Dona Rosa

Em uma vizinhança vivia Otávio, um garoto de sete anos de idade. Ele tinha medo da vizinha, dona Rosa, apesar dela ser uma senhora adorável. Mas ela tinha uma aparencia horrenda e uma casa sinistra e as vezes recebia umas visitas estranhas. Sua mãe mesmo, as vezes brigava com ele por temer a humilde senhora.

Um dia sua babá não pode ir e enquanto vestia o garoto a mãe teve uma brilhante ideia:

-Não mamãe! Não quero!-reclamava o menino

-Não tem que querer, a Maria não pode vir e não posso te deixar sozinho!- disse a mãe severamente

-Me leva com você então, eu me comporto- insistiu

-Não pode, quantas vezes eu já disse!-dando o último nó no tênis

-A dona Rosa é chata!- disse chata para não dizer assustadora

-Não é, você vai ver- dando um sorriso-Agora vamos, a mamãe não pode se atrasar!- disse estendendo a mão ao garoto, que levantou emburrado.

A casa da velha era ao lado da de Otávio, era cheia de plantas na varanda e terra por todo o chão, era um horror.

A mãe bateu na porta. A primeira vez não se ouviu nada, mas na segunda um estrondo no interior.

-Dona Rosa?-gritou a mãe preocupada e um som de dentro veio como resposta:

-Já vou!- respondeu com aquela voz grossa. Esperaram um pouco até que a porta abriu:

-Oh Vanessa! Minha filha que bom te ver! Quanto tempo!- anunciou a senhora com a boca banguela e deu um abraço na mãe

-É...eu vim...

-Tavinho! Como ta grande!- e embrulhou um abraço apertado no garoto que se respirou fundo para não gritar e sentiu um cheiro podre de cigarro vindo dos cabelos brancos da velha

-Entra!-convidou

-Eu to indo trabalhar, eu queria ver com a senhora se o Otávio não pode ficar aqui até eu voltar?-perguntou Vanessa, que quase instantaneamente recebeu a resposta:

-Mas é claro que pode!- respondeu a ela, pegando no ombro do menino- A gente vai se divertir e muito! Não é!?- e olhou com aqueles olhos envelhecidos e arregalados para o garoto que soltou um fraco e medroso:

-Sim...- e a velha riu

-Mas que horas você vem?-perguntou dona Rosa à mãe

-Eu saio as 20:00, porque, algum problema?

-Não, tudo bem, é que eu tenho um compromisso mais tarde!-falou

-Então filho, se comporta tá?

-Ta bom mamãe...- e deu um abraço

Ao entrar na casa, notou um cheiro forte e fedido, só podia ser o cigarro da véia.

-Fica a vontade querido- falou a senhora adocicando aquela voz grossa- Só vou arrumar o porão aqui e já volto e o deixou sozinho na sala.

Ela se vestia como uma bruxa, pensava Otávio, era um vestido longo todo preto. Quando falava cheirava fumaça como a casa, que era assustadora. Tinha uns retratos estranhos na parede com umas fotos velhas. Não tinha tv, só livros nas estantes e uma mesa de centro no meio. Sentou-se em uma poltrona, esta não cheirava cigarro, pelo contrário, cheirava perfume.

Ficou muito tempo sentado olhando pra estante, olhava ao redor e pro corredor com medo da veia aparecer. Mas esperou tanto tempo que ficou entediado.

Nas estantes, haviam vários objetos, Otávio ficou fascinado com uma caneta tinteiro com uma pena, com um relógio cuco, que esperou tocar para ver o passaro, alguns dados de madeira, uma estatua assustadora de uma mulher com chifres, algumas pedras brilhantes que ele jurou ser diamantes.

No comodo havia uma janela só, dava pra ver sua casa dalí, ele queria voltar, a qualquer instante poderia aparecer a dona Rosa.

E lá vinha ela, Otávio escutou seus passos pesados vindo do corredor, correu até a poltrona e ficou quieto

-Demorei?-disse a velha quando chegou, deu uma gargalhada, com medo Otávio fixava os olhos nela- Ta com fome bem?

