CARAMANCHÃO DE MARACUJÁS (terror/vingança)


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CENÁRIO
Uma cidade na divisa de outra cidade, uma fazenda de plantações de maracujás, toda em formato de centenas de caramanchões, um céu de anil, brisa fresca e muita paz. Casarão, alojamentos de empregados, alpendre, cozinha e curral apenas com os seis cavalos treinados para a lida, a proprietária era uma mulher forte e viçosa, já apontando nos trinta e cinco anos de nome D. Maria Augusta e seu marido Sr. José Martins na faixa dos quarenta e cinco anos.
 

 
Naquela manhã, quase madrugada ainda, dois funcionários Alberto e Jorge acordaram muito cedo e resolveram ir logo para a plantação começar a colheita. Comeram aipim cozido com café e leite e rumaram para os caramanchões, lá chegando estava tudo muito silencioso, então, escolheram uma trilha e logo avistaram uma coisa inusitada e que encheu seus olhos de cobiça, pois não havia ninguém além deles por perto. A visão de notas de cem reais caídas pelo chão formando uma carreira que ainda não sabiam onde ia chegar, fez suas mentes calcularem que nem em um ano de trabalho, conseguiriam uma soma daquelas.

Correram catando as notas, enfiando nos bolsos, camisa e calça da maneira mais rápida que podiam e já estavam carregados, quando ouviram uns sons estranhos, como um bufar de cães e não eram quaisquer cães. Eram os rottweilers de sua patroa, ferozes criaturas e que naquela hora deveriam estar presos, pois na fazenda todos sabiam das normas desde a contratação, pessoas presas, cães soltos, cães soltos pessoas presas na fazenda, não se podia arriscar, pois eles eram treinados para matar indesejáveis ladrões e animais e apenas obedeciam à sua dona Maria Augusta e agora!

Iam empreender uma fuga, mas, a cena pouco à frente deles era aterradora. O Senhor José Martins estava de terno no chão já quase totalmente dilacerado pelos cães, com uma mala de onde saía dinheiro aberta, dinheiro este que com certeza caíra da mala enquanto ele tentava fugir dos cães. Dona Maria Augusta de pé assistindo a cena, com a espingarda pendurada nos braços sem mirar.

O olhar dela para eles era duro feito pedra, brilhante em seu verde tal qual fosse uma esmeralda  lapidada. O sorriso era uma linha enigmática, mas, a força de seu semblante, gelou suas espinhas, era o fim para eles, bastava um sinal e os rottweilers os destroçariam. As pernas estavam paralisadas e em seus corpos, só os corações estavam acelerados e das frontes escorriam pingos gelados. Estáticos estavam e assim permaneceram. A sentença estava por vir, agora era pedir clemência ao Altíssimo.


Foto de Rottweiler Feroz Louco Em Fundo Preto e mais fotos de ...

Mesmo no ambiente perfumado pelas flores dos maracujás, para Alberto e Jorge, apenas o cheiro do sangue do Senhor José Martins lhes enchia as narinas, eram os mais longos minutos de suas vidas, mas, Dona Augusta apenas falou.

- Deixem o dinheiro na mala, levem para a fazenda e chamem o delegado, avisem que estou aqui e que meu marido foi dilacerado pelos cães, por ter saído antes do amanhecer e os cães ainda estarem soltos.

- Entenderam bem a história, perguntou?

Os dois ouviram e demoraram uns segundos para assimilar a ordem, claro que era a história que ela desejava que fosse contada, mas, suas vidas eram muito mais valiosas do que a mentira que ela queria que eles contassem. Era nítido que ela matara o marido por vingança pelo roubo e usara os ferozes rottweilers para isso, sem que tivesse de usar as mãos.
 
Dentro dela a raiva a consumia, mas, agiu com frieza e quanto aos não convidados para aquele desenlace, Augusta resolveria mais tarde, havia de pagar o silêncio deles, se não desse certo, os cães e alimentariam de novo naquela semana.
 
Alberto e Jorge, entre tropeços e quedas chegaram à fazenda, deixando com um dos capatazes a mala para que ele guardasse para a sua patroa e pediram para chamar o delegado, contanto aos borbotões a história por ela contada. Enquanto aguardavam, aconselharam que ninguém fosse até a plantação até tudo estar resolvido no que todos concordaram. Alberto e Jorge se entreolhavam com os corações aos saltos, não podendo sequer imaginar o que ela faria com eles, a pressão em suas testas era enorme e doía absurdamente. Se por clemência divina se safassem dessa, não iriam querer sentir olor de maracujás pelo resto de suas vidas, caso as suas fossem poupadas.  
 
Augusta era uma mulher muito bem relacionada e rica, tudo se resolveu do jeito que ela supunha. Velório e enterro no dia seguinte, sem muitas lamentações, o casal não se estranhava, mas, também ninguém nunca viu um toque de carinho entre os dois, pareciam apenas sócios e não marido e mulher, mas, desde que o salário estivesse dentro de seus envelopes os empregados da fazenda, pouco se importavam com o que acontecia com eles, entre quatro paredes.

No dia seguinte ao enterro Alberto e Jorge foram chamados ao escritório na casa, a patroa queria falar com eles. Se puderem imaginar a tensão entre cada passo dado até o casarão saiberiam que para eles, era como se um vulcão incandescente estivesse prestes a explodir dentro do peito. Ela foi direta e clara, lhes entregou dois polpudos envelopes e disse, aqui está o pagamento de vocês, sumam da minha frente e enquanto houver cheiro de flores de maracujá na região, não quero ouvir falar de vocês, ficou bem entendido?

Eles estavam tão gratos a Deus, por terem saído livres do roubo, de uma possível vingança por parte dela e ainda com um bom valor no bolso, que apenas acenaram com a cabeça, com os olhos esbugalhados e ganharam a estrada.


CASEBRE – prosapoemapastel

Duas semanas depois, num pequeno casebre na divisa das duas cidades, dois corpos foram encontrados dilacerados, certamente por cães. Já se achavam tão disformes, que ficou impossível fazer o reconhecimento deles, numa gavetinha do quarto dois envelopes com um bom dinheiro, jaziam inertes.





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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 27/05/2020
Reeditado em 27/05/2020
Código do texto: T6959913
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