O Sabor Da morte

     Naquele caminhão do exército estavam jovens, entre o aglomerado, o jovem Robson que seria lançado em uma das barricadas. As barricadas são sacos de areia, que previamente eram dispostas em forma de muralha, e os jovens, posicionado em trincheiras para combater na batalha que estava ocorrendo.
     Havia neste cenário de guerra outras barricadas que eram desníveis sejam estes, tipos de buracos, envoltos a arames farpados onde os jovens ficavam a modo de proteger o território de defesa. Era este o cenário que esperava nosso Robson. Ele escutava o terror da guerra, gritos e disparos, entre cada trepidação daquele caminhão que parecia levar uma boiada ao matadouro.
     Em meio a descrição, Robson aguardando a sua vez de ser depositado naquele cenário cruel.
     — Amizades?
     Nem se conseguia fazer,pois foram 6 exaustivas semanas de treinamento para a guerra. Naqueles momentos intermináveis Robson sabia que era crucial estar preparado, sendo assim, ele entendia que cada coronhada, cada ofensa em forma de menosprezo.
     Cada ato de fraqueza da sua parte, iria ser ele o próximo a sucumbir. A maturidade era algo longe do corpo de Robson mas precisava estar bem idealizada no seu coração.
     O corpo sofria as mazelas do desespero da seleção natural onde separava os fracos dos fortes, Robson precisava ser forte, isto dependia a sua vida.
     Neste momento, ele orava mentalmente naquele caminhão, o pânico e o pavor precisava ser controlado, ele olhava para o lado, cada um com a sua arma que lhe servia de apoio, e rostos que expressavam lágrimas contidas, e olhos que pareciam vidros e espelhos uns para os outros.
     Era uma sensação apavorante: o barulho, o suor e os gritos ignóbeis do veterano para os preparar os novatos a serem lançados a fora deixavam os jovens hostilizados.
     — Seus frangos, fracos! Sobrevivam!
     — Sobrevivam!
     Robson conseguia olhar para fora do caminhão e entendeu o que era a barricada, as jarradas de tiros, era um caos.
     O propósito da Missão era afugentar o inimigo e para isto várias barricadas Onde estavam os jovens inexperientes como o novato. Robson observava os tiros aleatórios e desesperados. os inimigos estavam adiante eram de outra cor o uniforme...
     O caminhão parou, em um determinado local, Robson fechou os olhos e orou. Um jovem em meio ao pânico, gritou:
     — Não, não pelo amor de Deus não!
     Foi o primeiro a sair, foi o primeiro a ser abatido.
     Um veterano disse:
     — Sejam unidos, sejam unidos! E desceu os jovens que precisavam ser rápidos, o desnível faziam presas fáceis das rajadas ao horizonte, Robson disse:
     — Meu Deus não!
     Agora ele para fora do caminhão, ele sentiu um tiro passar próximo, em um ato involuntário, ele disparou também.
     O caminhão se foi, estava Robson só, só não, estava com companheiros, todavia parecia-lhe só, uma brisa fraca, e um chuvisco caia, os gritos eram de horror, era uma barricada que já dominada pelo inimigo.
     Robson se posicionou melhor, ajeitou os sacos de areia e ficou a pronto, ele olhou a outra barricada, dominada, estava a frente, os jovens sendo mortos isto era óbvio a movimentação quietou-se por lá, e veio uma tropa que era protegida por escudos.
     Os inimigos agora indo em direção a aquela barricada, abandonada de proteção. Robson atirava, de modo a proteger os até então companheiros, de nada adiantou, a tropa era hostil, eles estava indo "depenar" aqueles vencidos.
     Robson entendeu que seriam eles os próximos.
     Os tiros eram rajadas. Robson participava de cada rajada. Olhava ao horizonte e sentia que de vez em quando um grito de horror significava que acertara o alvo.
     O número na sua barricada estava diminuindo, uns gritavam:
     — Socorro! e o sangue jorrava em meio ao cheiro de pólvora. Robson estava centrado, e precisava manter-se assim. Mas os tiros eram constantes e o desespero geral.      O número estava reduzindo. O Massacre era evidente, Robson observou isto. Todos massacrados.
     Os tiros davam-se em vários locais e acertavam aquela barricada. Robson estava vivo. O sangue dos companheiros em algum momento esguichou-lhe na cara.
     Robson entendeu. Era o fim, aqueles que dominaram a barricada na sua frente, estavam a caminho. Ele naqueles momentos de observação entendeu como proceder. E assim o fez.
     Em meio aos mortos, estava Robson ele estava vivo mas precisava parecer morto.
     Era a sua sobrevivência que dependia daquele ato. Se escondeu embaixo de um corpo e fechou os olhos, a tropa inimiga estava a caminho. E a vida de Robson estava em perigo. O massacre estava prestes a ser concretizado.
     O que era um chuvisco agora se tornara uma chuva intensa, isto ajudou um pouco Robson ele estava exausto, arranhado, o corpo dolorido e com sede, abria a boca para sugar a água que caia, e com os olhos fechados precisava controlar a respiração, os corpos que estava em cima dele, dois companheiros, já estava sem vida, e ele precisava deles para esconder-se, eram três soldados inimigos que estavam fazendo a revista naquele lugar, a chuva estava bastante torrencial, quando sugava a água,      Robson sentia um gosto de ferro fraco na boca, ele sabia exatamente o que era, sangue, não lhe importava, ele definia aquele sabor como o sabor da morte.
Era lhe o fim.
     Os soldados se aproximavam. Um era bem sátiro, estava com uma espécie de arpão (é uma lança utilizada desde a pré-história geralmente utilizada para pescar. Em princípio a sua ponta é separável do corpo quando atinge a presa, no entanto esta era fixa e servia para abater as vítimas) ele enfiava no soldado morto como um divertimento, ele fazia de modo aleatório. E isto estava apavorando Robson que abrira os olhos e observava quão cruel era o ato.
     E estavam se aproximando.
O silêncio era quebrado somente pela chuva e pelo barulho que aquilo fazia. Para Robson lembrava os dias de domingo quando sua madrasta cortava melancias para servir aos irmãos da igreja, era o mesmo som. Mas para ele era algo cortante e real.
     Um agoniava na frente, parecia que estava com uma fratura exposta. O sátiro soldado enfiou-lhe o arpão e riu, os outros dois estavam recolhendo as armas que levavam em uma espécie de carrinho. Duas rodas que parecia uma caixa de um metro e meio, onde já tinha algumas armas. Um disse:
     — Vamos logo com isto, esta chuva esta engrossando cada vez mais. E os três se apressavam. Os tiros já haviam cessado. somente a chuva e aquele barulho do arpão trepidando aqueles jovens corpos abatidos era ouvido ali.
     Robson tentava controlar o pânico, não conseguia, os dois corpos que estavam em cima dele estava lhe apertando, ele sabia mais do que nunca que precisava ficar inerte, sem se mover. Mas não conseguia. — Não conseguia. E veio o movimento e foi brusco.
     Um gritou: — Tem alguém vivo logo a frente. E Robson movimentou um dos corpos que lhe servia de proteção e esconderijo, agora era somente um.
     Os três soldados apressaram o passo, mas era outro jovem, que foi satiricamente abatido bem próximo a Robson, agora livre de um corpo, Robson conseguia se manter calado, e assim o fez, os três soldados passearam na frente dele. um arpão veio e enfiou-lhe no soldado que estava em cima.      Robson sentiu que o arpão transpassara o corpo sem vida e chegara em partes da sua costela, graças a Deus o impacto foi amortecido, porém o corte foi sentido por      Robson. Os três deram risadas, observaram uma luz ao horizonte, correram dali.