-Nã...não senhora!

-Ah eu preparei uns biscoitos muito deliciosos! Venha comer!- e estendeu a mão ao garoto e ele pegou e ela agarrou, sentia aquelas unhas enormes encostarem na mão dele.

A cozinha era grande, tinha uma enorme lareira e um fogão velho, devia ser para cozinhar as crianças, pensou Otávio

-Pronto, aqui está!-disse a velhinha colocando a assadeira cheia de biscositos de chocolate recém tirado do forno-espere esfriar, não vai querer queimar essas mãozinhas!

Depois de comer e tomar um copo de chá, Otávio tomou coragem e perguntou:

-Po...porque essa poltrona cheira perfume?- e dona Rosa olhou pra ele surpreendida

-Ora, já estava pensando que era mudo!- e gargalhou, assustando o garoto-Não se acanhe! Essa poltrona era do meu marido!

-Onde e...ele está?

-Ele morreu a muito tempo-disse ela pensativa- Não faz falta não, só bebia e ficava até tarde na rua! É aquele ali

-Nossa que grande!-disse o garoto vendo o enorme quadro na parede.

Bateram na porta

-Quem será?-levantou a velha e foi a porta

-Rosa! Conseguiu?-perguntou a mulher à porta

-Não ia vir só oito horas?

-Conseguiu?-tornou a perguntar

-Não, vamos usar galinha!-disse dona Rosa

-Não, sinto cheiro de criança!-disse a outra-Você conseguiu Rosa!

-Não, esse não!

-Sim, esse vai servir!

-Não vai! Estou cuidando dele!

-É claro não pode deixar o jantar escapar!

-Olha aqui!-apontou a faca no pescoço da outra- Se encostar nele, quem vai ser jantar vai ser você!- espantada a outra responde

-Tu...tu...tudo bem Rosa!

Os burburios na porta fez com que Otávio espiasse, a outra mulher era tão feia quanto dona Rosa, era alta, magra e nariguda. Ficou assustado e voltou a poltrona.

E lá viam elas:

-Você deve ser Otávio!-disse a mulher

-Sim-disse o menino

-Meu nome é Agnes, prima da Rosa- e olhou pra velha que deu um sorrisinho

-Tavinho, vái brincar no quintal! A gente vai conversar coisas de adulto!-disse a senhora e menino foi, seus pais sempre tinham essas conversas, porque não podia ficar e nunca soube o porque não podia ficar.

Uma hora mais ou menos se passou, Otávio brincava num pé de laranja, quando Agnes apareceu na porta:

-Querido venha, Rosa esta chamando!-avisou a magrela mostrando os dentes num sorriso falso que Otávio logo desconfiou, mas desceu mesmo assim.

Atordoada Rosa acorda caída no chão da sala, com uma dor de cabeça e ouvindo gritos debaixo do chão:

-Agnes!-sussurra e se levanta meio mancando começa a correr até o porão

Agnes segurava Otávio sem roupa por um dos braços, já que o outro já faltava e fazia agora parte da sopa dentro do caldeirão. Ele gritava por ajuda, até que Rosa apareceu:

-Agnes! O que eu disse!- e tornou pegar a faca, crescendo esperança nos olhos do menino

-Rosa espera!-gritou Agnes que se esquivou e por pouco da facada- Você não vai querer devolver o garoto faltando um pedaço né?

Rosa parou um pouco ainda brava, o garoto no chão assustado olha pra duas.

-E a mãe dele?-derrepente pergunta dona Rosa

-Matamos também!-responde Agnes com certas delicadeza.

Otávio então corre, escorrendo sangue e fraco, sobe as escadas, atravessa a casa e quando ia alcançar a maçaneta ele sentiu a ponta da faca entrando nas suas costas e saindo pela barriga.

Hoganes Molva
Enviado por Hoganes Molva em 11/03/2019
Código do texto: T6595041
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