Jornadeando na sombra iluminada

Tantas sementes plantadas em minha ignorância...

julgava-me tenebrosamente realizado,

face ao meu modesto possuir,

compatível ao meu incônscio desejar.

Devido à energia entorpecida, desencontravam-se

minhas aspirações amorfas com meu suposto sucesso,

sentia-me o próprio poço de ecos absurdos e de

luzes desiluminadas.

Minhas realizações primárias,

pressagas frustações intermitentes,

faziam-me intensificar buscas e perder razões.

Um silêncio interpretativo,

entretanto, por vezes ouvia e

pressagiava que o Mistério dos Mistérios me abraçaria,

então me tornei uma peregrina do infinito;

a alma em punho era minha candeia,

e aqueles ecos iam-se apresentando paulatinamente

ao meu ser, insistente e misteriosamente.

Até que o Bálsamo d’exaustivos ecos,

roucos de tanto bradar silêncio interior

e sossego enflorescido,

argüiram-me d’onde vinha toda aquela aflição apurada,

d’onde vinha aquela fagulha de esperança vaga,

oscilantes, ambíguas entre o consolo divino

e manuscrito ilegível a minha mente enceguescida?

E meu jornadear se alargou e definiu tantas coisas...

Enquant’eu resvalava na feliz insatisfação

de uma procura infinda,

comecei a aceitar meu enorme saber ignoto,

calando tantas cobranças comprobatórias,

para finalmente sentir brotar, d’uma dulcíssima tortura,

a convicção de que há paz no gozoso sofrer,

quando cessamos a procura de Deus nas veredas,

por já tê-lo encontrado em nosso interior.

Foi assim que aprendi uma das respostas:

De que adiantaria procurar Deus quanto mais o encontrava, se não lhe permitisse habitar meu interior?

Santos-SP-26/03/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 26/03/2006
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