Sob o sol de Fevereiro

Ao atravessar a rua em escaldante verão de fevereiro viu um corpo que caía. Gritou em todas as direções, mas preferiu calar-se, depois que todos deram de costas. Correu como fogo em paiol, mas preferia não estar ali para ajudar.

Estendeu os braços em favor da suicida, mas para ela o chão era uma antiga promessa. Ao aparar o corpo viu que era ela própria quem caía.

Soltou o corpo que ao encontrar seu destino experimentou a paz.

Assustada viu-se correr as escadarias do prédio, entrar no apartamento e ver a si mesma jogar-se do 18º andar, sem nem mesmo dizer adeus em versos, numa carta ou guardanapo.

Era assim todos os dias. O mesmo sonho que lhe dizia em versos, que a vida, ora vazia, ora sem rima, estava ali pra lembrar-lhe que existia. No espelho, a morte ria-se de dar câimbras!

Alexandre Costa
Enviado por Alexandre Costa em 29/09/2006
Código do texto: T252032