O Despertar

Acordei como se estivesse saindo de um longo sonho, sonho este que não conseguia me lembrar muito bem. O ambiente – se é que podia chamá-lo assim – era tão escuro que eu parecia permanecer de olhos fechados. Estava deitado, mãos unidas em cima do peito, o ar era muito escasso, mas o pouco que conseguia aspirar tinha cheiro de flores fúnebres.

Um lugar apertadíssimo. Tentava me mover, mas o espaço era mínimo. Havia pouco menos de um palmo entre mim e aquelas quatro paredes. Paredes que ao tocar certifiquei de que eram feitas de madeira.

Outra coisa assustadora era aquele silêncio. Não conseguia ouvir nada vindo de fora daquele cubículo, então comecei a prestar atenção dobrada nos sons que vinham do meu próprio corpo: batimento cardíaco acelerado, respiração dificultada e ranger de dentes.

A essa altura tentava negar para mim mesmo onde estava, mas não tinha como fugir da realidade: estava num caixão, a sete palmos abaixo da terra.

Comecei a esmurrar aquela tampa da forma que dava, não tinha muito espaço para tomar impulso. Não consegui abri-la. Puxei o ar com toda dificuldade e gritei: ´´Socorro, socorro, socorro`` , mas tudo fora em vão, minha voz quase não saía, foi um grito quase mudo.

No desespero, arranhava a porta em frente meu corpo, mas quebrei a unha e uma ferpa entrou num dedo.

O que havia feito eu em vida para merecer aquilo: acordar vivo dentro do caixão depois de ser enterrado?

Após gastar todas as minhas energias tentando ser notado, só me restava sofrer aquela terrível experiência. Sabia que dali não escaparia com vida, eram meus momentos derradeiros neste mundo.

Sempre tive enorme medo da solidão. Não conseguia viver longe dos amigos ou da família. Sempre tive medo da escuridão. Quando ia dormi, sempre deixava o abajur na minha cabeceira ligado, e sempre tive medo da morte. Essa eu sabia que não tinha como enganar.

Agora me encontrava ali, numa enorme treva, sem nenhuma fenda de luz, sem nenhuma companhia, ou pior, apenas na companhia de mortos. Estariam eles também acordados em seus caixões?

Não havia luz, não havia vozes, nem calor humano, nem esperança, nem fé. Apenas um homem esperando quando aquilo tudo acabaria...

FIM

Higor Santos
Enviado por Higor Santos em 07/02/2019
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