Ônibus Errado

Eu acho uma droga pegar ônibus, pelo menos a essa hora da noite com certeza irá estar vazio. Mas o que posso fazer? Eu não almoçei antes de sair de casa, e logo que cheguei no trabalho não tive tempo nem para tomar uma água, quem dera tirar meu horário de janta. É fim de ano e por essas épocas as coisas ficam bem corridas por lá, e por causa disso além de não ter tempo para nada, tenho que fazer hora extra quase todo dia. Assim optei vir de ônibus só hoje, e usar o dinheiro do meu Uber para comer algo lá mesmo, como é a melhor e mais famosa lanchonete da cidade, pude ter uma refeição deliciosa... pelo menos isso.

Meu chefe me disse o local para esperar o ônibus, ele falou que era o único lugar que passa corujão ali por perto. Era um pouco distante, mas deu para chegar numa boa usando meu gps.

E cá estou eu, esperando...quase...dormind...

*BZZZZZZZZ BZZZZZZ*

A moça retorna de seu breve cochilo e pega o celular de dentro da bolsa.

"Volta logo, estou preocupado.

O filme que íamos ver já acabou..."

Droga, até tinha esquecido que combinei de ver aquele filme no telecine quando eu voltasse.

"Desculpe querido, tive que ficar até tarde de nov..." - A moça escuta o barulho de ônibus se aproximando e volta a digitar. - "O ônibus já está vindo, logo a mamãe ta em casa."

Ao enviar a mensagem, o ônibus já estava em minha frente, parado e com as portas abertas. Não tinha dado sinal nem nada para ele parar, porém pelo horário e por eu estar aqui no banco sentada, o motorista deve ter presumido que eu fosse ir com ele. Bom, eu prefiri não questionar muito, apenas subi.

Me surpreendi com a quantidade de gente ao entrar, estava quase todos os bancos com passageiros, não fazia ideia de que tanta gente que andava de ônibus por aquelas horas, mas acho que deve ser por que é final de semana.

Logo vi um banco vago e me sentei, encostei a cabeça na janela e fechei meus olhos...E relaxei...

O onibus parou novamente, nesses momentos se eu dou uma cochilada, eu sempre acordo. Entra uma senhora que parecia ser bem simpática, como ao meu lado era o único lugar sobrando, preferi não ficar muito a vontade e ocupando tanto espaço no banco.

- Olá jovenzinha - Diz aquela senhora enquanto senta ao meu lado. Jovenzinha ? Sei que não sou velha, aliás tive filho bem cedo... mas mesmo assim faz tempo que alguém não me chama de algo parecido.

- Ooi... - Respondo um pouco sonolenta.

- Vejo que está exausta ... Ficou se divertindo até tarde ?

- Quem me dera... tive que ficar até agora no trabalho. - respondo enquanto volto a olhar pela janela

- Eu estou indo ver a minha amiga. - Diz com toda empolgação do mundo.

Eu não queria muito manter uma conversa por causa da minha exaustão, mas ao mesmo tempo não conseguiria ser grossa com uma senhorinha, ainda mais tão animada como ela estava.

- Nossa, a essa hora ? - Digo tentando demonstrar algum interesse.

- Sim sim, ela me disse que posso ir ver ela a qualquer momento.

- Mesmo de madrugada ?

- É que a pobrezinha ta se sentindo sozinha já que o marido não chegou ainda. - Aquela senhora faz uma expressão triste.

- Nossa, então ele deve ter um trabalho mais cansativo do que o meu.

Aquela senhora muda a expressão como se estive muito curiosa sobre algo.

- Jovenzinha... Eu acho que a senhorita pegou o ônibus errado.

- Acho que não, meu chefe disse que só iria passar o ônibus para Vila Madalena esse horário.

Ela então segura minha mão.

- Qual o seu nome?

- Err... Camila. - Fico um pouco constrangida com a situação

- Camila, desça desse ônibus agora mesmo, se não talvez você nunca mais vai voltar para sua casa.

Aquilo me arrepiou toda, só nesse momento senti o quão fria era a mão daquela mulher, meu coração disparou, eu não sabia dizer o porque porém com certeza não era para eu estar ali. A senhorinha mesmo, deu sinal para o ônibus parar, e ele parou mesmo não sendo um ponto.

Quando eu levantei, pude olhar melhor, tinha pessoas com vestes muito estranhas... algumas com roupas que pareciam ser do século passado, e todas me olhando preocupadas.

- Vai com Deus, querida. - Diz aquela senhora enquanto acena para mim.

Ao abrir a porta eu desci com tudo, nem ao menos respondi para aquela senhora. Quando pisei com os dois pés no chão, eu acordei.

*BZZZZZZZZZZ BZZZZZZZZZZ*

Eu não queria nem ver a mensagem que era, estava com muito medo que fosse novamente aquela que meu filho havia me mandado. E assim como no sonho, vou ouvindo o ônibus chegar, meu Deus será que isso vai repetir de novo? Me levanto dou o sinal e vejo o nome, que para minha tranquilidade estava escrito:

" CORUJÃO - Vila Madalena"

Ao entrar vejo que haviam pouquissimas pessoas, umas duas, poderia escolher tranquilamente um lugar para mim. Já tinha até me recuperado do terror daquele pesadelo, pois graças a ele que acordei, se não teria ficado dormindo e perdido o ônibus, só não entendia o porque do ônibus ainda estar parado. Foi quando o motorista falou em voz alta.

- Vocês dois vão vir ???

Daí pude ver, que bem atrás de mim haviam duas pessoas se afastando, e um deles respondeu

- Não

E então o ônibus começou a andar. Mas desta vez eu estava arrepiada por outro motivo. Mas ao mesmo tempo agradecida.

Alisson Evil
Enviado por Alisson Evil em 11/02/2019
Código do texto: T6572557
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