Minha fala por um desejo

ALÉM, muito além daquela cadeia de montanhas com muitos picos e quebradas, que ainda é da cor da safira no horizonte, nasceu Mem, um entre muitos filhos dos camponeses Sá e Isabel.

Mem, o jovem aspirante, que tinha os olhos grandes e brilhantes como duas pérolas negras, cresceu correndo todo o vale de sua terra, onde campeava atrás de seu rebanho. Filho mais novo tinha obrigação de cuidar da criação. Cumpria ao mais moço, além de pastorear o rebanho perto do lar, dormir em pastos distantes de sua casa.

Um dia, antes de o sol chegar ao seu apogeu, ele se encontrava junto à criação prestes a sair em busca de outros campos para as ovelhas pastarem. Veio o pai e a mãe e abençoaram o filho. Ele com um olhar encobrido por delgada lágrima partiu. Chegara a hora de ausentar-se, a hora de desbravar outros vales.

DEPOIS DE LONGA CAMINHADA, numerosos dias andando com as ovelhas. Ele vê a sombra cobrir o vale, e invadir seu ser. Então lembra-se do local onde nasceu, - muitas semanas longe do lar, a saudade trata de dá a impressão de distância e ausência extrema - dos pais e irmãos.

A vida sempre foi um desafio de sobrevivência para os entes queridos, mormente para os genitores e com ele seria da mesma forma. Uma oportunidade de mudar a realidade era o que ele aspirava.

O dia quase esgotado, sob a dureza duma gruta Mem hospeda-se. A criação já está toda junta, pronta para descansar. Minutos depois percebe as crias assustarem-se. Percebe também um vulto tênue que após um tempo, quando já estava deitado, resolveu aparecer.

Diante dele e todo a observá-lo está um homem velho de cabelos e barba longa, se é homem ou um caa-pora ele não sabe. "Quem és tu?", perguntou-lhe. "Sou um antigo sacerdote, entre os medos e persas, preciso de algumas ovelhas.", o jovem suspeitou que fosse um ladrão. "Não posso vendê-las por nenhum dinheiro."

"Eis o estorvo, meu jovem."

" Não vejo tolhimento algum, senhor."

"Não tenho dinheiro, estou a pedir algumas crias."

"Não posso dá-las. São a pouca riqueza que meus pais têm."

"Façamos uma troca. Darei-te um dom em troca de algumas crias. Tens uma quantidade razoável e não fará falta apenas três delas."

"Que tipo de dom?"

"Qualquer um que anseias ter."

"Qualquer um?"

"Sim, peças sem mais tardança."

"Desejo que meus pais tornem-se ricos comerciantes."

"E assim será."

QUANDO O SOL EXSURGIU expulsando a madrugada umbrosa ele estava pronto para voltar para seu lar, dessa vez seria diferente, estava com um experiência incomum e acordado com o velho mago que lho prometera o dom.

Os genitores alegraram-se ao vê-lo retornar. "Por que vieste tão sem demora?", perguntou o pai, ele gesticulou, sem o menor jeito, tentando explicar o porquê. "O que há contigo?" O trato foi dá riqueza aos pais em troca de sua mudez, nenhuma palavra deveria sair de sua boca pois do contrário o dom seria perdido.

Tantos dias passaram sem que o moço falasse se quer uma palavra. Os genitores ficaram muito perturbados porque o filho estava mudo, mas a felicidade era maior que qualquer perturbação, estavam ricos e embora não soubessem explicar a tamanha bondade de Deus ter dado tanta coisa a tanta pouca gente comemoraram o sucesso do comércio de lã.

Mem sentia-se feliz por eles, mas infeliz porque não podia falar. Um dia radiante, vieram ao comércio de lã um casal que trazia a bela filha. Mem ao ver a filha dos compradores ficou espantado com tamanha beleza que trazia a jovem em seu ser. Foi a primeira de muitas vezes que viu ela.

O pai pediu que ele fosse entregar um enorme rolo de lã para o casal de compradores. Prontamente foi ao endereço. A casa era branca e ornada de flores coloridas. "Bom dia!", disse o homem. "Não falas?"

A bela moça veio e pôs-se à janela. "Está é minha filha, tem como graça Ana." Mem em silente contemplava Ana. "Ela é uma bela moça, não achas? Gostaria de casar-se com ela um dia?"

"Sim, ela é uma bela moça e seria uma honra cansar-me com a bela filha que tens.", após ter falado percebeu que cometera um erro. Rapidamente tomou o caminho para o comércio. Temeroso não dormiu, ficou junto com as estrelas observando as ovelhas. "Talvez o velho sacerdote não saiba que falei, não fiz por mal...", seus pensamentos mostravam preocupação.

O ALVORECER TROUXE A PESTE, um mal veio abater a riqueza que tinham, pouco a pouco tudo foi fenecendo como um flor murcha ao ser arrancada. A eterna mesmice voltou e junto dela a mudez de Mem. Toda a alegria foi-se como veio. Pastor voltou a ser, não mais viu a bela moça e os compradores nunca mais vieram a comprar lã, dantes compravam para aproximarem-se pois a cobiça pela riqueza era o porquê da aproximação.

Numa noite teve um sonho com o sacerdote, ele disse-lho: "Desejo é uma vontade delicada, não é e nem tem intento formado com tino. Lembre-se disso jovem."

Leandro Ferreira Braga
Enviado por Leandro Ferreira Braga em 09/02/2019
Reeditado em 22/02/2019
Código do texto: T6570804
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