          "O desespero da morte"

     A chuva, aquela luz, eles conseguiram observar me aqui? Não consigo manter os olhos abertos...
     Será que alguém vai vir me socorrer? Eu estou com sono, o sangue esta ensopando meu uniforme de exército, este gosto de sangue na minha boca...
     — Ei aqui! Se ao menos conseguisse gritar para eles. Parece-me uma mulher, a luz vem de lá. É um carro. Meus olhos estão pesando...
     — Preciso gritar, eles precisam saber que eu estou aqui!
     O gosto do sangue refresca a minha boca, a chuva refresca o meu corpo. Meu Deus a morte, que situação terrível estou vivendo. Meus amigos estão mortos envolta de mim. E parece que eu serei o próximo...
     — So-co... Não consigo gritar, não consigo me mover, eles precisam saber que estou aqui, eles precisam salvar a minha vida. Eu não quero morrer neste lugar....
     — Socorro, o pedido sai fraco, a luz parece estar se aproximando. Deus, não me desampare, me socorre Deus... Os olhos do soldado Robson já não conseguem se manter abertos, ele olha e vê imagens ofuscadas ele sente que o corpo já não corresponde aos pensamentos...
     O pensamento agora é na noviça, naquele momento que a abraçou, sente vivido: O abraço, os olhos e o cabelo, lembra de todos os momentos que esteve a observar no convento. A imagem vai ofuscando, ele sente-nos braços...
     Mesmo sem ver nada tenta mais uma vez gritar, ele junta todos os seus instintos para o grito que mesmo assim sai fraco, a morte já esta no gosto da saliva.
     — Socorro, pelo amor de Deus me socorram, eu não quero morrer aqui. Ele empurra o outro corpo que mole e inerte cai o jovem com a testa machucada, abre os olhos intactos com as pupilas dilatadas, Robson não as vê mas sente que estava se aproximando o momento de estar com ele.      Movimenta-se mais uma vez, parece que alguém se aproxima....
     — José, José, encontrou alguém com vida? Falava deste modo a Freira Antônia que estava fazendo o resgate naquela trincheira de guerra, José era o motorista.
     — Parece-me que não irmã, um verdadeiro massacre, tantos jovens aqui...
     A irmã passeia, fechando os olhos dos que já se encontravam sem vida, tentando encontrar entre aqueles alguém que pudesse resgatar...
     José vai a frente e observa um jovem com uma fratura exposta... Ele grita, sai sufocado o grito. — Por favor me ajuda... José chega, e observa a gravidade do ferimento, era no fêmur, o osso estava exposto, e o sangue já tinha sucumbido do corpo. José pela experiência sabia que era seus últimos momentos, a freira foi adiante escutou um ruído e foi observar.
     A chuva castigava aquele cenário apocalíptico.
José chega e apoia o jovem nos seu colo tentando nina-lo tal qual faz a criança.
     — Senhor, Senhor, eu estou morrendo, eu sinto que estou... morren..do...
José olha para aqueles olhos quase que sem vida e começa a recitar o salmos 23.
E fala ao Jovem.
     — Você acredita que Jesus é o teu salvador e aceita-o de todo o seu coração?
     — Sim acei...to...
     E a vida sucumbiu daquele jovem, o José motorista faz uma oração, nela entrega a vida daquele jovem...
     A Freira grita de longe...
  — José, corra aqui tem um jovem precisando de ajuda, esta com uma hemorragia muito grande, socorro José!
José olha para o jovem, que finaliza o processo tremendo o corpo em um ultimo sinal de vida... José chora, não conseguia suportar ver aquela cena e disse: — Senhor tenha misericórdia desta vida....
     Deixa-o fechando os olhos dele...
Agora esta a caminho da freira Antônia. Cabe informar, que Antônia é a Madre Superiora de um convento das redondezas e José estava servindo como motorista. Os dois tinham esta incumbência de ir ao campo de batalha para buscar os que sobreviviam para trazer para o hospital de campana que nos mesmos moldes, foi feito em vários conventos daquele lugar.
     José tinha a sua motivação pessoal para agir assim, e sempre que possível fazia a oração e o apelo para quem estivesse no instante da morte, já Antônia era uma socorrista experiente conseguia salvar vidas, aquela dupla se fez, mesmo com divergências religiosas, em tempos de guerra a sobrevivência e o ajudar é o que motiva as pessoas a não desistirem.
     — Rápido José, traga algo para fazer um torniquete, ele esta esvaindo em sangue.
A freira pegava o jovem e tentava medir o pulso, não o encontrando.
     — Meu Deus tenha misericórdia desta alma... Rápido José. José corria, em meio aos tropeções em entulhos, corpos e muita madeira daquele lugar inóspito parou e rasgou de modo desesperado uma roupa de um abatido soldado, sabia exatamente o que estava fazendo pois já havia feito antes precisava de um pedaço relativamente grande para estancar o sangue da tal hemorragia.
     A freira apertava o ferimento para fazer o sangue parar de verter.
A chuva dificultava as coisas, mas deixava o ambiente pelo menos ventilado.
     — Meu Deus, estou perdendo ele! Disse a freira pegando rapidamente o pano para fazer a compressa no ferimento e estancar o sangue.
José olha ao rapaz, e vem um grito de desespero...
     — Meu Deus!
A freira olha e começa a rezar... Continuando o seu trabalho
     — Meu Deus, não, Meu Deus!
A freira se assusta entendendo que a reação do motorista era um tanto quanto exagerada, ele já era acostumado com tais casos, até piores, tendo em vista que os dois faziam recolhimento dos corpos por diversas vezes em outras oportunidades...
     — Pai, não, não deixe o ir, e chorava tentando ajudar a madre fazer o seu serviço.
     — Calma, José é apenas mais uma alma sofrida desta guerra, somente isto.
— Não irmã... Este é o Robson meu filho!


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Conto de terror realismo Guerra
Autor; Waldryano


Observação do autor:

Esta passagem em formato de Conto, de um livro que escrevi no Wattpad. Nele há uma guerra, ambientalizado na 1 guerra mundial. Freiras, Pastores e soldados, são retratado neste livro.

Formatação editado no aplicativo Pure Writer
Waldryano
Enviado por Waldryano em 08/07/2019
Reeditado em 20/07/2019
Código do texto: T6691398
Classificação de conteúdo: seguro
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