- Como você é burra, burra, burra! - ela repetia em voz baixa enquanto desferia na lateral do crânio pequenos golpes com as mãos fechadas, empregando naquele ato desesperado toda a força que conseguia reunir. Queria sentir dor, castigar-se por ser quem era. - Eles sempre mentem e você sempre acredita, você realmente não vale porcaria nenhuma, não vale nada, por isso merece que as coisas sejam sempre assim, merece que seja mais uma vez assim.

Estava cansada de passar por aquilo, conhecer alguém, se apaixonar, se dedicar, entregar a melhor parte de si e receber de volta apenas mentiras. 

- Será que todos os homens nascem com o gene da mentira, como uma maldição? Será que é impossível ser sincero pelo menos uma vez na vida? - questionou-se enquanto observava com os olhos embaçados pelas lágrimas, sua imagem refletida no espelho, o rosto muito vermelho, a maquiagem borrada, a pele branca cheia de vergões deixados por suas próprias unhas na tentativa de se castigar por sua eterna estupidez.

Após algum tempo começou a se acalmar e só então percebeu a mancha vermelha na saia branca. Aquilo a deixou transtornada. Não bastasse tudo que tinha passado naquela noite, todas as mentiras descobertas, a a raiva e a humilhação, ainda perderia uma de suas peças de roupa preferida por culpa dele. Levantou-se decidida a ir embora e nunca mais voltar, mas antes de sair olhou uma última vez para o corpo em cima da cama. 

Trinta golpes talvez fosse um exagero de sua parte, mas com certeza ele não iria mentir nunca mais.
Fefa Rodrigues
Enviado por Fefa Rodrigues em 21/01/2020
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