Madalena

Madalena mora na estrada Luzia Lins. Sempre anda de vestido longo preto. O que todos no bairro dizem é que: Madalena ficara viúva e nunca mais encontrara a felicidade.

Comecei ter contado com ela aos dezenove. Minha mãe era dona de um petshop pequeno, onde dávamos banho e aplicavamos vacinas nos animais.

Eu ficava responsável pelo leva e trás. Era a desculpa perfeita pra ir de moto na maioria dos lugares.

Quando cheguei à casa de Madalena, ela parecia ainda mais jovem do que antes, mas em vez de vestido preto estava usando uma bluza de seda sem sutiã e uma calça larga. Eu à achei linda. Não parecia nada com o que os populares falavam. Peguei seu gato que ela chamava de luh. Um gato até gordinho. Ela ficou acenando pra ele, jogando beijinhos.

O gato de Madalena, precisava tomar algumas vacinas que eram mais para controle e prevenção. No dia seguinte levei o seu gato de volta. Eu estava ansioso pra ver aquela mulher misteriosa e linda. Havia tido sonhos com Madalena, sonhos eróticos.

Quando cheguei com o seu gato ela ficou feliz, perguntou se havia dado tudo certo e me ofereceu um chá.

Existem coisas que não sabemos porque fazemos e fazemos sem querer entender. Eu nunca havia aceitado nada de nenhum cliente mas aquilo foi diferente, era como se eu precisasse.

O gato subiu num armário centralizado na varanda e fechou os olhos, ali ele ficou, era como uma imagem travada. Madalena brincou dizendo que luh era preguiçoso.

Ela buscou o chá e voltou com um belo sorriso. Não podia ser verdade, ela era linda. Um rosto quase angelical, a boca vermelha e o olhar penetrante.

Eu tomei o chá e praticamente contei toda minha vida. O que eu poderia ter feito? Ela estava interessada. Em um certo momento eu senti algo rossar na minha perna, era o pé de madalena, suave e sutil. Ela me olhou e rapidamente o puxou de volta como se tivesse sido sem querer.

Contei a ela que amava uma menina chamada Yasmim que havia sido minha colega de classe no ultimo ano do ensino médio, disse que certa vez o namorado de Yasmim me pegou à beijando e me deu uma surra. E desde então não nos falamos mais. Madelena ficou muito curiosa sobre Yasmin e Diones que era o tal namorado que me espancou. Ela me disse: "Você sabe que eu sou uma bruxa né" Deve saber, já que todos nesta cidade falam pelos cotovelos. Eu sorri com a sua brincadeira e pensei que Madalena era uma bruxa linda. Os olhos de Madalena ficaram cerrados nos meus. Ela me perguntou se eu queria que eles sofressem. Eu não sabia o que dizer, mesmo assim tive raiva e desejei que tanto Yasmim como Diones sofressem. Principalmente Diones que havia me humilhado. Eu devo ter dito algo, pois Madalena disse: "Que assim seja feito"

Fui embora como se o chá tivesse ficado esquecido entre a entrega do gato e o retorno pra casa, cheguei a noite. Ao tomar banho tive ímpetos de me masturbar por vários minutos, não parava de pensar em Madalena. Era como se ela estivesse ali comigo e eu pudesse sentir os seus cabelos negros nas mãos. Eu devo ter demorado, logo batiam na porta.

"Danilo!!! Danilo!!! Tá tudo bem? Que demora é essa"

Era minha mãe, logo, terminei o banho. Quando sai ela me abordou dizendo que Madalena havia ligado agradecendo e perguntando se não poderíamos buscar o gato novamente. Eu perguntei se estava tudo bem e minha mãe responderá que era pra darmos banho no bixano.

Eu de inicio fiquei assustado. Teria que ver Madalena e pensava sem parar se ela me serviria chá ou café ou qualquer coisa.

Na manhã do dia seguinte acordei com os berros de minha mãe. Era de Yasmin que ela vinha me contar.A rádio anunciara às seis da manhã que Yasmin e o namorado sofreram um acidente na rodovia. Sem nenhum motivo aparente eles saíram de madrugada e pegaram a rodovia, a moto perdeu o controle e colidiu diretamente com um poste. Yasmin havia sido levada para o hospital e estava em estado gravíssimo, Diones morreu na hora. No grupo do app surgiram muitas mensagens, fotos e videos. Eu não queria ver mas os nossos olhos são cruéis e os meus me traíram. Yasmin estava sem a perna direita e sem parte do couro cabeludo. A bela Yasmim se tornara apenas pedaços ensanguentados em meio ao orvalho da manhã. Não dava pra acreditar que sobreviveria à tudo aquilo. Naquele mesmo dia às nove da manhã ela faleceu. Diones estava decaptado. Em um dos videos mostrava o seu corpo de um lado no acostamento e logo à frente sua cabeça. Era tudo horrível e eu me sentia culpado por ter lhe desejado mal. Ao mesmo tempo sentia alívio como se ele estivesse pagando pelo meu ego machucado.

