O menino da água foi quem descobriu o túmulo

Os dois astrônomos estavam no cume da montanha com Sirius Alfa na mira dos seus olhos. A noite estava propícia à investigação celeste. Noite escura. Sem Lua, muitas estrelas no céu, várias delas inexistente ou em processo de extinção. A grandeza do universo sempre inebriou os exploradores das estrelas, mas aqueles naqueles dois estudiosos havia um escopo de religião. A luz de Sirius Alfa na constelação de Touro era o augúrio de novos tempos. Aquele local seria o santuário para a passagem interestelar. O mais jovem aproximou-se do outro e, dedo em riste no éter, virou-se de súbito e com força, em direção aos olhos alheios. O outro caiu ao chão e logo viu o rapaz por cima dele, a desferir socos. Foi um combate sem trégua por vários minutos, sangue nas mãos e sem favoritos. Apesar da diferença de vinte ou mais anos, conseguiu dominar a luta com uma joelhada bem colocada na face esquerda do jovem. O tempo em que este ficou atordoado foi o suficiente para o mais velho dominá-lo por trás, com o antebraço ao pescoço, mantendo a firmeza no torque até o sufocamento. Um vento frio passou a soprar de modo incomum para aquela hora da noite. Um corpo cansado pela luta e outro sem vida. Com uma ferramenta e grande esforço físico, houve o enterramento, não antes do ritual funerário que o morto merecia pela sua condição.

Passaram-se os anos. Outros investigadores estavam agora por perto. Usavam a vanguarda da ciência para que seus métodos investigativos fossem cada vem mais eficazes e rápidos nos objetivos colimados. Havia muito dinheiro em jogo. Um financiador estava patrocinando a investigação. Não se mediam recursos. Veículos, mão de obra, suprimentos e tecnologia a disposição. Infelizmente, tudo se mostrou insuficiente. Não se conseguia encontrar o local onde o cadáver estava enterrado. Sem o corpo, nada se poderia concluir. Quem era ele? Qual o motivo de seu sumiço ainda jovem? Onde estão suas riquezas? Porque não se descobriu antes ou será que já era de conhecimento de outros, que acharam e novamente esconderam os restos mortais? Nada surgiu. Uma frustração se alastrou na equipe.

Até que, aquele garoto que trazia água aos trabalhadores na busca, o menino da água, como o chamavam, encontrou uma parede de pedra , onde a agua empoçada não escorria ou secava ao solo. Aquilo era uma lápide de pedra granítica, mas para ele era apenas uma pedra muito grande, impermeável e dura. Ele mesmo se encarregou de cavoucar, até surgirem sinais estranhos na rocha maciça. Uma ave, um lobo e uma serpente, desenhados lado a lado. Isso era assustador ao garoto.

A noite chegou e o menino falou para seu pai de símbolos estranhos que encontrou. Ambos foram às escuras ao Vale dos Reis. No alto da rocha, na vertente da montanha, a luz da estrela mais forte no céu escuro era perpendicular à grande rocha. Apagou a luz que trouxera e no breu da noite, só se via o verdadeiro portal de um túmulo sob a luz de Sirius Alfa.

O pai do menino da água avisou os investigadores que vieram imediatamente para a abertura do túmulo do grande faráo jovem Tutancâmon, o maior achado arqueológico do Século XX, repleto câmaras mortuárias com seus tesouros, numa rara tumba não profanada no Vale dos Reis, Egito.

O investigador Howard Carter, chefe da equipe de arqueólogos e trabalhadores locais, bem como seu patrocinador Lord Carnavon, atingiram em 1922 todo o glamour das celebridades da honra e glória do Império Britânico, contudo morreram sob mistérios, versões ocultistas e na lenda da maldição da múmia de Tutancâmon.

Concluo o conto e, em minha defesa, tenho a dizer que era para ser um conto policial, nos tempos atuais, com obscenidade e modismos inerentes, mas minha verve histórica foi maior e no meio do caminho, enveredei para um conto policial do Egito antigo. No entanto, posso garantir que, arqueologicamente falando, foi constatado que o jovem Tutancâmon lutou pela vida e morreu nas mãos de seu tio usurpador, o qual o havia trazido para seu túmulo recém preparado no Vale dos Reis , onde seria enterrado vivo à luz de Sirius Alfa. Lutou e quase venceu por sua vida, se não fosse a joelhada na face esquerda.

De tudo que escrevi, é sempre bom saber a verdadeira verdade:

- O menino da água foi quem descobriu o túmulo.