O Andarilho

Eu estou caindo... caindo em um abismo. O Abismo da mente.

Aos poucos eu cheguei ao fundo do abismo, a queda pareceu durar séculos, mas eu emergi durante um dia. Eu olho para os lados em busca de algo que eu conheça, só vejo a copa das árvores iluminadas pela luz fraca da lua. O vento aqui embaixo é gélido e silencioso.

Eu me encontro em um caminho que parece levar à uma clareira onde a luz da lua brilha mais forte. Por este caminho eu identifico resquícios de outras vidas perdidas, talvez as que eu pudesse ter tido, talvez as que eu consegui escapar. Conforme eu me aproximo da clareira eu consigo visualizar algo deitado bem no meio, é um cadáver no início do processo de decomposição.

É o meu cadáver. No fundo da minha mente eu estou morto.

Eu acho um lugar para sentar e pensar em todas as escolhas péssimas que fiz. Sento para pensar, também, nas ótimas escolhas que fiz. E não encontro respostas para as dores que sinto, e não encontro respostas para as alegrias que sinto. Estou olhando meu próprio cadáver decompor, não sei o que deveria estar pensando ou sentindo.

Eu não sinto mais as lágrimas escorrerem através de meu rosto, apesar de saber que estão caindo. Sei de tudo que deveria ter feito, as coisas que demorei a fazer. A minha adolescência. Sei de tudo e estou entendendo porque me atrapalham nesse exato momento de minha vida.

Ao ter esse devaneio, sinto algo muito forte me puxar e minha cabeça começa a doer muito. Estou sendo retirado desse abismo e enquanto isso acontece, eu olho para baixo e vejo minhas lágrimas refletirem a pálida luz da lua. Eu estava chorando dentro de minha mente. Eu estava chorando dentro do fundo abismo que é a minha mente.

{03/06/2019}

Texto com base no que escrevi em 2016/2017.