vida de miserável

Naquela maldita avenida caminhei durante a noite. Já passava das 23:00, a matéria de cálculo sempre me deixava maluco, saia sempre depois do horário. O problema maior é ter que caminhar nessa escuridão.

Cheguei no ponto e aguardei o último expresso passar, logo que chegou, meti o capuz e fiquei no fundão apenas esperando meu ponto chegar. Desembarquei mais ou menos 23:30, morava em um barracão numa rua sem saída. Geralmente não tinha comida, então eu pegava com a tia Sida. Ela sabia de toda a história da minha família. Meu pai nos deixou após saber que não conseguiria pagar a hipoteca. Infelizmente, ele catou a grana que tínhamos e meteu o pé! Minha mãe sempre fora viciada em cocaína, saia de madrugada com o destino as bocas de fumo tentando saciar sua vontade.

A Sida, oh Sida! Meu anjo da guarda, fazia um pão caseiro junto de café preto e assim deixava na mesa, todos os dias, esperando por mim. Ela foi amiga da minha mãe, na verdade ainda é, mas não faz muita questão de conversa com ela. Minha mãe nem fica em casa. E também, a situação atual não ajuda.

Voltava eu da aula esperando pelo delicioso pão de casa. A barriga roncava, até doía de tanta fome, porém quando cheguei, não havia nada sobre a mesa, pelo contrário, a casa de Sida estava toda virada e ninguém estava presente.

De imediato pensei na minha mãe, com toda certeza estaria envolvida nisso. Sai as escuras rumo a boca de fumo que tanto ia. Ela mesmo me levou algumas vezes, eu ficava lá jogando cartas com uns estranhos enquanto ela cheirava até não aguentar mais, depois disso se trancava com qualquer cara em um quarto e fazia sexo. Já não era estreia para mim esse tipo de coisa.

Chegando na boca, um dos marmanjos que ficava de segurança me reconheceu, perguntou o que eu estava fazendo no local. Disse que procurava minha mãe e a tia Sida. Ele deu uma leve risada e me levou ao lugar.

Era um porão, mas quando cheguei, pude notar que Sida estava presa a uma mesa e totalmente adormecida. Havia um corte profundo na região lateral. Minha mãe segurava os dois rins de Sida, parecia que estava negociando algo. Disse em voz alta para um polaco ao lado que queria pelo menos 80% do dinheiro porque havia feito o trabalho de trazer a velha para lá. O cara negou, disse que o trato era 60% e pronto. Nesse momento ambos começaram a discutir e o cara atirou na testa de minha mãe que caiu de primeira no chão, já morta. Me lembro que ele salientou

- Bom, agora são 100%.

Eu gritei e sai correndo, mas os caras nem sequer me seguiram, sai da boca e fui para casa chorar em desespero. Perdi a Sida, mulher que sempre me ajudara em tudo, principalmente na alimentação e ainda por cima vi minha mãe morrer diante dos meus olhos.

Chorei a noite toda, pela manhã não fui ao colégio, em vez disso fui a polícia e contei tudo o que havia acontecido. Estava só, não tinha ninguém para ficar comigo.

Lembro que um cara perguntou se eu estava com fome e eu confirmei, disse que estava faminto e não comia nada a mais de um dia. Ele me alimentou e disse que eu iria para o conselho tutelar.

Talvez seja melhor assim, encontrar alguém que cuide de mim. Se for igual a tia Sida já estarei feliz, é isso que importa.