Não fui buscar o gato de Madalena, pois fechamos o petshop naquele dia. Também não quis ir ao enterro que foi dois dias depois. Toda cidade se comoveu, diziam que eles estavam lindos no caixão. Eu só sentia repulsa. Na rádio seguiam homenagens de amigos e parentes que ligavam o tempo todo, chorando e rezando.

Na semana seguinte ao ocorrido fui buscar o gato de Madalena. A vida preciva andar e mesmo que numa corda bamba, a vida haveria de seguir. Quando cheguei na casa de Madalena ela estava com roupas de academia e sorriso ainda mais farto do que antes. Como podiam dizer que ela era uma bruxa, uma mulher tão jovial? Ela me disse que dera banho no gato mas estava feliz por me ver. Ela me perguntou se eu havia gostado do que aconteceu. Eu perguntei de maneira ríspida, "como poderia ter gostado de algo tão ruim?" Ela disse que tudo bem, que ela havia feito aquilo por mim, disse que eu merecia uma vingança. "Vingança" perguntei a ela, ísso não fazia sentido pra mim. Mas Madalena segurou minha mão e eu senti sem nenhum remorso tudo que já havia desejado. E sim eu havia desejado matar os dois. Aquele casal perfeito foi a minha desgraça. Eu amei Yasmin, queria ela e me senti usado. Mesmo ela não me dando nenhuma esperança além de um beijo pra fazer ciúmes no namorado. Ela me olhava na sala de aula, colocava a caneta entre os lábios, mexia nos cabelos e sorria. Mas agora era apenas uma defunta enterrada sem uma das pernas.

Voltei a consciência para Madalena e ela me olhava. Não sei como mas ela estava idêntica a Yasmin. Ela me chamou pra entrar, me pediu ajuda com algo que agora não lembro. A rua era deserta, apenas um carro passando longe e eu não resisti. Madalena estava perfeita, e como era parecida com Yasmin. Seus lábios vermelhos e vivos, seu cabelo mais ondulado.

Dentro da sua casa era tudo rústico, móveis velhos como estas coisas de filmes antigos. Me sentei em um sofá do qual nunca tinha visto, havia estofado mas também madeira. Ela me trouxe uma bebida, não era chá, era mais forte. O gato não parecia que havia tomado banho, estava ao pé de uma mesa com olhos fixos em mim. Madalena voltou. Não era Madalena, era Yasmin, com um vestido curto e preto. Sua silhueta era perfeita. Eu podia ver seus seios duros aparecendo naquela seda. Minha bela Yasmin estava ali na minha frente. Ela tirou à xícara da minha mão e sentou no meu colo. Eu disse que não podia e ela silenciou os meus lábios com a ponta do indicador. Em seguida minha mãos estava entre as suas pernas tocando algo quente. Sim fizemos amor. Era como se eu estivesse com Yasmin mas não era. Quando tudo acabou eu desmaiei, fui tomado por um terror catastrófico. Não era nem Yasmin nem Madalena que estavam em cima de mim, era algo maldito. Uma velha com dentes afiados, seus olhos eram perversos, seus traços corporais repletos de cicatrizes. Ela não havia acabado, respirava algo que saía de mim, uma nevoa branca que ela sugava com o nariz respirando cada vez mais forte. Eu me sentia cada vez mais fraco, perdendo a consciência e logo apaguei.

Acordei atordoado pedindo a Deus algum clamor, algum socorro. Não me sentia digno do amor de Deus, eu estava no pecado. Para minha surpresa havia uma pequena estante com diversas fotos. Contei cerca de cinco portas retratos diferentes. Neles Madalena estava do mesmo jeito, ao lado de um senhor mas nenhum dos senhores eram o mesmo. Eram cinco senhores diferentes. Em uma das fotos ela estava ao lado de uma carruagem destas de filmes puxadas por cavalos, em outra ela estava com um senhor dentro de um destes carros antigos que fora um dos primeiros carros da Ford, em outra ela estava com outro senhor no que parecia um navio. Estre as fotos em preto e branco haviam duas coloridas, em uma delas ela estava sentada na garupa de uma moto e em outra ela estava patinando no gelo.

Madalena chegou.

"Sim eu sou uma bruxa, mas também posso ser quem você quaiser"

"A unica coisa que preciso é da sua vitalidade" Eu quis sair correndo mas ela me deteve. "Querido onde você vai?Já não tem idade pra sair por ai como um garoto" Estava confuso e quando vi o meu reflexo no espelho da sala fiquei atordoado. Só podia ser um pesadelo. Eu havia envelhecido muito, estava com cabelos brancos e muitas rugas.

Madalena dava gargalhadas diabólicas e eu não tinha forças pra caminhar.

Ela já estava com uma máquina nas mãos. "Venha querido, vamos tirar uma foto"

Enquanto eu escrevo este relato Madalena deve está escondendo minha moto em algum lugar. Não está sendo fácil escrever, as letras estão aos garranchos, porque dois de meus dedos já quebraram e eu estou morrendo. E à quem possa interessar, saibam que Madalena é uma bruxa. Ela é dessas que se alimentam da vida de homens jovens. Ela vem vivendo assim há milhares de anos. As: Dnlo

Tiago Saartu
Enviado por Tiago Saartu em 17/07/2020
Reeditado em 27/09/2020
Código do texto: T7008321
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