Bem-vindos à Wonderland

Jonathan acordou de madrugada para ir ao banheiro. Ultimamente, aquilo vinha se repetindo com certa frequência, e a esposa o advertira sobre a necessidade de procurar um urologista, ao que ele retrucara que estava se sentindo perfeitamente bem. Isto é, tirando o incômodo de ter que esvaziar a bexiga de madrugada.

Ainda era noite fechada lá fora e ao apagar a luz do banheiro, ouviu uma pancada surda na casa ao lado. Parou, ainda com o dedo no interruptor, e ficou à espreita ouvindo. Agora, gritos. Não dava para entender as palavras, mas eram de homem. Depois, gritos de mulher. Gritos de dor. E o som de golpes e de objetos se quebrando contra o chão. Jonathan balançou a cabeça e voltou para o quarto, onde encontrou a esposa sentada na cama, no escuro, abraçando os joelhos.

- Isso é uma festa ou uma briga? - Perguntou ela.

- Os malditos drogados... - resmungou ele, sentando-se na cama. - Festa, briga por causa de drogas, quem vai saber?

- Não acha que devíamos chamar a polícia?

Jonathan suspirou.

- São nossos vizinhos, Pamela. E são bandidos perigosos. Se desconfiarem que demos parte deles, o que acha que poderá nos acontecer?

Pamela soltou os joelhos e estirou-se na cama.

- Estou cansada da porcaria desse bairro. Gostaria de poder mudar para bem longe daqui.

Jonathan deitou-se ao lado dela, fitando o teto do quarto.

- Quando nos mudamos para Los Angeles, você sabia da fama de Laurel Canyon...

- Sabia da história da contracultura e dos músicos famosos que moravam aqui... - murmurou ela, olhos semicerrados.

- ... e que davam festas regadas a drogas e álcool que duravam a noite inteira - atalhou ele.

Pamela virou-se para ele, olhos bem abertos.

- Artistas que dão festas é uma coisa... criminosos drogados é outra bem diferente, Jonathan.

- Artistas, drogados... a linha que separa uns dos outros é tênue - retrucou ele.

Na casa ao lado, soluços de mulher. Mais pancadas.

- Parece que estão se matando - comentou Pamela, apreensiva.

- Não seria má ideia. Matem-se, e o que sobrar, cometa suicídio.

E puxando o cobertor sobre si:

- De preferência, tomando veneno, para não fazer barulho.

- [10-11-2017]