O Invasor de Velhinhas

Uma das primeiras coisas que vocês têm que saber é que: não sou escritor, apenas um “reles” criminologista forense, e o que me proponho a narrar nada mais é que um compilado de casos que participei direta ou indiretamente ao longo de minha carreira. Não esperem os eufemismos de Austen, as beligerantes introspecções de Dostoiévski ou a prosa sucinta de Hemingway. Minha escrita é nua e crua — e às vezes brutal.

Confesso que algumas situações chegam a ser estranhas e até perturbadoras, mas desde já afirmo que são todas verdadeiras e que não farei qualquer esforço para abrandá-las. Se tiver que contar que um depravado sexual decepou a cabeça da própria irmã e a levou na mochila para praticar sexo oral durante seu plantão médico, contarei. Ou que uma mãe esquartejou o filho de dois anos para não conceder a guarda compartilhada ao ex-marido, também o farei.

A realidade supera a ficção no quesito crueldade e a maioria de vocês nem imagina o quanto a mente humana é maquiavélica ao elaborar crimes, portanto aconselho aos mais sensíveis fechar este texto e ir bisbilhotar o Facebook, Instagram, assistir conteúdos no Youtube ou qualquer coisa parecida. Estas fontes fazem de tudo para agradar seus usuários; em contrapartida, minhas linhas são realistas, desprovidas da obscuridade de termos técnicos, e se vierem me criticar, simplesmente colocarei a etiqueta do FODA-SE! LEU POR QUE QUIS! no seu comentário. Simples assim.

Dito isso, o risco é de quem se arrisca.

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O Invasor de Velhinhas

Este caso teve início numa manhã de segunda-feira. Rua Dráusio. Bairro residencial do Butantã.

Doralice Penteado: rechonchuda, branca, 75 anos, vestido balonê esverdeado. Movimentava-se com andador ortopédico, consequência de fraturas no fêmur após cair dentro de casa há alguns meses. Residia na esquina das ruas Dráusio e Esperanto e teimou com a família que já podia ir ao final da rua e voltar sozinha. Calçada esburacada, estreita, arborizada. Transeuntes escassos. Os riscos eram muitos. Um neto ou a cuidadora sempre a acompanhavam no passeio matinal. 'Não sou nenhum bebê. Morei neste bairro a vida inteira. Nada vai me acontecer!', havia esbravejado.

Ela passava sob uma amoreira, atrás de uma fila de carros estacionados no meio-fio, quando uma mão fedendo à graxa tampou sua boca. A voz veio por trás, sussurrando: 'Hoje é seu dia, querida.' O homem era forte, truculento, não lhe deu chances. Chutou o andador para longe e a derrubou de bruços no chão. O vestido foi erguido, a calçola cor de pele e a fralda geriátrica abaixadas com violência. Uma mistura de graxa e cuspe foram o lubrificante, ainda assim a sodomia foi abrupta, tensa, devastadora. O pênis era descomunal, grande, grosso, violento, parecendo estar enrolado em arame farpado, destroçando a esfíncter anal da idosa, fazendo a região mutilada expelir sangue e fezes numa dor enrijecedora.

Carros transitando pela rua e pássaros cantando nas árvores. Pessoas em casa assistindo televisão, cuidando de suas plantas, tagarelando, marcando consultas médicas ao telefone. Uma adolescente deixou uma residência a uns trinta metros à frente, na mesma calçada, a atenção aprisionada pelo WhatsApp sequer permitindo que olhasse à volta.

E.

A imobilidade do corpo indefeso jogado ao chão. O fedor e a coloração asquerosa se acentuando sob as repetidas invasões. Subjugar e perverter a moralidade (oculto) à vista de todos. Isso acariciava seu ego depravado, doentio. Mas ainda não era o suficiente. Desferiu o primeiro soco na cabeça da pobre coitada e depois outro, arrancando-a do estado catatônico infligido pela dor. Ela reuniu forças. Reagiu, se sacudindo. Tentou gritar, livrar-se daquele tormento. E era em vão; pelo contrário, acrescentava mais prazer à memória distorcida do agressor. O clímax. Uma profunda estocada. A ejaculação. O líquido espesso saiu escaldante como lava, fazendo-a chorar num berro estrangulado e inaudível.

