Só a verdade.

Eu só falo a verdade, por isso mesmo não costumo inventar histórias. Mas se ela falou esses absurdos de mim, eu tenho que retrucar. E não digo que ela esteja mentindo – também não costumo julgar as pessoas assim. Mas se aquela filha de puta anda falando das minhas particularidades por ai, eu devo, por obrigação, me defender.

Como é que pode você passar três anos com uma mulher pra ela falar seus segredos pra os alheios? Não é muito atrevimento? Agora ela se fudeu, eu vou jogar duro, não vou aliviar. Ela tomou foi no chicote que eu vou é botar logo no facebook as fotos dos caras com quem ela me deu corno.

E é tão cachorra que se finge de santa; disse que da vez do enquadramento policial por estarmos abalando a moral pública, ou sei lá como se chama isso, fui eu quem a obriguei a fazer o que não deveria. Vê se pode? Uma tarada daquela!

E o pior não é somente falar isso. Se fosse isso, eu nem abalaria. Mas ela disse mais. Disse, numa linguagem clara e popular, tudo que significava abalar, ou ferir, ou atentar contra a moral pública. Contou desde o início do fato fatídico. Vê se pode?

Ai falou que eu ameacei enfiar a mão na cara dela. Não me lembro desses pequenos detalhes, mas se o fiz foi pra descontar. Afinal de contas, a mulher já sabe da vida boêmia de um sujeito quando começa um namoro. Não pode reclamar depois.

Mas não satisfeita em me dar porrada um dia, após a tal hora feliz, fazia seu orgulho aumentar contando o caso para os vizinhos. E o pior, pra meus amigos. E o pior, ainda, é, vê se pode, um deles passar a apanhar da esposa por causa de tal história. Merecia um retorno!

Depois ainda me aparece com negócio de delegacia da mulher. Vê se pode? Isso não vai ficar barato! Vai ter o troco sobre o caso do escândalo na padaria. Só porque atirei alguns pãezinhos pela porta do lugar, ela tem que sair por ai espalhando. Falou que eu era um homem louco e paranóico, sem noção dos limites.

Tudo bem. Foi uma daquelas cestas gigantes de padaria. Mas isso não é motivo pra pessoa sair por ai chamando o namorado de maluco. Ainda falou que fiz isso por conta de, no dito dia, a vizinha não querer me mostrar os peitos. Vê se pode?

Eu vou falar também. Vou falar um monte de besteira a respeito dela. Vou chamá-la de vários adjetivos diferentes e direi mais; direi mais uma tonelada de coisas que nem acreditarei, mas farei os outros crerem. Colocarei em locais públicos todos os acontecimentos. Tanto os que se passaram quanto os que não se passaram.

Ou então, ficarei na minha. É mesmo, não vou envolver com a escrotidão dela. Deixarei pra lá, seu nome longe dos meus lábios. E ainda vou me mudar, vou pra um lugar bem longe e nunca mais mandarei notícias.

Só se forem notícias dela, bem nefastas. Igualzinho ela fez comigo.

Como é que pode?

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 21/01/2011
Reeditado em 07/04/2013
Código do texto: T2742797
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