O ardil de Próspero

Um dia em que o museu estava fechado, uma segunda feira, 21 de agosto de 1911, Vincenzo Peruggia adentrou no Louvre e saiu de lá sem ser visto. Nos braços, a obra-prima de Leonardo da Vinci, a Mona Lisa. A inspiração para a façanha veio da existência de poucos guardas, de um sistema de segurança falho e da recém implantação de um sistema tido como mais eficaz, no qual ele era um dos operários que instalou o vidro protetor da pintura. Aproveitou o macacão branco dos trabalhadores para circular sem ser notado, já que é invisível quem trabalha duro em ambiente de intelectuais. Seu roubo gerou uma comoção mundial. Tornou-se uma questão de estado na França. Foi o primeiro crime contra a propriedade na história a receber a máxima atenção mundial. A Mona Lisa desapareceu por cerca de dois anos. Foi recuperada sob o colchão da cama de Vincenzo Peruggia, após ter ofertada a pintura renascentista para o antiquário Alfredo Geri, de Florença, na Itália. Durante as investigações, quando os jornais franceses nada mais tinham a dizer sobre o roubo, muitas histórias foram inventadas. Criaram enredos grotescos de como Leonardo da Vinci havia se apaixonado pela senhora ("mona" em italiano) Lisa Gherardini, esposa de Francesco Bartolomeo de Giocondo. Com base em ilações, a polícia francesa prendeu por uma semana o poeta Guillhaume Apollinaire. Nas vãs acusações dos folhetins e hebdomadários, até um jovem pintor, chamado Pablo Picasso, entrou no rol de suspeitos, sob alegada fascinação nutrida pela "la Gioconda", cujo significado transverso é "alegre" em espanhol.

Um dia em que ainda era policial atuante, meses antes de sua prisão e condenação na Justiça, uma quarta feira, 14 de março de 2018, início de noite, Virgílio Próspero adentrou no Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro e saiu de lá, sem ser visto. Nos braços, a gravação de câmeras de monitoramento de um automóvel Chevrolet Cobalt preto, dirigido por Elcio Queiroz, mas de propriedade de um vizinho de condomínio do Presidente da República, chamado Ronnie Lessa, um sargento reformado e manco da PM, depois que uma bomba explodiu em seu Hillux blindado, pai da ex-namorada de um filho do Presidente, um excelente atirador envolvido até o pescoço com milícias e contraventores, tido como o provável matador da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Estava acompanhando pelas ruas cariocas, as operações suspeitas do miliciano naquela noite quando ocorreu o crime filmado nas câmeras de alta resolução, pois o sargento PM que atuou como adido militar em delegacias especializadas da Divisão Antissequestro (DAS) , agora dominava uma milícia em Jacarepaguá, além de explorar caça-níqueis em Rio das Pedras, onde circula até em veículos blindados (sua Hillux), com escolta. A inspiração para a façanha veio da oportunidade de existência de poucos operadores, de um sistema de segurança falho e da recém implantação de um sistema tido como mais eficaz, no qual ele era um dos policiais que instalou o sistema de monitoramento das ruas do Rio de Janeiro. Aproveitou o crachá policial para circular com a gravação sem ser notado, já que é invisível quem detém alguma forma de poder. Seu roubo gerou uma comoção mundial. Quem matou Marielle Franco? Onde estão as imagens gravadas? Tornou-se uma questão incidentalmente batida em todos os assuntos da imprensa brasileira descobrir quem seriam os seus matadores. Foi o primeiro crime político na história do Brasil a receber a máxima atenção mundial. Os assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes ficaram anônimos por cerca de um ano. Foi recuperada a gravação sob os cuidados de Virgílio Próspero, após ter ofertada a dita filmagem do monitoramento para a cúpula do PCC, de São Paulo, presa no presídio federal de Rondônia, intencionando a dar a esta, um certo poder de barganha. O PCC, então passou as imagens para o Ministério Público Federal, em troca de algo valioso. Durante as investigações, quando os jornais brasileiros nada mais tinham a dizer sobre o crime, muitas histórias foram inventadas na internet. Criaram enredos grotescos de como traficantes de drogas dos morros cariocas haviam se desentendido e "queimado o arquivo" na matança da vereadora Marielle Franco ("política esquerdista, lésbica e negra" para certos brasileiros), companheira de Mônica Tereza Benício. Tudo começa a mudar quando, com base em meses de investigações, a polícia carioca prendeu no início de 2019, o major Ronald, vulgo Tartaruga. Esse policial reformado foi homenageado em 2004 pelo então deputado estadual e atual senador, filho do Presidente da República, que propôs uma moção de louvor a ele na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a mesma que ofertou um ano antes ao ex-capitão, expulso do BOPE, Adriano da Nóbrega, cuja mãe trabalhava em seu gabinete. Nas ilações dos folhetins e hebdomadários, até o nome do jovem capitão Adriano da Nóbrega, entrou no rol de suspeitos, sob alegada fascinação nutrida pela eliminação da vereadora Marielle Franco, cujo significado transverso é "pura", num diminutivo do nome Maria.