Daniel (fim)

DANIEL (fim)

Após algum tempo a mãe de Daniel recobrou a consciência. Muito confusa ainda, recebeu novamente a fatídica notícia do suicídio do filho. O Delegado e a policial Fran a levaram para fazer o reconhecimento do corpo. Chegando no local ainda com muito choro e tristeza a Sra. recolheu os pertences que sobrou do garoto e assinou a papelada. Vindo em sua direção o Delegado interpelou:

-Sra. Eu sei que não é a hora, mas o Daniel estava sendo investigado, havia um possível envolvimento dele com um assassinato. - Disse o delegado consternado porém firme.- Podemos conversar por um momento?

- O meu filho já morreu. Eu pago hoje pelos meus pecados e enterrarei com ele o passado. A mãe de Daniel se culpara, talvez dali em diante sua consciência lhe acusaria, poderia se afundar cada vez mais no vício e tristeza esperando sua finitude.

-De que planeta a Sra. veio? Temos uma jovem assassinada a punhaladas e um suicídio! Um mistério! Me desculpe Sra. Pela sua dor mas a Sônia também tinha uma família. A Sra. Teve respostas, de forma tortuosa, mas a família dela e ela, merecem justiça. - Tamanha foi a cólera do Delegado que Fran se aproximou dele colocando sua mão sobre seu ombro na tentativa de sinalizar seu temperamento.

-Eu vim do mesmo planeta que o Sr.! - Respondeu a Sra. Com olhos arregalados.

-De que planeta eu vim? Continuou o Delegado virando-se calmamente.

-Planeta Fome! Miséria! Injusto! Dê o nome que o Sr. Quiser. Não me venha pôr sobre mim os problemas do mundo. Eu fiz pelo Daniel o que eu pude. Eu o amava. Mas chegou uma hora que não consegui cuidar nem de mim, quanto mais de uma criança. Sedar-me foi pra mim uma saída de continuar. Eu não tive a coragem que o Daniel teve. A coragem de desistir dessa vida maldita!

A Sra. Chorava e sem esperanças se recostou colocando a mão na parede fria e descascada, abaixou a cabeça e se calou, descamando a tinta da parede com sinais de ansiedade e raiva. Fran que estava perplexa com aquela situação, tomou a frente do Delegado e se aproximou da Sra. " Acho que o seu filho era uma boa pessoa, talvez estivesse perdido em desespero, acho que ele merece ter paz, e não ser acusado injustamente, mesmo em uma situação de autodestruição. Só precisamos de informações. Nada mais que isso". O Delegado se calou e olhou para o rosto da Sra. Rezando por dentro que ela falasse algo. Ele precisava dar um rumo para caso.

-Tudo bem, mas faço isso pelo meu filho. Que fique claro isso. Quero também que a inocência dele seja divulgada na mídia. É só o que peço.

A Sra. Sentou-se e ali mesmo começou a responder a todas as perguntas do Delegado e da policial. Naquele prédio, envolto de tantas pessoas mortas, de pessoas trabalhando, a vida e a morte andando juntas...mas os mortos não falam, é necessário que os que aqui ainda estão tenham esse senso de justiça e boa vontade em falar a verdade.

- Bom...então vamos começar; hamm...a Sra conhecia a jovem? - Assim iniciou-se o questionamento pela policial.

- Conhecia e muito. Ela e Daniel estudaram juntos desde a infância.

- Ok. Ele tinha algum envolvimento amoroso com ela?

-Apenas amigos, claro que eu como mãe sei que ele gostava dela, mas ela estava andando com pessoas, digamos, gente da pesada. Ele era amigo dela somente.

-Temos um vídeo no qual eles aparecem conversando muito próximos na boate. A Sra. Acha, ou suspeita que o Daniel...

-Ei! Sua pergunta é se meu filho usava drogas? Não! Ele era bom. Ele cuidava de mim. Não usava nenhuma porcaria.

- Tá certo. Quando ele estava dando depoimento, junto com seu advogado...

-Que advogado? Nós não temos advogados...somos pobres, viu onde eu moro? E como assim depoimento? Quando ele esteve na Delegacia. Ele saiu muito cedo de casa e...

-Sra. Calma. Vamos por partes. Ele estava com um advogado prestando esclarecimentos na delegacia. Podemos fazer uma busca na sua casa? Preciso do contato desse advogado. Daniel agia de forma estranha, talvez seu representante saiba de algo.

-Não quero ninguém na minha casa. Me ligue à noite. Eu mesma procurarei esse contato. Algo mais?

-Não Sra. Obrigado pelo seu tempo.

O Delegado pediu para Fran. Encaminhar ela para a sala de assistência social. A Sra. Pode conseguir algum benefício para o enterro. Finalizou o Delegado.

No dia seguinte o Delegado chegou na delegacia. E sobre sua mesa já estava anotado o telefone do advogado que representou Daniel. Vibrando e cruzando os dedos, chamou alguns policiais na sua sala, enquanto aguardava a vinda destes, tomou dois goles, um uísque seguido de um café forte logo cedo.

Delegando funções pediu que buscassem dados sobre o advogado e que trouxessem respostas antes do almoço.

Passando pelo corredor, na mesa de um policial, um jornal estendido, na manchete Daniel como suspeito de homicídio estava estirado no trilho do metrô. A intuição do Delegado pulsava, como um carneiro Daniel era inocente, e as palavras da mãe de Daniel veio como uma raio ..."planeta injusto".

A manhã passou rápido feito um vento, chegando as primeiras informações, o advogado estava com a carteira vencida e o seu nome estava envolvido em todos os casos de feminicídio.

O Delegado pediu que o chamasse para uma conversa sobre Daniel, sem que levantassem qualquer suspeita, designou a policial fran para sonda-lo e trazê-lo até a delegacia.

Já na sala de interrogatório, o Delegado iniciou a conversa e logo o advogado deu sinais que não estava nem aí para suas perguntas. Se esquivava bem, mas o Delegado queria fechar esse caso, a aposentadoria batia a sua porta.

Foram meses investigando, os ataques foram ficando mais violentos e mais frequentes, com um menor intervalo de tempo se descuidou deixando provas e testemunhas.

finalmente foi preso. O Delegado deu tudo para imprensa, limpando o nome de Daniel.

O ano acabou e ao conseguir sua aposentadoria o Delegado Carlos resolve retirar os pertences da sala, chamou Fran, deu-lhe os parabéns, devido ao sucesso do caso ele sairia da polícia deixando ela como tenente do distrito.

Despediu-se de todos e no caminho foi na casa de Daniel, foi recebido pela Sra. Do mesmo jeito que a viu pela última vez, cabisbaixa, a compleição esquelética... Mas ele havia mexido os pauzinhos, conhecia muita gente nesses longos anos como funcionário do departamento. Em sigilo conseguiu uma vaga em uma clínica de desintoxicação gratuita, queria ajudar, no seu íntimo era como se entrasse num nirvana, por ele, não por ela....por Daniel.

Esteja onde estiver a morte encontrará você mesmo que esteja em torres sólidas e altas. (Alcorão)

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 23/03/2018
Código do texto: T6288794
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