horário morto

A hora de dormir me intriga um pouco, isso porque sempre durmo tarde por conta das músicas que escuto, parece que todos os dias eu bato o olho no relógio e já são três horas da manhã, o famoso horário morto.

Então eu resolvi desligar tudo e dormir, mas o sono não vinha, rolei para todo lado e nada.

Lembro que era um dia quente, então comecei a suar muito, a cama estava molhada e a vontade de ir ao banheiro aumentou.

A porta de casa sempre batia a noite, a explicação se dava pelo tamanho da janela que havia nele e pela porta que não fechava, apenas trancando mesmo.

Minha casa era de madeira fraca, ficava ao lado de um matagal que foi queimado por alguns esquisitões a um tempo atrás, desde então a mata não cresceu mais, morreu.

A vontade de mijar aumentou consideravelmente, não me contive e fui ao banheiro

A porta continuou batendo com o pequeno ventinho que fazia.

Mijei e aquela aflição passou, então voltei para a cama na tentativa de dormir.

Na minha cabeça parecia que mais de uma hora havia passado, mas o relógio marcava exatamente 03:03

Fiquei surpreso, pensei comigo que não poderia passar tão pouco tempo pelas coisas que eu fiz, mas tudo bem, não liguei.

Tentei dormir e continuei rolando para os lados.

O barulho do trinco do banheiro começou a rodar, a porta trancou sozinha.

Pensei que estava sonhando, fui até o banheiro e puxei a maçaneta, nada.

Comecei a suar mais.

O vento aumentou.

A porta destranca, não havia nada lá.

Que merda, acho que podia estar bêbado, levanto em conta que virei uma garrafa de cachaça um pouco mais cedo.

Tentei dormir, nada.

Rolei para os lados.

A porta trancou novamente.

Não liguei.

Foda-se.

O horário continua em 03:03

Meu quarto se tranca, sinto uma leve tontura, deve ser a cachaça barata.

Estou fraco, sinto um abraço quente vindo atrás, sem forças para me conter, o deixo.

Meu corpo esquenta, sinto o cheiro do sangue, aquele cheiro de ferro velho.

Adoeço aos poucos, vejo um espelho ao meu lado.

Nele, tudo é escuro, mas consigo ver um rosto

Sou eu nele, eu próprio, mas reverso.

Estou sorrindo nele, o vejo lambendo meu sangue, ele gosta parece.

Eu adoeço sem perspectiva alguma

O quarto se destranca, eu durmo.