O Desconhecido

Não sei de onde eu consigo tirar forçar todos os dias para aguentar tudo isso. São sete horas da noite e estou saindo do trabalho. No metrô assim como eu há pessoas que estão fartas de sua rotina diária e tentam esconder num sorriso toda sua frustração.

Lar doce lar, essa é a melhor parte do dia. Passo na minha caixa de correio para checar e sigo posteriormente em direção ao elevador. Está tocando uma música bastante agitada se comparada as que se escuta em elevadores (risos), eu descanso meus olhos por uns segundos e sou surpreendido com um homem de sobretudo que impede a porta do elevador de fechar. Nunca o vi antes, provavelmente é algum visitante, de qualquer forma eu cumprimento-o. Ele sai no próximo andar e me olha de relance ao sair. Aperto o botão de meu andar e sigo escutando aquela música, ela é perturbadora, parece querer dizer algo, mas não consegue pois eu não entendo sua língua, não é nada que conheça ou tenha escutado antes.

Ao abrir as portas me deparo com a pior coisa que vi em minha vida, é um mundo onde não há árvores nem plantas, as pessoas lamentam e estendem a mão aos céus por ajuda. Suas lamentações me causam comoção. Aqui há dois sóis que nunca dormem e nuvens que nunca surgem aos céus. Um homem se apresenta e diz que aqui é a terra de ninguém, onde os humanos mais terríveis estão destinados a sofrerem durante sua penitência. Ele menciona que aqui não é meu lugar e pede que eu siga para o meu andar novamente. Eu faço o que ele pede e vou ao meu andar novamente.

As portas do elevador se abrem e me deparo com a mais linda paisagem. Há pinheiros em volta de uma estrada pedregosa, as casas são feitas de vidros e as pessoas vestem a mais bela roupa, não há nuvens no céu daqui, apenas a luz do sol que ilumina este paraíso. Aqui não há tempo nem espaço. Os animais andam por entremeio as pessoas enquanto os pássaros repousam em suas costas. As pessoas realmente são felizes aqui. Um homem se aproxima e me diz que aqui não há tristeza e angústia também, ele me diz que as pessoas que se encontram aqui são aquelas que seguem seu coração, e sua alegria abastece o sol e a lua. Eu lhe pergunto se há outra realidade que eu poderei visitar e preencher minha curiosidade, ele me diz que há outra, porém nunca ninguém voltou para contar história. Mas segundo ele as lendas dizem que é onde a riqueza do mundo é guardada e os deuses a vigiam. O homem ao meu lado diz que não deveria empenhar-se a ir em seu encontro, pois aqui não há ouro, mas há felicidade, e isso é o mais importante na vida. Porém, eu sou humano ainda e eu gosto do ouro.

Havia um bilhete em cima do número do último andar. “Para a terra da riqueza. Aos novos aventureiros, boa sorte”. Ao abrir as portas me deparo com algo que nunca vi, havia cores que nunca presenciei em minha vida, não sei nem como descreve-las. As ruas são de ouro e as calçadas de granito. Ao fundo sobre a montanha há um templo feito de rubi com teto de todas as pedras preciosas que esse mundo pode portar. Os bancos são feitos de salgueiro e as mesas de carvalho. Há tronos de diamante com três deuses sentado me olhando enquanto adentro ao templo. Seus corpos são mutações de animais. O primeiro possui tentáculos e a cabeça de serpente, é dito que este cuida da primeira porta do elevador que fui, a “Terra de Ninguém”. O segundo possui duas cabeças de gato e um rabo de salamandra, este cuida do “Paraíso”, onde o homem queria que eu ficasse. O terceiro possui a mais alta cadeira e fica no meio dos dois, eu não sei quais animais pertencem a seu corpo, é algo que nunca vi antes, seu corpo é pegajoso e há rastros de muco por onde ele andou, seus olhos são mais claros que o sol, e a medida que eu olho tudo em minha volta vai perdendo a forma, ao ponto de... desaparecer.

Meus olhos ardem como se estivessem em chamas, eu não enxergo nada a minha frente. Após alguns segundos tudo vai criando forma novamente e eu me sinto caindo como uma pluma, do último andar, lá em baixo vejo os carros cada vez ficando maiores ao ponto de eu poder analisar cada detalhe em sua textura.

Vejo paredes brancas em minha volta e uma luz forte em minha cabeça, meus olhos queimam. Ao fundo homens e mulheres vindo em minha direção com suas roupas também brancas, tudo aqui é tão... branco.

[...]

Lar doce lar, essa é a melhor parte do dia. Passo na minha caixa de correio para checar e sigo posteriormente em direção ao elevador.

[...]

“- Paciente número 67890-08

- Viu sua mulher esquartejada no elevador após chegar do trabalho

- Nome: Abraham Maximilian

- Altura: 1.69m

- Problema e Sintomas: Estresse pós-traumático causando alucinações severas”.

STRIT
Enviado por STRIT em 17/11/2019
Código do texto: T6796661
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