BW NÃO ENTRE

Eu sentia ânsia por aquelas paredes e por isso nunca ousava entrar lá. Um cheiro estranho vinha de modo que me fazia tremer até mesmo os pelinhos do pé, eu nunca entraria naquele lugar, nunca, nunca e nunca.

Sempre que eu deitava procurava me distanciar do som que saia daquele cubículo, eram ruídos estranhos e sons de ratos e o andar de baratas, era muito nojento tudo aquilo. Na madrugada, parece que piorava e eu podia imaginar todo tipo de atrocidades; aranhas, minhocas, cobras, ratos, lacraias. Poderia até ter um animal lá! Disso eu não duvido nada. Mas meu papai me achava bobo e nunca me ouvia quando eu relatava esses sons de noite vindo daquele banheiro horrível; e toda vez ele ria e me chamava de bobo falando que eu imaginava de mais. Eu sabia que tinha algo ali.

Numa noite diferente de todas as outras, eu não só estava ouvindo sons de insetos nojentos naquele banheiro, mas também uma risada estranha, uma risada diabólica e num tanto tentadora; pensei em me levantar e ir para a cama do papai, mas sabe, ele não gostaria nada daquilo. Eu tinha que enfrentar esse medo! E papai estava certo, tudo era parte de minha imaginação. Eu voltei a dormir ignorando aquela risada, mas assim que fechei os olhos e quase estava caindo no sono passei a sentir um cheiro esquisito, lembrava esgoto mas uma coisa bem pior que podre. Lembrava algo morto. A curiosidade me matava mas o medo me dominava por completo e sempre todas as noites apartir daquela eu passei a cobrir todo o corpo com o cobertor me encolhendo. Quando eu dormia, meus pesadelos eram piores, sonhava com criaturas animalescas e monstros estranhos fazendo coisas estranhas, coisas que eu não consigo definir; e quando eu preferia ficar acordado ouvia tudo que tinha no banheiro me provocar, os insetos, a voz diabólica e os ratos.

E é claro, um dia eu tomei a decisão de entrar naquele banheiro! Tinha que mostrar para o papai que eu era corajoso. Quando caiu a noite fui à cozinha e peguei uma faca sem pontas, uma lanterna, um inseticida e botas amarelas, daquelas que a gente ver em filmes. Eu me sentia por inteiro em um dos livros de Stephen King, eu nunca li mas papai falava muito dele. Respirei fundo, vesti um casaco, coloquei o capuz, coloquei a faca pendurada na cintura com um cordão improvisado, coloquei as botas e fui andando com a lanterna em uma mão e o inseticida na outra. Eu tremia até os dedos dos pés mas estava determinado a entrar ali, por mim, pelo meu pai e pela minha mãe falecida.

Quando passei pela porta, que na verdade era um buraco da porta, já senti um arrepio interno. Era horrível! Havia um vaso perto da entrada que ironicamente era branco, estava sujo e todo surrado ao seu redor, possuía arranhões estranhos na tampa, o chão era cimento puro, mas de alguma forma molhado e nojento. A pia estava totalmente imunda e marcada com coisas pretas no ralo, parecia até mesmo cabelo de mulher; no box, ah o box era o que mais me deixou sem fôlego. As paredes eram pretas, não por tinta mas por sujeira e lodo, algumas áreas estavam descascando e tinha insetos nela! Lacraias andando pra cima e pra baixo. O chuveiro estava todo mundo e revestido por teias de aranhas que eu me perguntava onde estavam suas donas, e no chão, no chão eu avistei o que me fez ficar paralisado. Entenda, o banheiro fedia, o banheiro sempre fedia! Meu pai jamais entrava ali desde que eu nasci. No box daquele banheiro eu avistei moscas varejeiras, muitas delas! Circulavam um crânio sujo. Me dava vontade de vomitar, e tudo que eu queria era sair daquele banheiro o mais rápido possível. Mas eu senti um ar estranho quando tentei recuar, um toque no meu ombro e aquela mesma risada diabólica

Eu me virei rápido, não para ver o que tinha atrás de mim mas para sair correndo chorando dali! Porém, quando eu me virei contudo, tinha uma mulher me encarando. Ela fedia junto com todo aquele banheiro e não possuía um dos olhos, e na sua cabeça tinha uma faca presa no lado direito. Eu não sabia como sair dali, sentia o suor descendo por todo meu corpo e aquela coisa tava me encarando; era meu fim com certeza! E papai nunca mais me veria!

Eu queria fechar os olhos e acordar! Imaginar que aquela péssima ideia não tinha vindo de mim. E para piorar, aquele cadáver estendeu sua mão e tocou meu rosto. Eu não me mechia, não conseguia, e ela simplesmente olhou meu rosto com todas aquelas moscas voando e me disse "ele vai matar você também".

Sabe, não importa o quanto eu conto isso, eles nunca acreditam em mim. Eu achei que contando isso a você iria tirar um fardo de mim, mas não. Eu sei que estou condenado a morte. Eles nunca vão acreditar em mim e me taxam como louco! Depois que sai daquele banheiro, meu papai me esperava na porta e eu simplesmente apaguei, e BUM! Acordei em um lugar onde o branco é mais branco que o céu, e todo mundo sabe que o céu não é branco. Acordei em um hospício diagnosticado com esquizofrenia e paranóias psicóticas, dizendo meu papai que era hereditário por parte de mãe… toda noite ouço aquela risada daquela mulher. Me pergunto hoje se ela era minha mãe, se irei terminar como ela.

Chegou a hora, estou ouvindo as moscas e as lacraias vindo!

Murilo Feliciano
Enviado por Murilo Feliciano em 18/07/2019
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