Os Segredos da Rua Baker 3: 18- Violino

Acidentes acontecem, todos sabem disso; todos repetem isso. Mas quando se trata da família Holmes e seus associados... Bem, nada é um mero acidente.

John fez questão de acompanhar Irene a casa do tio. Também a fez prometer de se encontrarem todos os dias para ele ter certeza de que tudo corria bem.

-Não seja tão dramático, John! – Ela disse tomando um gole de uísque oferecido pelo mordomo.

-Irene, você vai todas as noites encontrar-se comigo... O que está fazendo? Você deu sua palavra sobre não beber.

-Foi? – John mostrou uma cara de insatisfação saindo em seguida. – Oh merda! John! – Ela largou o copo na mesinha e correu atrás do inspetor. – John, espera...

-Você sabe que aceitar qualquer coisa nessa casa é extremamente perigoso. O seu tio pode e vai te drogar de novo. Se ele fizer isso, você não será capaz de me avisar...

-Oh, calma! Ele não vai mais fazer isso. Sigerson sabe que tenho você como plano de resgate. Ok. Se é tão importante assim. Só vou beber o que eu comprar.

-Melhor se não bebesse nada.

-Não força.

-Certo... O que comprar. A gente se vê a noite naquele mesmo bar de antes?

-Passe na 221B essa tarde, Sherlock me mandou mensagem.

-Algum problema?

-Saberemos em breve.

Na sala, Sigerson esperava o retorno da sobrinha, nesse meio tempo, ele aproveitava para ler um jornal. Irene sentou-se no sofá encarando o copo de uísque que ainda se encontrava na mesinha de centro. Sigerson a observou por um segundo antes de dizer:

-Relacionamentos...

-Nem me fale. Vou me trocar para as obrigações do nosso acordo, mas a tarde tenho um compromisso pessoal, não sei quanto tempo irá durar. – Ele parece não gostar. – Lembre-se que estou aqui por minha vontade e não pertenço a você. Seus truques baratos não serão mais aceitos. Se acontecer de novo, eu caio fora pra sempre. Você não me verá nunca mais.

-E deixaria sua família a minha mercê tão facilmente?

-Entenda Sigerson, eu não sinto mais aquela necessidade de protegê-los. Eles podem se virar muito bem sem mim.

-E quando ao seu bichinho?

-Coloque um dedo no John e eu o perseguirei até conseguir arrancar toda a pele do seu corpo. Não será divertido como agora. Eu apenas o matarei. Estamos entendidos?

Sigerson balançou a cabeça afirmando. Irene se encaminhou para o quarto.

John aproveitou um momento de folga para marcar um encontro com a garota do parque. Ele precisava lhe pedir desculpas por não ter aparecido na lanchonete e nem ter entrado em contato até então. Zoe aceitou com falsa hesitação.

Em um café perto da 221B, John aguardava tomando um cappuccino oferecido pela dona do local. A velha amiga da Irene o reconheceu de fotos de jornais tiradas após alguns casos de pessoas famosas terem sido resolvidos.

-Devo minha vida a Irene, portando nem o dinheiro dela e nem de seus amigos são aceitos aqui. Pelo bem dos meus negócios, fico feliz por ela não ter muitos.

A mulher saiu toda sorridente em direção à cozinha.

Zoe não demorou muito, ela se colocou sentada na frente do inspetor com uma cara de não muitos amigos. Logo começou a falar sobre estar muito ocupada e por essa razão precisava que a conversa não se demorasse.

John contou meias verdades a respeito do acidente de uma pessoa que contava muito em sua vida. Não podia simplesmente deixa-la sozinha naquele momento. Por esse motivo acabou esquecendo-se do encontro, pois tudo havia acontecido tão rápido que mal conseguiu pensar em qualquer outra coisa.

Ela o ouviu com muita atenção, em seguida sorriu.

-Se é assim – disse ela – nós podemos...

-Não. Zoe, eu realmente precisava te pedir desculpas pelo meu comportamento, porém prefiro encerrar essa relação que nem chegou a começar.

-O que?

-O meu noivado terminou por situações semelhantes a essa se repetirem com certa constância.

-Essa pessoa seria aquela mulher que vi com você no parque e no bar? Ela é a Irene Holmes, não é? A detetive?

-Sim. Eu costumo ajudá-la nos casos, por isso, e pelo meu próprio trabalho, acabo sendo muito ausente em relacionamentos. Mesmo minha noiva trabalhando comigo, ela se sentiu deixada de lado.

-Você gosta dela? Ela parece gostar de você. Irene me ameaçou naquela noite no bar. Ela é uma louca, pensei que fosse me matar.

-Sério? Zoe, essa profissão é bem perigosa e a Irene tem passado por uns problemas. Acho que isso a fez bastante paranoica. Apesar de não parecer, ela é protetora com as poucas pessoas ao seu redor.

Com um movimento rápido, ela retirou o cachecol de seu pescoço deixando visível marcas roxas.

-Ela é louca e não protetora. – Zoe afastou uma lágrima com a mão. – Não devia confiar nela.

