A Mística do UM Centavo

O dinheiro é a moeda de troca do bem ou do mal que une os humanos? Por que fazem as guerras? Guerra pela guerra; guerra pelo domínio de território, ou fazem guerra em nome da paz? Um capuchinho em certa ocasião disse que “O dinheiro é o esterco do Diabo”. Estaria ele errado? Por outro lado, quando o assunto é dinheiro, sem pensar, armam a metralhadora disparam a frase: “Não há como viver sem ele”. Deve-se respeitar o jargão que manipula o inconsciente coletivo e domina a sociedade moderna?

A primeira lei no ensino da Economia diz que: “Economia é a aplicação e administração de recursos escassos”. Atente-se: “administração de recursos escassos”. Ocorre que o pouco em nenhum sistema econômico é bem administrado, pelo contrário, administram o muito e raramente, o pouco. Permeando essa miscelânea de teorias, que a principio tornam-se infundadas, quem e quanto os seres humanos necessitam para sobreviver? Um salário; mil pratas; duas, três, dez, um baú? Tornaria o uso do dinheiro um vício insaciável? Nova polêmica, por que biologicamente cinco copos de água e um prato de comida ao dia, o qual contenha os elementos básicos da nutrição, são suficientes para a sobrevivência humana. O errante moderno não encontra tempo nem para tomar água, a prova que quantos são os casos de infecções renais e de fígado. Um dos motivos é a falta de água para alimentá-los.

Se isto explica biologicamente o mecanismo de sobrevivência, por que corre-se tanto, escraviza-se tanto, deixa-se de viver tanto pelo dinheiro? Uma tese desenvolvida pelo Profeta do Arauto denota o seguinte: “Não posso ser escravo do bolso, que representa o suor e escorre de minhas faces; por extensão estaria sendo escravo do trabalho. Grande obséquio de vida estou fazendo, sendo escravo de mim mesmo. Sou merecedor desse mal"?

Escrevendo em nome dele, em certa ocasião, estando prestes a terminar o pequeno meio de sobrevivência, naquele momento precisava naquele preencher os ambientes para manter-se no futuro. Trabalho pesado. Indo tomar água, pegou o celular e nele havia uma ligação perdida de alguém que procurava o tipo prestação de serviço que ele oferecia. Rapidamente sacou uns cartões e dirigiu-se ao veterano orelhão. Quem demora dar o recado ou dorme muito, perde tempo; neste caso, um minuto pode ser tarde demais.

Estando ele a caminho, tropeçou numa ninhada de moedas enferrujadas e mal tratadas de um centavo. O volume e peso eram grandes e o total não passava de vinte e qualquer coisa de centavos. Agachou e como de outras vezes, pegou-as. Antes de lança-las no bolso, empunhou todas elas para o céu e disse: “Senhor meu Deus, aumentai para quem perdeu e não deixeis faltar nunca, jamais em meu bolso. Se for eu merecedor, triplicai o número destas moedas que acabei de achar. Dai em dobro, ou triplo, ou...para quem perdeu também”. Esta era a oração predileta daquele ser de costumes estranhos e esquisitos.

Feita a ligação, marcaram um horário. A pessoa chegou trazendo mais dois interessados e depois de negociarem, fecharam negócio com o filho do pretendente, ficando ele e os demais em seus domínios por mais de três anos.

Outra passagem insólita da Mística do Um centavo, foi quando ao adentrar o prédio da FFCLH na USP, mais precisamente no prédio das Ciências Sociais, viu uma moeda surrada, meio trapo velho, jogada ao pé da escada; porém sorridente e naturalmente, alegria de saber que seria reconduzida às mãos e mais tarde, ao comércio. Dobrou o corpo, pegou-a e cumpriu o ritual de recitar a oração criada por ele. O cidadão que morava em seus domínios e o acompanhava olhou para trás e resmungou: “O que foi agora? Além de bruxo, deu para falar sozinho”?

- Não. Ouça: enquanto não derem o real valor e pedir proteção para aquele que perdeu o que alguém achou, dificilmente o achado será abençoado. Todos querem achar; mas quem é que quer perder alguma coisa? Tudo na vida é questão de crença e fé, embora que Deus é único, onipresente e onisciente; no entanto, parece que os povos do mundo retratam os ensinamentos do Criador da forma que lhes convém. É um Deus para cada representante dele aqui na Terra. Para finalizar o sermão, porque teorizam uma coisa e praticam outra, preste atenção, vai aparecer alguém aqui já, neste instante e preencher a única vaga, que como sabes, é no seu quarto.

O cidadão empalideceu, cerrou os cenhos e disse: “Não duvido, não. Você é mesmo muito estranho”. Quando estavam colocando anúncios nos murais do saguão da História e Geografia, do nada, talvez do além, apareceu um “cara” alto de cabelos encaracolados e alourados, com uma bolsa nas mãos e ao vê-los, correndo aproximou-se e foi logo perguntado: “Estão procurando moradia”?

- Não, estamos oferecendo. Por que?

- Estou desesperado, procurando.

- Acabou de encontrar.

Levado à casa, deu o “fechado” de imediato. Foi o melhor amigo que a pessoa que acompanhava o Profeta conhecera durante o período em que esteve em São Paulo. Valorizar o pouco também pode ser gerador de boas amizades.

Diante dos parágrafos descritos, a crônica pode ser resumida em: uma analogia meio estúpida, mas que é ponto de partida, pode ser feita em relação ao dinheiro e o divino. A bíblia diz que: “Não se chegará ao Pai, a não ser conhecendo e seguindo os ensinamentos do Filho”. Já o dinheiro, pode-se afirmar e passa ser ponto pacífico, que quem valoriza o pouco, terá o suficiente para sobreviver e conforme o desejo, labor e suor, muito mais. A quantidade de dinheiro acumulado ou não, é proporcional ao real valor dado a ele, obviamente, desprovido de avareza e ganância; porque se pensarem o dinheiro como estrume transformado em adubo e semeado em plantações de modo geral, alguém estará sendo usado (direta ou indiretamente) pelo acumulador, o que é fato e clássico em praticamente todos os sistemas capitalistas humanos.

O Dinheiro abençoado por Deus deve ser o produto do sal derramado pelo rosto, em sentido literal da palavra suor; é a medida exata de nossa cumplicidade, desprendimento e gratidão para com ele e o próximo. O pouco com Deus é muito e o muito sem a benção de Deus... Todavia, o Profeta sente-se felizardo e rico; pois, praticamente todos os dias, encontra moedas de todos os valores implorando pela benção do Criador e mãos acolhedoras. Depois de tantos benevolentes exemplos, seu bolso nunca foi mais o mesmo, tornando-o mochileiro e aventureiro das descrenças humanas; obviamente transportando nela nada mais do que o necessário para sua sobrevivência.

- Fazendo valer a primeira lei da teoria do estudo da Economia, acredito que quem administra o pouco, terá grandes probabilidades de ter o muito; é questão de capacidade, competência e interesse do possuidor. Eu de posse do pouco, posso dizer que: “mixaria de dinheiro tenho muito, por isto, considero-me milionário”.

P.S.: Só pode achar dinheiro quem consegue sobreviver nesse fosso consumista com o mínimo e não tem dinheiro para perder. Contrário à perda, quem ganha em excesso e principalmente solapando o suor da face do rosto de seu semelhante, cavuca as fendas da competição e abre as covas que levam ao tesouro. Aí, salve-se quem puder, pois a matança advinda do poder maligno do ouro é proporcional ao ganho; dando razão à tese do capuchinho.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 11/04/2015
Reeditado em 11/05/2015
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