De ocasião

De ocasião

O supermercado era quase vazio àquela hora. Poderia escolher com calma.

Começou pelas prateleiras dos mais pesados. Olhava um a um. Possantes músculos, peles e dentes diversos, olhos firmes, colunas monumentais de coxas etc. O etc., às vezes pequeno.

Não se entusiasmava.

Correu várias prateleiras. Achou os racionais, os lógicos demais. Achou os pios, os devassos, os fracos e os meros mortais. Matemáticos e os falsos intelectuais. Viu palhaços e deuses. Viu olhos profundos que lhe prometiam mundos.

Nenhum, inteiro, lhe tocou ocoração.

Mas, chegando ao fim dos corredores, a um canto, meio escondido ela encontrou um estranho.

Olhos castanhos-comum que surpreenderam pelo brilho de doçura, ao fitá-la. Suave sorriso entre estranha barba lhe ofereceu promessas de sábio amante. Doce voz a encantou: "querida".

Ela soube que encontrara, enfim.

Pegando-o pela mão, ele caminhou com ela. No caixa, pagou preço de oferta e percebeu, então, que escolhera um Poeta.

(do livro O Mágico de Nós, 2ª edição,1989. Belo Horizonte /MG)

Tânia Diniz
Enviado por Tânia Diniz em 21/07/2005
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