O Apartamento 283
Agora também a chave do carro havia sumido. Logo hoje que Carla levantara atrasada para a entrevista marcada às 7hs. Ela não podia perder esta oportunidade de emprego, uma vez que as contas, e principalmente o aluguel do apartamento estavam mais que vencidos.
— Droga, onde está maldita chave — dizia ela enquanto procurava em todos os cantos possíveis do seu minúsculo apartamento — Vou me atrasar, merda vou me atrasar.
Não era a primeira coisa que sumia dentro daquele apartamento. Depois do divórcio, as coisas começaram a sumir com frequência. Primeiro o anel de casamento, depois o álbum de fotos, e depois coisas menos importantes como roupas intimas e bijuterias. Agora, a maldita chave.
Ela poderia jurar que eram apenas alucinações até Ivan, o sindico lhe contar que havia uma maldição naquele apartamento 283. Todos morriam suicidados alguns meses depois de se hospedar ali. Talvez por isso o aluguel fosse tão barato. Ela nunca acreditara muito nessas coisas, mas depois que as coisas começaram a sumir e a bebida não era mais o suficiente para mantê-la chapada, Carla começou a sentir muito medo.
Mas agora ela tentava tirar toda essa história de sua cabeça. Não fazia sentido. E estava atrasada.
— Seja lá quem esteja brincando comigo. Eu não tenho medo. Ouviu? Eu não tenho medo.
Ela riu da própria ignorância. Estava falando com as paredes agora? Então sentiu o lugar ficar frio de repente e a os dedos das mãos formigar.
— Deveria — alguém disse, mas a voz parecia vir de um lugar muito longe, como que do outro lado da parede. — Este apartamento é meu. E você não deveria estar nele.
Os pelos da nuca de Carla se arrepiaram.
— Quem é você?
Duas mãos agarraram o pescoço de Carla. Eram mãos frias e descanadas. Pareciam mortas.
— Seu pior pesadelo — disse a criatura desprovida de carne a sua frente.
Carla conseguiu se soltar das garras mortas do maldito ser e correu para a porta que milagrosamente estava aberta. Ela respirou fundo e pensou estar salva...
Quando despencou do décimo terceiro andar do prédio.