A FESTA - CLTS 17.

A FESTA - CLTS 17.

Johnathan King

1.

Uma Música na Madrugada.

Ana acordou no meio da noite com o barulho de música e o ruído de vozes vindos do andar de baixo. Tateou, procurando o abajur na mesinha-de-cabeceira, e o acendeu. Semicerrando os olhos para enxergar melhor o ambiente, ela encontrou seu celular. Meio zonza, consultou o horário. Era três e quinze da madrugada. Sentou na e ficou atenta ao barulho do parecia ser uma festa.

Ana abriu à porta do quarto e encontrou um corredor escuro e sombrio. Sentiu um calafrio percorrendo seu corpo. O som da música e das vozes vindas do andar de baixo ecoou pelo corredor, fazendo Ana parar de repente. Ela sentiu medo, respirou profundo e seguiu lentamente. Ana sentiu um arrepio profundo à medida que se aproximava do topo da escada. Quando começou a descer os primeiros degraus, o som da música e o vozerio das pessoas parou.

Ana paralisou!

No andar de baixo tudo estava escuro e silencioso. Exceto por um quadro pendurado numa parede retratando uma festa que parecia possuir vida própria. Àquilo deixou Ana perturbada, pois ela relembrou claramente do momento em que retirou a pintura da parede e à guardou em um antigo baú em um dos quartos da casa. Voltou para cima e correu até um quarto específico, pegou um bolo de chaves dentro do bolso do pijama e começou à testar uma por uma até encontrar à certa.

Ana abriu o baú!

2.

Velha Herança.

Ana ergueu os olhos, surpresa.

A fachada de sua nova casa era esplendorosa.

- É linda! - disse ela.

- Você deve ter ficado louca - disse Samanta, amiga de Ana. - Chamar essa tumba de "linda"?

A residência havia sido comprada por um preço à baixo do mercado. O imóvel construído em estilo vitoriano, herança dos primeiros donos, era uma arquitetura medonha e assustadora.

O dono da casa era um advogado que residia em Nova York, muito atarefado e que não podia ocupar o imóvel, uma herança de família. Quando fez sua mudança, Ana não deixou de notar que um item dos antigos donos havia sido deixado para trás: um quadro retratando uma festa.

Samanta disse:

- Eles parecem que estão olhando para nós.

Você está falando do quadro? - disse Ana.

- Eles parecem tão reais, como se fossem vivos. - disse Samanta.

Ana retirou o quadro da parede, o envolveu e levou para cima. Para na frente de um quarto, retira do bolso um molho de chaves e procura uma em específico. Ela coloca o quadro dentro de um velho baú num canto no quarto.

3.

A festa.

Ana está dormindo.

O barulho de música lhe acorda. Ela rola de um lado para o outro até despertar completamente. Abre à porta do quarto momentos depois. Anda por um corredor escuro e depois desce às escadas, parando de repente. Ao perceber que o movimento de som dentro da casa parou, Ana correu até um quarto onde guardou algo importante. Chegando lá, encontrou o baú vazio. O quadro não estava lá dentro. Ela sentiu medo.

4.

O baile de1950.

Ana estava jogada na cama. Uma coberta envolvendo metade de seu corpo. Seus olhos fixos no despertador. Seus olhos de começaram a pesar. Ela adormeceu. Um barulho de porta abrindo e batendo ecoou pela casa e chamou sua atenção. Se colocou de pé. Abriu à porta do quarto e se lancou num corredor vazio e silencioso. De repente, um estalo e Ana se virou bruscamente para trás.

Uma mulher negra e de meia idade saiu de dentro de um dos quartos.

Ana ficou espantada.

- Quem é você? - perguntou ela.

- Bom dia, menina! A senhora Miller não deve ter falado de mim para a senhorita. Sou Anastácia - disse a mulher - Trabalho com a família desde os tempos dos pais da senhora Miller.

- Senhora Miller? - O nome soou estranho para Ana. Ela nunca ouvira falar em nenhuma senhora Miller.

- Margareth Miller, a dona da casa - disse Anastácia.

- Eu não conheço nenhuma Maragreth Miller, e essa casa é minha; eu comprei ela. - Anastácia achou graça.

Ana seguiu a negra e entrou em um outro mundo. A sua casa já não era a mesma. Toda à decoração era antiga, como se fizesse parte de um outro tempo. No andar de baixo estava tendo uma festa. Todos pareciam familiares para Ana. Eram as mesmas figuras do quadro. E por mais que ela tentasse chamar à atenção dos convidados, ninguém podia nota-lá. Ela era invisível para todos. Exceto para Anastácia.

- Menina, porque não se vestiu ainda? - perguntou a negra. - Eu deixei seu vestido sobre à cama.

- Você consegue me enxergar, Anastácia?

- Menina, deixe de brincadeira. Vá logo se vestir e desça para a festa.

- Quem é ela? - perguntou Ana, apontando para uma figura até então desconhecida para ela. Uma mulher já de meia idade, com seus cabelos louros e sua pele clara; se destacando entre os convidados. Ela não é um dos retratados do quadro.

- É a senhora Miller - respondeu Anastácia.

- Em que ano nos estamos?

- Estamos em 1950, menina - disse Anastácia, e tudo se apagou na frente de Ana.

Quando Ana acordou, ela estava em seu quarto, deitada em sua cama. Era início da manhã. Ela só não sabia quanto tempo passou dormindo.

- Anastácia! Anastácia! - gritou Ana.

- Você me chamou, menina?

- Quem são às pessoas no quadro?

- Parentes e velhos amigos muito próximos e queridos da senhora Miller. Todos já falecidos - respondeu Anastácia. - Madame mandou pintar para que nunca se esquecesse deles. Gosta de se sentar na poltrona e ficar conversando com eles.

Ana encarou a pintura outra vez. Seu olhar se transformou.

- Você está no quadro, Anastácia.

- Eu sei...

- Mas você disse que todos no quadro estão mortos...

- Eu disse...

- Então, você...

Margareth Miller adentrou a sala. Ela estava vestida para uma festa. Acendeu às luzes, e em seguida abriu às janelas da velha casa. Ela seguiu até um antigo toca-fitas, nessa ocasião o lugar já se transformara em um cenário antigo como que por encanto.

Margareth Miller colocou no velho toca-fitas uma gravação de som ambiente de festa, com conversas, risos e música ao fundo. Em seguida, ela se sentou em uma poltrona de frente ao quadro que mandara pintar, com uma taça de vinho na mão, e seu espírito se entregou ao ambiente da tela, conversando e confraternizando com os entes queridos.

A gravação se calou, às luzes se apagaram e às janelas se fecharam . Margareth Miller continuou sentada em sua poltrona. Parecendo dormir serenamente, com a taça tombada aos pés e o vinho derramado no tapete. Ana olhou para o quadro. As figuras antes alegres, sorridentes e felizes, agora se achavam com os rostos sérios, tristes, com lágrimas escorrendo pelas faces. Os instrumentos pendiam nas mãos dos músicos.

Não mais se dançava, não mais se conversava, não mais haveria festas naquela casa. Ana olhou mais uma vez para a tela, e se espantou com o seu rosto pintado junto aos outros, sério e triste.

FIM

Tema: FANTASMAS.

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 04/12/2021
Reeditado em 10/12/2021
Código do texto: T7400172
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