Sábado Quente
 
Manhã de inverno. O céu cinzento prenunciava chuva. As crianças ainda dormiam.
Na véspera, minha cunhada Ana Lúcia tinha vindo nos visitar e de conversa em conversa quase varamos a madrugada. Os meus filhos, misturados com o dela, aproveitaram a oportunidade e, a farra só teve um fim quando o sono, sendo maior que todas as vontades, literalmente jogou as crianças em suas camas.
 
___ Vamos amor. Acorde. Já passam das dez horas. Falei para minha esposa que ainda dormia.
 
___ Hum... – resmungou Marieta. Só mais um pouquinho... As crianças ainda estão dormindo, e esta cama está uma delícia.
 
Ela tinha razão. Era sábado, estava frio, e não havia nada urgente a ser feito. Voltei-me para o lado e tentei, ao menos cochilar.
O silêncio da manhã cinzenta foi quebrado pelo barulho da chuva que iniciou de mansinho e, nesta altura, já era torrencial.
As crianças já haviam acordado, pois, do meu quarto já dava para escutar suas risadas.
 
___ Painho! Painho! Romperam o meu quarto, desesperados.
 
___ Tivemos uma idéia. Uma grande idéia! Falou aos gritos, Ariana.
 
Ariana, a mais velha, sempre foi a de querer mandar nos irmãos. As principais idéias de brincadeiras sempre eram delas, as regras, novas ou velhas, por ela eram ditadas, os caminhos eram sempre determinados por ela, enfim, seus dois irmãos, para não ficarem de fora das brincadeiras, aceitavam todas as suas ordens.
Sem tomar fôlego, foi direto ao ponto.
 
___ Vamos brincar de acampamento!
 
Como se não bastassem as folias da noite anterior. Sob os olhares atentos do Juca, e da pequena Gilda, Ariana aguardava ansiosamente pela minha resposta.
Como por ocasiões anteriores, não tive alternativa para a resposta.
 
___ Claro, filhinha. Mas ajude os seus irmãos.
 
Nessas brincadeiras, o Juca sempre levava a pior, pois, Ariana separava os melhores e maiores lençóis para a “construção” de sua cabana. O Juca, ainda conseguia alguma coisa e a Gilda tinha que se contentar em ficar junto a um dos dois.
Voltaram aos gritos de felicidade para seus quartos e, novamente instalou-se o silêncio dentro de casa.
A chuva não parava. O seu barulho soava como uma cantiga de ninar. Tentei adormecer novamente.
Mas, o silêncio das crianças me perturbava. Levantei e fui observar o que faziam.
O quarto mal dava para entrar. Estava de lençóis e cobertores esticados para todo lado. Fingiam que estavam em pleno acampamento no meio de uma selva.
Estavam bem, mas tive a infeliz idéia de argumentar:
 ___ Cuidado! Tem uma onça pintada solta por aí...
 
Voltei para o meu quarto.
De repente, ouço gritos e mais gritos.
Um cheiro de queimado invadia toda a nossa casa.
Eu e Marieta levantamos o mais rápido possível.
As crianças tinham feito uma fogueira no meio do quarto. A fumaceira impedia que permanecêssemos no interior da casa.
Marieta rapidamente tentava levar as crianças para fora enquanto eu apagava com água a pequena fogueira.
O estrago não foi grande.
Fora umas poucas peças de roupa destruídas, conseguimos apagar o pequeno incêndio instalado.
Saímos correndo para o lado de fora da casa onde, certamente, o ar era mais aceitável. Ainda chovia.
Uma cena patética.
Nós cinco, molhados e com frio, debaixo de uma chuva fina que ainda caia.
 
__ Porque você fez essa fogueira? Perguntei para Ariana.
 
Apesar da emoção do momento, não estava com raiva. Ingenuamente, os três, ao mesmo tempo, responderam:
 
__ Foi para espantar a onça que você falou...
 

 
Oswaldo Genofre
Enviado por Oswaldo Genofre em 14/02/2010
Reeditado em 13/06/2013
Código do texto: T2087293
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