O agressor se levantou devagar, ajustou as roupas e urinou sobre a idosa. Em sua contagem, nada mais que três minutos de satisfação; à vitima, anos e anos de constantes pesadelos, fuga da realidade — até a ruptura, o suicídio.

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O Apreciador de Velhotas é de longe o caso mais terrível de minha lista, mas decidi iniciar por ele pelo seguinte motivo: moro na Rua Dráusio e tenho uma tia-avó beirando a idade de Doralice Penteado, inclusive as duas eram amigas.

É péssimo admitir, entretanto por mais intenso que seja os esforços da polícia civil e militar, o maníaco cometeu outros três estupros, evoluindo o grau de violência entre eles, e ainda continua à solta. Dois anos e não conseguimos sequer identificá-lo.

E sabem o que é mais alarmante? A perversão sexual o faz cometer loucuras, porém ele não é louco. O patife conhece intimamente o bairro e a rua dos ataques, incluindo os moradores e suas rotinas, visto que a segunda agressão ocorreu quatros meses após o ataque a Doralice e também à luz do dia.

Sentada sozinha no banco traseiro do antigo Volkswagen, a octogenária Magnólia Porto aguardava o retorno da neta, quando o indivíduo o invadiu, surpreendendo-a. Brutalmente agredida e sodomizada, teve o rosto desfigurado por socos e diversas vértebras quebradas. A moça levava a avó ao médico duas vezes por semana para tratar de problemas gastrointestinais e tinha o costume de tirar o veículo da garagem e estacionar no meio-fio para aquecer o motor a álcool. Quando voltou, quase teve uma sincope ao encontrá-la naquele estado.

E eis que o caos teve início, afinal pensava-se que o bárbaro ataque a Doralice tinha sido aleatório (e, por razões particulares, a própria família fizera questão de ocultá-lo — tal comportamento parece estranho à primeira vista, mas não é fácil compreender que o estigma do estupro pode ser ainda mais vexatório que um crime de morte violenta) e com aquela ocorrência já se falava em estuprador serial.

Durante seis meses a Rua Dráusio e arredores se transformaram numa espécie de campo de guerra, com guaritas de segurança privada sendo implantadas, árvores ganhando poda para melhorar a visibilidade e câmeras de vigilância sendo instaladas em locais estratégicos. A polícia militar realizava rondas periódicas e investigadores interrogaram e coletaram amostras de sangue e saliva de praticamente todos os moradores e conhecidos.

Ainda assim, dois meses depois — isso mesmo, dois meses — Maria Lessa, uma idosa deficiente visual, teve a casa invadida e seu corpo violentado repetidas vezes, por horas seguidas. Mais tarde, não tendo respostas às ligações telefônicas, sua filha regressou mais cedo para casa, sendo dominada, amarrada e agredida sexualmente no chão da cozinha. Este ataque teve um viés trágico, porque o agressor não obteve ereção e descontou sua frustração na vítima, espancando-a com uma panela de pressão até a morte. Antes de ir embora, ainda violentou a idosa mais uma vez.

E como se todos estes detalhes não bastassem, há as malditas confissões. No segundo ataque, o pervertido deixou uma carta contando o que fez com a primeira vítima; no terceiro/quarto descreveu como conseguiu burlar a vigilância das câmeras espalhadas pela rua e alcançar o Volkswagen estacionado. Todas as cartas são cuidadosamente escritas e impressas, sem vincos ou marcas de identificação e assinadas ao final com a impressão datiloscópica da vítima anterior.

Dá para acreditar numa porra dessas? Vou parar por aqui para tentar refrescar a cabeça. Nem sei o que faremos com este sujeito quando o pegarmos. Libertá-lo no pátio da Penitenciária Adriano Marrey com o nome "Jack" escrito nas costas seria pouco. Vou dormir, já é hora. Sei que o título deste caso é chocante, mas procuro chamar o máximo de atenção possível, afinal algum leitor pode morar nas proximidades e conhecer algum vizinho em atitudes suspeitas.

Investigation Man
Enviado por Investigation Man em 19/11/2019
Reeditado em 11/12/2019
Código do texto: T6798148
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