Manitu

Manitu (Conto Egípcio aos deuses de Amom-Rá)

O vento soprava como os hieróglifos estampados nas tumbas maravilhosas dos faraós que jaziam mumificados, esperando o retorno do mundo das sombras.

O arauto do filho bem-amado dos deuses de Rá veio espreitar Manitu em nome daqueles inumados em poderosos sarcófagos.

Com um espasmo violento ela acordou: o intimo de sua alma foi tocada.

Seus pensamentos estavam perturbados. Foi se lembrando aos poucos os malditos sonhos que tivera.

- Anúbis, pensou ou lamentou.

Pela pena da deusa Maat ela pôs os olhos em à mão direita. Estava seca, murcha, horrível.

Manitu então se arrependeu de tocar na poderosa Caixa Mística de Anúbis, que feneceu seu membro.

“ Era uma noite erma e sombria e sob Mênfis encontrou o Tesouro dos Mortos do filho de Osíris que contem os enigmas das esferas transcendentais- o Khert-Neter.

Em seus olhos ela estava sob o domínio dos mortos, por isso o mensageiro do Duad penetrara em seus sombrios devaneios oníricos.

Todas as formas antropozoomórficas do mundo - dos homens e dos deuses - passaram por sua vista e ela tudo conheceu.

A mulher ouviu agônica a palavra silvantes:

- Manitu! Oh, Manitu! Venha buscar as outras esferas do além-túmulo.

- Maldito Hórus, o deus-falcão. E malditos aqueles que o encarnou – assim como no deus Seth – nos faraós, pensou.

Ela fechou um olho e pensou que talvez fosse aquela onda profunda de pesadelos que Hórus lançou em seus descendentes.

Fechou o segundo olho e tudo na esfera negra se dissipou, como a tempestade que se acalma no deserto.

Manitu pensou estar louca. Mas a imagem do Ká de Osíris que viu nas dunas vermelhas era real. Imaginava coisas inauditas e nefandas?

- Ao inferno Anúbis e seus arautos, seus templos dourados e também essas caixas secretas que fenecem o corpo, disse.

Sentiu-se leve e até feliz ao proferir essas injurias contra os deuses. Depois riu zombeteira:

- Há, há, há! Há, há,há! Há, há, há, há, há!

Abriu os olhos e sentiu-se estar três vezes mumificada viva e lacrada em sarcófago quártuplo: havia uma forma negra, com corpo de homem e cabeça de chacal, em sua frente.

A coisa hibrida ou o deus disse:

- todas as suas formas, látegos da existência, conspurcam o bem do movimento universal. Venho levar-lhe para que você possa alcançar, nas esferas desconhecidas, todas as suas mil formas e aspectos e assim as profecias dos antigos se cumprirão, siga minha voz ó Manitu metamorfa.

Manitu realmente achou estar louca. A sombra, que era Anúbis, beijou-lhe a mão e desapareceu. A mulher de mil formas saiu do transe.

- Foi apenas um terrível sonho.

Mas um sinal mostrou-lhe toda a verdade: o hieróglifo obscuro do deus da morte, o chacal, se encontrava gravado em sua mão murcha, a mão como a das múmias.

A voz do deus da morte, Anúbis, no Khert-Neter – a Terra dos Mortos – a chamava para aflorar suas mil formas...

lord edu
Enviado por lord edu em 15/10/2007
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