Campo dos Morangos de Domingo

Diante da certeza da infinita beleza daqueles campos. Tapetes de morangos em toda parte. Uma expedição em braile pelos sentidos, nas pontas dos dedos.

Do amor que se recorda quando o que se quer é esquecer, o vale tinha lá seus segredos e artimanhas.

Na mão direita a carta , na esquerda um balaio cheio, de esperanças. E para onde quer que se olhasse, tudo se apresentava monocromático. Colhi as frutas até encher o coração de saudade e desejos, de histórias secretas que sobrevoavam minha mente. E quando fechava os olhos para ver melhor, melhor parecia ser a única alternativa.

Deixei ali o balaio e saí correndo em direção contrária aos motivos que me levavam até ela. Parei na borda do campo, na divisa entre a estrada e a dúvida. Esperei na esquina, mas ela bifurcava em várias direções. Uma grande nuvem escreveu no azul uma frase que eu evitava pensar: “você está vivo.”

Minhas mãos, vermelhas do sangue que teimavam em correr por elas, se misturavam com o bagaço da fruta esmagada entre os dedos. Eu não podia mais esperar. Abri meu peito e gritei pela última vez, esperava que o mundo me ouvisse. Caí entre os morangos já sem vida. Agora eu sabia: iria encontrar-me com ela!

Alexandre Costa
Enviado por Alexandre Costa em 28/08/2006
Código do texto: T227237