A NOIVA NEGRA


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"...ele foi sua ascensão e ruína, um espécime singular de cavalheiro, alvo, alto, olhos e cabelos dourados, um Sol brilhante sujeito à escuridão, mas, isso ela só descobriria depois de perder sua alma...'



Mabile, era uma jovem de boa família, educação refinada, sensível, loura de pele amorenada, herança moura de um dos lados de sua família, enxergava a vida como um sonho, mas, desejava mais do que um príncipe encantado, queria um amor vibrante e ao mesmo tempo delicado, por este motivo não se envolvia facilmente. Quando foi apresentada a Heitor, n'uma reunião informal na chácara de um aliado comercial de seu pai, no mesmo instante, sentiu que havia encontrado o amor de sua vida.

A atração foi mútua, ouro líquido nas veias e dentro de Mabile uma ebulição de emoções. Ainda tinha suas reservas, pois nada vem fácil num pacote completo, mas, os dias e atenções carinhosas de Heitor,  jogaram por terra suas dúvidas. Ele foi invadindo todos os segundos de sua existência, Heitor se tornou sócio de seu pai, conquistou sua mãe, só prosperidade e alegria, os caminhos normais de um amor incandescente foram seguidos, a côrte, o noivado e no jantar que celebrava a data, Mabile parecia um sonho sob Sol dourado, os cabelos louros, a pele amorenada coberta com um elegante vestido rendado de tonalidade de dourado fôsco, iluminou a sala com sua entrada, estava belíssima. A única coisa que destoava no ambiente era o olhar frio de Heitor, sublinhado por um sorriso plástico de felicidade e Mabile percebendo isso, sentiu um arrepio na pele suavemente perfumada. O jantar transcorreu feliz. Num momento à sós, Mabile perguntou se havia algum problema, pois achou que ele estava estranho, um tanto distante, ele disse que era impressão dela, era apenas cansaço do trabalho, as emoções dos preparos do casamento que já se avizinhava, falou isso de forma tão doce que ela relaxou as defesas.

As semanas foram passando rápidas, tantas coisaa para resolver, convites, flores, bolo, decoração, buffet, músicos, vestido, viagem...quase não conversaram dentro deste turbilhão. Dois dias antes do casamento, Mabile recebeu um bilhete n'um envelope branco e seu conteúdo seco e frio com a letra firme de Heitor dizendo
- Foi bom, mas, você não é para mim, desculpe o tempo que perdemos

Mabile dormiu em tremores por quase uma semana, uma febre massacrou seu corpo e lhe deu uma palidez de morta e imensas olheiras, n'uma tarde fria acordou cansada, mas, completamente diferente, abraçou pai e mãe, tomou um banho morno e demorado, se vestiu de negro fechado, sem muitas respostas ou palavras escureceu sua alegria, se dedicou aos negócios do pai, como se o trabalho fosse uma bóia de salvação, proibiu qualquer menção ao acontecido, por cinco anos sua rotina enlutada seguiu assim.

Um dia ao sair do escritório no anexo do casarão, se deparou com um jornal picado jogado na lixeira, isso era inusitado, normalmente os empregados aproveitavam os jornais para forrar as gaiolas dos passarinhos, voltou o olhar outra vez para o cesto e o nome que leu num recorte, gelou seu coração...Heitor....
Se recompondo pegou o recorte e entendeu o motivo do jornal estar rasgado, quiseram lhe poupar. Era o anúncio do casamento de Heitor na cidade vizinha, seria dali a uma semana, fria por dentro, descartou o papel.

Mabile passou os dias seguintes indo à modista, sua mãe até se animou, já andava enjoada de tanto preto em sua calada filha, uma corzinha daria vida ao seu rosto, aquelas olheiras assustavam. No sexto dia, uma Mabile soturna, com uma pequena maleta na mão, se despediu da famíla avisando que talvez não voltasse à noite, sem mais explicações, pegou o carro e se foi. Hospedou-se num pequeno hotel na cidade vizinha, desfez a maleta, bebeu água e se deitou, eram três  horas da tarde, era tempo suficiente, pensou.

Na Igreja do Monte Rei, às seis e meia da tarde, tudo muito bem decorado, rosas e tulipas brancas por toda a nave, gente feliz e bem vestida, um Heitor de sorriso plástico e olhos frios, extremamente elegante e ansioso, aguardava ao pé do altar. A música suave e melodiosa tradicional se inicia, parentes e padrinhos já emocionados em seus lugares, a noiva jovem, morena de lindos cabelos negros adentra com passinhos nervosos e com tremor nos lábios.

De repente uma Mabile entra completamente vestida de negro, como se a noiva fosse, de véu, vestido e olheiras, com um buquê de rosas negras nas mãos, uma visão aterradora, caminhou direto e reto na direção de Heitor e num tom de voz gutural, falou em alto e bom som

- VOCÊ NUNCA MAIS MATARÁ O SONHO DE NINGUÉM!

Sacando do buquê uma pisola calibre 22, descarregou a arma no peito de Heitor, deixando uma profusão de sangue sobre o corpo um dia tão amado, fugindo rapidamente da igreja, entrou no carro arrancando em alta velocidade, sem rumo, com os olhos ardendo de lágrimas salgadas, no primeiro barranco por onde passou, se lançou com o carro, aplacando para todo sempre em chamas,  a sua dor.








 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 15/09/2018
Reeditado em 05/02/2019
Código do texto: T6449565
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