O telefone de Próspero

Um aparelho de telefone pode se transformar numa indelével arma mortífera. Nos presídios, os aparelhos celulares representam vida e morte, dentro e fora.

Não importa de onde estivesse, Virgílio Próspero desenvolveu uma técnica especial e única de tornar o acesso a uma ligação por telefone, numa arma potente. Ocorre assim. A mensagem que circula por telefone é o estopim de surtos de histeria grupal. Essa é a base de sua letalidade. Podem ser sustos, dança ou depressão. Não se trata de hipnose, mas de ciência comportamental das massas. Como especialista em programação neurolinguística , em desenvolver códigos e estabelecer comunicação, o ex-policial era capaz de fazer um grupo de pessoas entrar numa epidemia de risos, a partir de uma ligação telefônica em viva voz. Num telefonema podia desencadear uma agonia profunda no ouvinte incauto. No ambiente prisional, aprimorou as práticas de simulação de sequestro de pessoas no ambiente externo para extorquir valores dos parentes das pretensas vítimas. Ele e poucos detentos escolhidos se reuniam no pátio de sol ou numa oficina para criar expressões e sons para estimular e simular angústias e credibilidade. Foi com este "up grade" que conquistou definitivamente a simpatia das lideranças criminosas pelo país.

Houve época em que havia exposto seus procedimentos em congressos de PNL, sem grande alarde, uma mera curiosidade para muitos, pois não se via uso lícito ou econômico para tais técnicas. Pelo contrário, seus experimentos iniciais na faculdade em Minas Gerais, na qual tinha ascendido como professor de medicina forense, foram sempre festejados. Aliás, o professor Virgílio Próspero era presença frequente como paraninfo de formandos, pois algumas de suas palavras proferidas nos discursos nestas solenidades faziam a plateia ter reações coletivas concatenadas: ora risos, na maioria dos eventos, por vezes gargalhadas, nestas sempre com prévias manifestações de simpatia, porém em não raras ocasiões, ocorreram desfechos com interações grupais de espanto, quando o o objetivo da turma era vingar da comunidade acadêmica. Na penitenciária federal de Rondônia percebeu a oportunidade de aplicação com adequação às ligações telefônicas dos detentos.

Virgílio Próspero, indiretamente, por seu aprimoramento da verbalização e disseminação da técnica, foi o responsável pela extorsão de dezenas de milhares de sequestros forjados por todo país que rechearam os cofres de organizações criminosas, e até, pelo treinamento em PNL aos líderes do PCC em São Paulo. Não foi por acaso que, aprimorar seus requisitos de comunicação, foi o verdadeiro motivo pela qual os transferiram dos presídios paulistas em 2019, diretamente ao presídio federal em que Virgílio Próspero estava preso. O poder de manipulação das organizações criminosas brasileiras nos bastidores das autoridades judiciárias era incrível. Para a imprensa foi dito que o governo paulista e federal antecipou uma desarticulação da cúpula do PCC, frente a possíveis rebeliões nos presídios, crimes e quebra-quebras nas ruas. Mas, a verdade era outra. Simplesmente, a movimentação dos irmãos Marcola e demais foram deslocamentos para estes realizarem o curso de pós-graduação no Presidio Federal de Rondônia, ministrado pelo professor Virgílio Próspero.

Em sua exposição inaugural aos ditos detentos, Virgílio Próspero contou sobre o episódio histórico ocorrido na Tanzânia, em 18 de março de 1962, numa aldeia chamada Kashasha, perto do lago Vitoria, envolvendo três alunas da escola, as quais tiveram um incontrolável acesso de riso, desencadeado por uma piada, nem tão engraçada. Em algumas horas, metade da escola estava incapacitada por causa das gargalhadas. Algumas pessoas tiveram surtos de riso apenas por minutos, outros riram incessantemente por até 16 dias. Em cinco meses, a escola foi fechada pela crise do riso, mas a epidemia se espalhou pelas margens do lago e fechou mais 14 escolas. Dois anos depois, em 1964, as gargalhadas desapareceram por completo.

Tudo isso foi histeria epidêmica, devido a um ato manipulativo de comunicação. O nome científico é doença psicogênica em massa (MPI). O estudioso Charles F. Hempelmann, da Purdue University , lançou a hipótese de que o episódio foi induzido por estresse em pessoas sem muito poder : O MPI é o último recurso para pessoas de baixo status. É uma maneira fácil para eles expressarem que algo está errado. “ Aprimorando esta teoria Virgílio Próspero desenvolveu técnicas gestuais e verbais para desencadear MPI em todos os segmentos sociais, ao tomar por base os conflitos. Para ele, o cérebro humano constantemente se adianta aos acontecimentos e gera hipóteses. No entanto, às vezes leva ao conflito, por exemplo, quando se tenta lidar com duas ou mais ideias contraditórias ao mesmo tempo. Decorrem disso, o riso, a gargalhada, o choro, a angústia, a falta de ar, os desmaios emocionais, a euforia, etc.

Existem casos fatais em agravamentos de cada um destes sintomas. Esse era o objetivo oculto de Virgílio Próspero.