John parecia perplexo, ele balançou a cabeça afastando um pensamento. Ela parecia bastante amedrontada. John pôs sua mão sobre a dela como um geste de conforto. Ele garantiu, mais de uma vez, ter inteira confiança na Irene. Justificou o ato dela da melhor maneira possível e, por fim, assegurou ser mais sensato, para Zoe, ficar longe dele. Por mais que ela tentasse, John preferiu encerrar a conversa naquele ponto.

-Não posso te dá o que deseja, Zoe, pois já gosto de alguém. Ela pode não ser fácil e nem sentir as coisas como todo mundo, mas não mando no meu coração. Eu sinto muito mesmo.

Com isso levantou-se da mesa e foi embora.

Zoe estava transtornada por ter sido rejeitada, pois isso não acontecia. Nunca. Ainda mais se tratando de um mero inspetor. Ela apertou a xícara pensando em como o faria pagar por tamanha humilhação.

Sherlock tomava um chá sentado em sua antiga poltrona quando Irene adentrou com John. Ele se mostrou curioso em saber a razão dela ter convidado o inspetor para a conversa deles.

-Desde quando conversamos sobre algo que não está relacionado a trabalho? – Irene perguntou.

-Posso sair se preferirem.

-Não! – Disse Irene.

-Sim. – Sherlock acabou falando no mesmo momento que ela.

-John fica!

-É sobre sua mãe.

-E daí? John fala mais com minha mãe do que eu. – O inspetor a encarou surpreso. – Sim, eu sei sobre os telefonemas diários.

Sherlock os corta antes que o inspetor possa comentar a respeito. Ele explicou o quanto Lilian andava nervosa e precisava vê as filhas de perto. Diana já havia passado por lá no fim de semana. Conhecendo Irene, ele preferiu falar pessoalmente.

Lilian vinha tendo pesadelos após ter recebido um telefonema. Essa ligação foi como um gatilho para lembranças adormecidas de seu período em cativeiro.

Irene o escutou atentamente, então decidiu que iria ainda aquela tarde para a casa dos pais. John precisou de uns minutos, mas conseguiu convencer Irene de que precisava ficar em Londres por causa do trabalho. Na calçada ele se despediu rapidamente indo em direção ao carro, enquanto Sherlock e a filha esperavam por um táxi.

Pouco antes de uma explosão acontecer, Sherlock puxou Irene e a protegeu em seus braços. Ela logo percebeu de que lado vinha o barulho.

-John! – Havia certo tremor em sua voz.

Ela tentou correr até lá, mas Sherlock a segurou com mais força.

-Irene, vai ter outra explosão!

-Eu não me importo!

Ela lhe deu um chute na canela e uma cabeçada conseguindo assim se livrar do pai. Quando Irene se direcionou ao local outra explosão aconteceu. Ao acertar o chão, ela olhou imediatamente tentando enxergar algum sinal do inspetor, porém viu seu carro esmagado por pedaços de concreto.

-Não, não, não, não. JOHN!

Com ajuda do pai, Irene conseguiu levantar rapidamente. Os dois foram juntos verificar os escombros. Os bombeiros chegaram sem muita demora, porém Irene se negou a sair dali. As mãos dela já estavam bem machucadas quando Sherlock conseguiu convencê-la a parar um pouco.

Por sorte, John ficou protegido entre um enorme pedaço de concreto e a parede. Isso o livrou da morte, mas não de profundos ferimentos. Irene explicou ao Sherlock para qual hospital deveriam levar o inspetor.

-No caminho ligue pra Alex. Ela irá providenciar tudo que for necessário.

-Irene...

-Eu não vou mudar de ideia, Sherlock.

-Tome cuidado.

-Oh, Sherlock, não sou eu quem tem de tomar cuidado.

***

Na 221B, Irene estava sentada na sua poltrona terminando sua segunda garrafa de uísque enquanto pensava nos últimos acontecimentos. Ela havia passado o restante do dia fazendo movimentos para encontrar quem apertou o botão da bomba, pois já tinha em mente quem seria o mandante e não tinha muita liberdade para puni-lo. Pelo menos por enquanto.

-O que você usou? – Sherlock perguntou ao entrar.

-Nada. – Ele fez um barulho com a garganta. –Ok. Álcool e um pouco de morfina pela manhã.

-Precisa de mais?

-Não... Sim... Vou precisar esperar por um longo tempo. Isso me deixa inquieta.

-Você não perguntou...

-Alex costuma me mandar relatórios.

Sherlock pegou o violino e começou a tocar. No entanto, ele parou após alguns minutos.

-Você queria aprender quando criança.

-E isso nos levou a sermos sequestrados pelo Morse.

-É uma ótima forma de pensar. Você pode passar horas tocando enquanto decide o melhor caminho para seguir com seus planos e quando termina não precisa de um café forte para conseguir agir de forma eficiente.

Irene o observou voltar a tocar ponderando suas palavras até que decidiu levantar se retirando da sala. Sherlock achou que sua conversa não tinha surtido efeito algum na filha e ficou um pouco admirado ao vê-la retornando com um violino nas mãos.

-É do John. Ele não irá se importar.

Sherlock deu início a aula que deveria ter acontecido há muito tempo. Ela aprendia rápido, como era de se esperar. E assim pai e filha passaram a noite tocando juntos.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 05/06/2018
Código do texto: T6356428
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