Horário
        A sala de espera estava  lotada com homens e mulheres de todas as idades. Entrou Amanda, acompanhada de seu pai . Cabeça erguida, olhou para todos os cantos da sala e para as pessoas, com um olhar vibrante. Seus olhos azuis brilhavam a procura de lugar para sentar. De repente levantou uma pessoa. Sobraram duas cadeiras vazias a sua frente. Sentaram-se. Ela inquieta, com ar de superioridade, exalando um perfume raro, falava baixinho com o velho pai.
        Era uma figura exótica, cabelos louro-amarelado, longos até os ombros, bem maquilada, olhos sombreados de azul forte, cílios bem pintados de preto, lábios vermelho escarlate. Usava vestido social esvoaçante  cheio de pontas, grande brincos de argolas, sapatos brancos de saltos altos com bico fino. Quando ela gesticulava, ouvia-se  o tinido das pulseiras que enfeitavam os dois braços.
        Houve um ruído ao abrir-se uma porta. Apareceu o Dr. Renan, moreno claro, cabelos pretos, porte elegante, vestido de branco, com uma ficha na mão esquerda. Em voz alta, chamou o próximo cliente.
        Amanda soltou um grito exagerado.
— Ele está atendendo! A secretária me disse que o senhor tinha ido embora. Como é que pode?
— Pode, porque eu não vou te atender, estou aqui desde as quatorze horas. Por que não chegaste mais cedo?
Ele continuou, falando que ela sempre chegava atrasada e, caminhando de vagar, entraram para o consultório. Na sala, os olhares  cruzaram-se e Amanda começou um interrogatório, perguntando a cada um qual era seu horário de consulta. A última pessoa questionada informou que estava agendada para às 16h05min.
        Em altos brados e em bom português, ela comentou que não estava atrasada, visto que a cliente das 16h05min. deveria ser atendida antes dela, mas ainda estava ali. Contou que no horário anterior levara seu pai a outro consultório daquela clínica.
        O monólogo foi prolongado, Amanda reclamava e, ao mesmo tempo, elogiava o Dr. Renan. Dizia que ele era um médico maravilhoso, competente, muito bom, mas agora estava se “bobiando.” Falava sem parar, balançava a cabeça dizendo que, quando o médico começa a ficar “bobinho”, está na hora de  partir para outro. Permaneceu sentada, firme ali na sala.
        Às  17 horas entrou no consultório a cliente das 16h05min. O Dr. Renan fechou a porta falando da falta de consideração das pessoas que não comparecem no horário e que querem ser atendidas.
        A cliente muito constrangida, ao presenciar toda aquela cena, foi logo, em bom tom, explicando que chegara quinze minutos antes da hora marcada .Ele deu uma volta na língua para explicar que não era nada com ela, pois a conhecia muito bem, mas que não iria atender a “coroa” exigente que estava impaciente.
        Enquanto ele lia os registros na ficha de controle, ouvia as ponderações da cliente que nem conhecia  Amanda. Ela informou  ao médico que ouvira os  comentários da moça, como:  “ele é um médico maravilhoso”, entre outros elogios.
        O clima tornou-se leve , dialogaram, ele fez algumas observações e  recomendações. Prescreveu a receita e solicitou o retorno da cliente. Levantou-se, enfatizando  o cumprimento de horário como atitude de respeito para com o profissional. Nesse momento, o médico foi surpreendido com um comentário habilidoso de sua cliente, quando lhe contou que aguardara mais ou menos quatro horas, além do combinado, para receber informações e orientações de outro médico daquela clínica. Ele descontraído, disse que os médicos podem atrasar, mas os pacientes não. A expressão dela falava.  "Ah! Sim, claro".
          Comentaram a importância de compreensão, em casos de emergência, de  ambas as partes.
        Dr. Renan parecia outra pessoa. Sorridente falou:
—Vou pedir desculpas a  Amanda.
Despediram-se e saíram do consultório.
O médico alegre, sorridente, dirigiu-se a Amanda e a convidou:
—Vamos passar, é sua vez.
           
 
 
 
 
       
 
Izabel Camargo
Enviado por Izabel Camargo em 22/10/2013
Reeditado em 22/10/2013
Código do texto: T4537187
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