Caminhantes

Desde criança que eu vejo essas coisas. No começo não entendia direito, achava estranho, cheguei a ter medo muitas vezes, mas hoje aprendi a conviver com isso... Afinal não é todo mundo que pode sair por aí falando que os mortos passam toda noite em frente a sua casa.

Sempre que vai aproximando-se da meia noite o espetáculo dos mortos que andam começa. Não me perguntem sobre as causas e os motivos, pois não saberia dizer-lhes. Sim, somente eu posso vê-los. Nunca ninguém os viu. Descobri isso ainda criança, pois certa vez íamos saindo para viajar de noite e percebi que nem minha mãe, nem meu pai e irmãos viam nada. E olha que vários mortos passaram bem ao lado deles.

Eles sempre caminham em silêncio, nunca olham para os lados, não conversam entre si. Seus rostos possuem expressões fechadas, sinto que eles carregam consigo algo que não sei dizer o que é. Nunca vi algum deles rindo ou chorando. As roupas que cobrem seus corpos são de todos os estilos, acredito que eles são de todas as épocas da história humana.

Certa vez tentei segui-los para ver aonde eles iam. Uma decepção. Sempre que dobrava a esquina eles desapareciam Para onde esses caminhantes vão?

O tempo seguiu seu destino imutável... Aquele menino que via os mortos passarem na frente de sua casa hoje caminha entre eles. Eu agora sei dizer o que virá depois da esquina.

Aqui estou eu passando em frente de minha casa. Ela está bem velha agora, as paredes estão sujas e descascadas. Outras pessoas devem morar nela agora. Será que haverá um outro garotinho morando lá e que irá ver-me caminhando na rua?

Sigo a minha sina. Daqui a pouco dobrarei a esquina.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 16/06/2019
Reeditado em 26/03/2024
Código do texto: T6674426
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