Bebeu Caninha 51 até ficar bêbado. Definitivamente não foi uma boa ideia. Caído ao chão da estação de metrô Cardeal Arcoverde, em Copacabana, uma senhorinha gorda e simpática ofereceu-se para ajudá-lo. Ela levou o ex-garçom, que tinha idade para ser seu filho, até sua casa, no Méier, um bairro suburbano do Rio de Janeiro.

― Tome um copo de água, meu filho. Você está muito abatido, mas eu tenho fé em Deus que você vai se reerguer. ― Disse a velha senhora do alto de seus 1,78 m de altura e 120 quilos.

Alfredo bebeu a água contrariado. Preferia cachaça.

― Quem é a senhora? ― perguntou ainda tonto o ex-funcionário do restaurante Brinco de Ouro.

― Eu me chamo Leopoldina, mas pode me chamar de vovó Lelê. Eu sou médium clarividente e vejo que sua vida deu uma reviravolta repentina e para pior. Estou certa?

― É verdade, vovó Lelê. Eu tinha uma namorada linda. Uma loira de olhos azuis e corpo de misse universo. Tinha um bom emprego e morava numa linda casa e, de repente, perdi tudo. Tudo mesmo. Até minha saúde. Gastei os últimos tostões que tinha em bebida e agora só tenho o chão para andar…

― Você lembra do momento exato em que sua vida começou a desmoronar?

― Não sei se tem relação com a piora de minha vida, mas depois que fui ao enterro de meu melhor amigo, Dimas Trabuco, eu me arruinei. ― Disse, chorando, o ex-garçom, que costumava fazer figurações numa grande rede de televisão pensando em um dia virar galã de novela.

― Qual é o seu nome, meu rapaz?

― Eu me chamo Alfredo, Alfredo das Neves.

― Eu vou ajudá-lo, Alfredo. Como já disse, sou médium clarividente e vejo em você espíritos do mal: espíritos obsessores! Eles sugam sua força vital como um parasita suga o alimento de seu hospedeiro. Provavelmente você os adquiriu em sua ida ao cemitério.

― E como eu posso fazer para me livrar destes espíritos?

― Vou fazer os rituais de limpeza energética em você. Você vai se livrar desses espíritos malignos. Eu prometo!

Durante o mês que se seguiu, Vovó Lelê fez os rituais de energização em Alfredo das Neves. Em troca, ele lhe deu cinco tiros na cara e um no coração. Alfredo se curou dos espíritos obsessores, mas um surto psicótico o fez ver vovó Lelê não como uma amiga, mas como a própria causa de sua doença.

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 19/05/2018
Código do texto: T6340497
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