O quinto pecado

Hoje está fazendo um ano que Murilo desapareceu. Ninguém sabe dizer o que houve. Uns achem que ele sumiu por causa de alguma mulher, outros acham que ele aprontou alguma com alguém e resolveu dar um tempo da cidade, há até aqueles que acham que ele se encheu da mesmice de Serra Negra e decidiu ir aventurar-se em outro lugar.

Tudo bem que ele sempre abria a boca para dizer que um dia iria sumir de fato, mas ir embora assim sem avisar ninguém pareceu muito estranho para todos. Murilo morava só com o pai e este, para ser bem sincero, estava muito mais interessado em jogo e bebidas do que em saber por onde seu filho andava. Ele sumiu das redes sociais e seu celular só dava caixa postal. Porque ele faria isso? Era o que todos se perguntavam.

Sempre tive muitos amigos, mas Murilo era o mais especial. Acho que ele era a única pessoa que sabia o que falar quando eu mergulhava nos meus momentos de autocomiseração. O jeito engraçado e inteligente dele dizer as coisas terminava vencendo-me e quase de imediato eu estava pronto para outra.

Conheço Murilo desde o início da adolescência e sempre tive muita admiração por ele. Mais alto que os outros caras, com um rosto muito bonito e uma inteligência que o fazia sobressair-se de imediato. Como não poderia deixar de ser em pouco tempo havia um monte de meninas gravitando em torno dele. Achava isso legal pois sempre sobrava alguma para mim. Terminava que todos admiravam Murilo.

Meses depois que ele desapareceu alguém jurou tê-lo visto pegando um ônibus em São Paulo. Para muita gente isso só confirmava o fato de que ele tinha ido embora de Serra Negra e deixado tudo para trás.

Nunca acreditei que Murilo tenha ido embora. Ele nunca deixou a cidade, pois está enterrado esse tempo todo ao pé de um pequeno morro logo depois que eu o matei.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 16/11/2019
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