O BINGO DA CONFUSÃO

O BINGO DA CONFUSÃO

O leiloeiro estava intranquilo, nervoso pra valer, aquele Bingo tinha tudo para findar em confusão.Sua filhinha lhe trouxera as pedras num saquinho plástico que, furado, deixara peo caminho várias delas. Em cima da hora decidiu não cancelar o evento, havia turistas na cidade, parte dlees no tal Bingo e êle torcia que alguém "batesse" logo antes do fim das peças... ilusão inútil, chegou o derradeiro número ainda sem vencedores e anunciou o "fimda festa".

-- "BIIINNGGOOO... acabou o leilão" !

-- "Como assim, BINGO ?! Ainda faltam 4 casas no meu cartão... conrinue o leilão" !

-- "Acabou... não tem mais pedras, sinto muito" !

-- "Então, o vencedor sou eu, na minha cartela só faltam 3 números, passem o prêmio pra cá"!, retrucou um fazendeiro, famoso na região pelo dinheiro que tinha e pelas gafes que cometia.

-- "Nada disso"!, replicou um terceiro, "vamos pra mais uma rodada, também quero esse quadro"!

O quadro em questão não era um desenho ou pintura, mas bela foto em preto & branco de mãe e filha numa canoa em um riacho qualquer, registro eternizado dos sonhos e planos da menina e da mulher, momento feliz do olhar perito de Elza Lima. Por isso o Bingo atraíra turistas, conhecedores do trabalho artídtico desse grande nome da Fotografia. Fez-se novo leilão, porém como o Destino sempre rí por último, teve-se novo vencedor. Inconformados, todos exigiram a "negra" !

Decisão infeliz: outro vencedor e novo impasse ! Já se fazia tarde, quase 9 da noite e a discussão caminhava pro embate de corpos, braços e pernas. O leiloeiro viu sua crreira desgraçada até o fim dos seus dias, a dona da foto não o perdoaria jamais. Estava às portas de um processo por danos morais. Enquanto no salão de sua casa a altercação aumentava êle se dirigiu com a grande foto de 60 x 50 cm para a cozinha, ainda ouvindo as vozes alteradas.

-- "CHIFRUDO", você não entende de bosta de boi, vais querer a foto pra quê, cavalgadura" ?!

O "bronco" não se importava com os gracejos da cidade inteira, desde que pusera sobre a frente de sua "pickup" de luxo dois enormes cornos de boi, ridículos. Era sua esposa -- também difamada por conta dos caprichos do "boiadeiro" -- quem desejava a obra, fechando a "quadra" dos grandes nomes amazônicos da Fotografia.

-- "Amigo, pra mim foto que presta é a do boi fungando na arena, escoiceando pra derrubar o montador ! Isso aí de canoa no rio não me diz nada" !

Não tiveram tempo para continuar a discussão, o leiloeiro voltava "com a solução". Dividira a foto em quatro partes e deu-as para cada vencedor. Quase foi trucidado, lhe jogaram em cima as cadeiras do salão e êle "sumiu". Dizem que pegou um táxi e "desapareceu" da capital por vários dias. O fato foi manchete nos jornais da cidade, junto com a destruição de um bar famoso, nas proximidades, tudo filmado por celulares, testemunhas eletrônicas implacáveis dos acontecimentos atuais.

Mas, voltemos ao Bingo... saíram todos do salão pragujando contr o "vaqueiro", ninguém sabe porquê. Sua esposa bufafa de ódio incontido:

-- "ANIMAL, "miúra das cavernas", bastava "molhar a mão" do leiloeiro e êle pendia a questão à nosso favor"!, co o "quarto" do retrato na mão.

-- "Era só uma foto de canoa, por favor"!, protestou irritado.

-- "Só uma foto" ?!, esganiçou-se, transtornada.

-- "Por acaso essa "pickup" de 200 MIL é "só um carro" ?!

Calou-se, entendera as razões da esposa que, "marchand", contribuíra para lhe aumentar a fortuna.

-- "Ainda é cedo pra voltar pra casa, vamos pr'um bar" !

-- "Pr'um bar ? E o que vou fazer lá... streaptease" ?

Não era uma má idéia, pensou êle, a quarentona estava em forma, tudo "nos trinques". Parou no bar mais chique do bairro, seu dono tremeu, sabia da má fama do ricaço, dado a confusões. Confabularam por instantes, o proprietário meneando várias vezes a cabeça. Por fim, voltou pra ela com seu sorriso de vitória, que a esposa conhecia bem... dirigiu-se aos frequentadores mandando-os sair, contudo ninguém se mexeu.

-- "Pode quebrar o que quizer, querida, está tudo pago" !

O barman decidira aissitir a estória, a prmeira garrafa passou a centímetros do seu nariz indo espatifar o espelho centenário, herança dos bisavós, orgulho maior dele. A segunda garrafa "trazia seu nome". Agachou-se atrás do balcão até o fim da"quebradeira". O casal regressou às gargalhadas, bem feliz... ah, como é bom SER RICO !

"NATO" AZEVEDO (em 3/agosto 2020, 4hs)