João costumava pescar todas as manhãs. Era seu momento de prazer e de adrenalina. Lançar o anzol, esperar aquele momento em que a linha começava a tremer, enrolar a carretilha e finalmente ver o peixe aparecer. Indescritível!
Um dia, resolveu pescar no final da tarde em um ponto diferente do rio. Logo sentiu que o anzol se prendera em alguma coisa. “Deve ser peixe grande” pensou o pescador. Começou a lutar contra o peso que ameaçava levar o barquinho pelo rio revolto, devido à tempestade que caíra mais cedo.
Já bastante cansado, finalmente conseguiu recolher o anzol. Extenuado deitou no fundo do barco e por isso não percebeu a cabeça calva que apareceu, os corais dentro do crânio e, caranguejos nos dentes de marfim. Finalmente um esqueleto inteiro caiu junto da proa.
Ahhh! Gritou o homem apavorado, coração batendo forte. Desvencilhou-se do esqueleto e começou a remar loucamente em direção a margem do rio. Ao chegar ao seu destino, agarrado com a vara de pescar, corria aos gritos, através das pedras do caminho. Já era noite quando chegou a sua casinha. Ainda trêmulo, mas aliviado, ficou deitado no escuro, se sentindo seguro, livre de tudo. Adormeceu. Acordou com os raios de sol em seus olhos. Ao seu lado a mulher esqueleto com as pernas jogadas em seu ombro.
Então aconteceu. Conseguiu olhar o rosto dela e viu que durante a noite suas feições suavizaram.  Começou a soltá-la devagar do anzol para não quebrar os ossos. Um estranho sono o fez dormir. Nem percebeu quando o esqueleto se revestiu de carne e deitou ao seu lado. Suas pernas e seios se aconchegaram a ele para transmitir calor. Acordaram no dia seguinte juntos e abraçados num momento eterno de prazer. Dizem os pescadores que João nunca mais foi visto.
Heloísa Mamede
Enviado por Heloísa Mamede em 21/07/2018
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