PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER.

O velho Olegário abriu a sacada de seu apartamento e deixou a luz do sol entrar. Um domingo de outono. -"Mardita vida. Não há mais esperança. Mardito governo no qual coloquei minhas expectativas." Chuva fina. Um dia frio. A missa do padre Marcelo na tevê. -"Religião é ópio do povo. Só pedem dinheiro." Um café preto pra despertar. Ele deu uma olhada no jornal do dia. -"O mundo tá um caos. Pandemia, massacre em escolas e creches, busca de vacinas, robôs em Marte, os preços das coisas lá em cima. Telefonou para o filho. -"Isso, tome vacina aí nos Estados Unidos pois aqui tá feio a coisa." Ele preparou uma dose de whisky com gelo. A vitrola incrivelmente bem conservada. O vinil de Agnaldo Timóteo, recentemente falecido, levado pelo Covid 19. O vozeirão do cantor ecoou pelo apartamento 606 do condomínio Splendor Romani. Ele tentou acompanhar a música mas a voz não saiu, devido as complicações da Covid 19 que ele contraiu após ir a um churrasco na chácara. Uma semana no hospital e ele achou que bateria as botas. -"Melhor morrer que ficar fazendo hora extra nesse mundo cão." Um dia no respirador e duas semanas de molho em casa. Um coquetel de remédios somado aos seus remédios do coração e da diabetes. Deu uma olhada nos vídeos do You Tube sobre teorias da conspiração e fim do mundo, as professias de Nostradamus, o livro de Enoque, os Iluminatti, etc... -"Caraca.." Resolveu abrir a caixa de charutos cubanos. O copo de whisky na mesa de centro. Os vasos de azaléia na sacada. A foto da ex esposa no porta retrato sobre o aparador. Ela morava com o filho em Orlando. Olegário tomou um copo de whisky com gelo. O funcionário público aposentado aguardava a tão sonhada aposentadoria. Nada afeito a caminhadas e academias de ginástica, o homem era um sedentário convicto. -"Esportes só formula 1 pela tevê mas durmo na terceira volta. Saudades dos tempos de Senna e de Prost." O poodle latiu e ele abriu o saco de ração. Um telefonema da faxineira. As mensagens de WhatsApp. O Instagram. A morte do Paulo Caruso. O prefeito de São Paulo. A morte da Eva Wilma. Olegário e seu celular de última geração. Deu um telefonema pra padaria e reservou um assado. A missa pela tevê. O canal católico e um padre falando de apocalipse. Resolveu ver a Netflix. O filme A Guerra dos Mundos. Um copo de whisky com gelo. Resolveu fazer pipoca. A chuva começou a cair. Ele deixou o corpo cair no sofá. Olegário ouvia batidas na porta. Ele abriu a porta e uma mulher se jogou sobre ele, agarrando seu pescoço com violência. -"Filha da puta." Ele gritou. As unhas dela deixaram arranhões nele. O sangue escorreu. Olegário deu um chute na moça. Era uma zumbi. Logo outros zumbis entraram no apartamento. Olegário correu até a área de serviço. A velha espingarda no armário. Ele carregou a arma a tempo de estourar a cabeça da moça. -" The Walking Dead é aqui." Ele gritou ao atingir os outros zumbis. Pegou o interfone e ligou para a portaria. -"Preciso de ajuda. Há uma invasão zumbi na terra." O porteiro respondeu aterrorizado. -"Esse é o menor dos problemas, seu Olegário. Olhe pra fora. É o fim do mundo." Olegário limpou o sangue do pescoço com uma toalha. Ele foi até a sacada, passando por cima dos corpos dos zumbis. Olegário limpou os óculos pra ver melhor a grande nave alienígena que pairava sobre a cidade. -"Meu Deus. Parece uma água viva enorme e monstrenga!" Olegário foi pra rua. As pessoas em pânico. Um corre corre danado. Da grande nave saiam raios que matavam as pessoas e queimavam tudo. O celular tocou. As notícias sobre o caos mundial. As naves terráqueas que seguiam para Marte foram destruídas pelos aliens. Um grande portal interestelar se abriu sobre a Antártica e dele saíram naves alienígenas. A energia e calor do portal derreteram o gelo e libertaram demônios que estavam aprisionados durante milênios ali. O sol foi ficando escuro. Um meteoro caiu sobre a China, mudando o eixo da terra. A lua caiu e vinha na direção da terra, que girava a esmo no espaço. Atrás da lua o planeta Saturno em rota de colisão com a terra. Olegário caiu de joelhos. -"É o fim do mundo. Bem que disseram que o papa Francisco era o último." As pessoas desapareciam, como por encanto, arrebatadas. mEle ergueu os olhos e viu um grande anjo surgir. Era um querubim com uma espada flamejante. Ele tocou uma trombeta. Milhares de anjos surgiram atrás dele. As estrelas começaram a cair. Um grande dragão vermelho apareceu voando no céu. Olegário viu uma fila de pessoas numa escada celeste, todos de branco. A constelação de Orion ficou brilhante no céu. A terra se abriu e engoliu o condomínio atrás dele. A lua mais perto. Uma chuva de fogo começou a cair. O chão se abriu e Olegário caiu num abismo. O porteiro o chamava. -"Seu Olegário. Seu Olegário." O abismo. -"Parem o mundo que eu quero descer!" Gritou. Olegário abriu os olhos. O interfone tocando. Ele se levantou e foi atender. -"Seu Olegário. É o porteiro Epaminondas. Seu assado chegou. O motoboy está aqui." Olegário com cara de sono. -"Obrigado. Já vou descer." Ele pegou a carteira e se beliscou. -"Olegário, você está vivo mas tem que parar de beber!" Quando perdemos a esperança perdemos o sentido, o norte, e tudo vai escuro pois é a fé e a esperança que nos impulsiona! FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 16/05/2021
Reeditado em 17/05/2021
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