CARTA PARA MAMÃE

Acordei dentro de um contêiner, não sei se estava limpo, sujo, não sei, estava sozinha. Estava tudo escuro. Ouvi sussurros em uma das paredes, fui em direção ao som, havia mais pessoas, conversavam como se estivessem livres, será que só eu estava presa? Bati na parede e imediatamente escutei “quem está aí, já acordou Milena?.”

Não sabia o que estava acontecendo, mas entrei na conversa: “quem está aí?” Perguntei em tom baixo, não sabia se podia falar, nem mesmo sabia onde eu estava. “Somos nós sua boba”. Escutei, mas não sabia que eram, percebi que a voz era feminina. Quando fui perguntar os nomes, mais uma voz do outro lado falou: “Você está bem? Somos nós: Julia, Ana e Rebeca”.

“Agora sim, sabia os nomes, mas não tinha a mínima ideia de que eram, mas resolvi entrar no jogo e ganhar intimidade: “Oi meninas”, falei com a voz doce e continuei:” O que fazem aqui?” Depois de um silêncio de mais ou menos cinco minutos, veio a resposta: “ Descansando. “A festa foi boa, mas ficamos exaustas, e mais, aqueles gatos que nos trouxeram pra cá, cada um melhor que o outro”. Continuei, “Sim, claro, onde eles estão agora?”. “Não sabemos ”respondeu uma delas”, e continuou: “Disseram que nos levariam pra nossas casas, até uns minutos atrás estávamos viajando, mas agora o carro parou”.

Com essa informação eu fiquei um pouco mais apreensiva e perguntei: “Por que está tão escuro e porque estamos dentro de contêineres?”. “Contêineres? Estamos em uma limusine”. Responde uma delas. Eu rapidamente perdendo a paciência a interrompi: “Na verdade eu trabalho no porto e sei que estamos dentro de contêineres e agora você tem que me dizer o que está acontecendo, como chegamos aqui?” Mais uma vez o silencio de alguns minutos e então uma dela falou: “Sou Rebeca, estudante de jornalismo, estávamos em uma festa, bebemos muito, alguns garotos vieram nos oferecer carona e bebida. Aceitamos, depois me lembro de estarem nos carregando e dizendo que no levariam para a limusine. Só lembro disso.

Nesse momento o carro, na verdade o caminhão voltou a se movimentar, senti um cheiro forte e adormeci.

Acordei novamente, o caminhão ainda movimentava-se e parecia ir bem rápido, escutei gritos depois um estrondo e meu corpo saiu do chão e chocou-se com as paredes do contêiner, desmaiei. Abri os olhos e percebi que estava boiando, caímos em algum rio. O contêiner estava enchendo rápido demais. Morri.

Só isso que posso dizer, mas mamãe, não te preocupa se não acharem meu corpo, vivi um tempo nadando na escuridão, mas quando cheguei a conclusão que não estava mais no plano terrestre, fui levada por luzes e hoje estou bem e curada. O que mais incomodava na escuridão é que Julia, Ana e Rebeca não paravam de chorar e pelo que eu sei ainda estão lá.

Com amor, Milena.