Terror no DOI CODI crónica de um desaparecido

'Este conto e fictício, tanto quanto seus personagens".

"Que as lembranças nunca morram nem dentro dos justos, para que nunca mais aconteça, nem dentro dos assassinos para que lembrem sempre do mal que fizeram ".

O autor.

Segundo a CNV (comissão nacional da verdade) instaurada em 2014 pela então presidenta Dilma Rousseff 191 pessoas foram asasinadas e 243 encontram-se desaparecidas, mais de 20 mil foram torturadas no período de instauração do golpe militar de 1964 , sendo que a grande maioria ocorreu durante o regime.

A partir de 1968 começavam os piores anos da ditadura, também chamados de anos de chumbo, tanto o DOI CODI quanto o DOPS prendiam, torturavam e matavam todos aqueles considerados "subversivos" ou antagónicos ao regime. A maioria destas pessoas eram jornalistas independientes, estudantes e trabalhadores.

Dona Yolanda era mãe solteira de quatro filhos, três homens adultos e uma menina de 17 anos chamada Yasmin, os três filhos mais velhos já tinham ido embora de casa e Yolanda cuidava somente da casula, seu orgulho, menina dedicada aos estudos, a única que ela pôde incentivar para ter uma vida melhor.

As duas moravam num casebre no bairro de Jabaquara zona sul de São Paulo, Yolanda era diarista e nas horas que sobravam costurava pra fora.

Em setembro de 1967 Yasmin estava eufórica tinha conseguido o que naquela época era um milagre, passará no vestibular da USP e agora poderia entrar no curso de história e ser professora, não via a hora de contar para sua mãe.

2 de março de 1968.

Yasmin estava maravilhada com a estrutura académica da USP, tudo era novo ali um verdadeiro mundo a ser explorado, havia uma movimento efervescente e ela já tinha consciência do momento que o país atravessava, já havia visto a repressão e sabia das lutas que a aguardavam daí pra frente.

Nos próximos messes a USP seria marcada por graves violações aos direitos humanos, contra docentes, alunos e funcionários. Yasmin que já tinha um censo cidadão e crítico apurado deu o derradeiro passo, aquele que em última instância selaria seu destino, acabara de entrar na UNE ( união nacional dos estudantes) como forma de se aproximar da luta contra a repressão.

18 de agosto 1968.

Dona Yolanda estava preocupada, a filha nunca se atrassava e se fosse chegar mais tarde sempre avissava, tinha saído de casa as duas da tarde e já eram oito horas da noite, as aulas iam até às seis horas, algo estava errado e seu coração batia num descompasso tremendo pois sabia das historias que aconteciam principalmente com estudantes da USP.

As horas passaram e ela percebeu que algo tinha acontecido e agora o desespero já tomará conta dela.

18 de agosto de 1968 18:30 PM.

A reunião fora marcada para logo após o fim do último período do dia , assim era mais tranquilo e poderiam debater as próximas pautas da luta contra a ditadura, as coisas estavam indo de mal a pior e agora a violência e a brutalidade já passavam dos limites, inclusive varios estudantes desapareciam, alguns voltavam outros não.

O local era num endereço escondido pois a essas alturas já não dava para se reunir na universidade, era como estar dentro da boca do jacaré.

Yasmin que era uma das mais ativas do grupo preparava-se para ler as pautas da reunião quando a porta veio a baixo, ela sentiu um golpe muito forte na cabeça e a escuridão sobreveio.

19 de agosto de 1968 9:00 AM.

O DOI CODI de São Paulo ficava na rua Tutóia no bairro Paraíso e era comandado pelo oficial Carlos Alberto Brilhante Ustra que depois seria reconhecido por ter sido o maior e mais brutal torturador do regime militar. Yasmin acordara desorientada e com uma forte dor na cabeça fruto do impacto da coronhada que levará horas atrás.

Enquanto sua cabeça doía Yasmin ouvia gritos e xingamentos de toda ordem mais o capuz não a deixava enxergar nada, o que tornava a situação ainda mais angustiante.

20 de agosto de 1968 19:51 PM.

Quando finalmente tiraram o seu capuz Yasmin tinha perdido a noção de quantas horas já tinham se passado, uma luz forte e brilhante batia no seu rostro, depois de alguns minutos conseguia ver o reflexo de uma figura masculina, apresentou-se como Coronel Ustra e queria respostas para algumas perguntas, Yasmin já ouvirá falar desse homem, e sabia que as coisas iam piorar muito daí em diante.

Com voz calma e paciente perguntou- lhe quantos mais faziam parte daquela célula terrorista, queria nomes, mais Yasmin não estava disposta a entregar ninguém, o coronel perdendo a paciência desferiu-lhe um tapa tão violento que arrancou três dentes da frente fazendo com que o sangue quente banhasse seu pescoço, além de entrar na sua garganta sufocando-a.

Algum tempo depois o interrogatório fora retomado, com as mesmas perguntas, todas parecendo fazer parte de um protocolo, desta vez retiraram suas roupas amarrando suas pernas abertas, agora não era mais o coronel qua á interrogava, mais alguém com uma voz quasse metálica dizendo que se ela colaborasse poderia ver sua mãe novamente.

O homem abriu uma caixa retirando uma ratazana que em seguida introduziu dentro da sua vagina provocando espasmos de dor indescritíveis, Yasmin desmaiara novamente e os agentes sabiam que nada sairia da boca daquela garota.

Numa última tentativa de obter informações foi levada para outra sala onde havia um pequeno tanque cheio de água e fezes, o agente mergulhava sua cabeça até quasse afoga-la, isso durou mais de uma hora, Yasmin já não sentia dor, nem desespero apenas esperava.

21 de agosto de 1968 2:30 AM.

Yasmin e mais três subversivos foram levados a um lugar issolado e distante da cidade, havia uma grande valeta ou cova rasa de não mais que setenta centímetros de profundidade, abaixo de tapas foram obrigados a ajoelhar a beira da cova.

O estampido durou menos de um segundo Yasmin sentiu a paz da liberdade que tanto defendera.

Sabia que a história não a esqueceria.

Diego tomasco.

Dedicado a todas a mães que ainda esperam seus filhos voltar...

Diego Tomasco
Enviado por Diego Tomasco em 23/11/2021
Reeditado em 02/12/2021
Código do texto: T7392348
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