Mão Negra - Capítulo 2

Mão Negra

Capítulo 2

Manuel Clemente chegou ao lugar onde se esconde suado, exausto e um pouco mais rico também. Quinze mil reais em uma só noite não é uma coisa que acontece com frequência. Ele abriu a outra bolsa e conferiu com cuidado o seu conteúdo. Celulares, anéis, tablets e relógios, tudo isso ainda deve-lhe render uma boa grana. Manuel é produto de uma família sem base alguma. Sua mãe foi uma mulher que, ainda na adolescência sofreu abuso sexual e acabou engravidando de seu agressor. Seu irmão mais velho cresceu assistindo as surras dadas pelo padrasto em sua mãe todos os dias. Mesmo em meio a esse inferno, a garota engravidou pela segunda vez. Aos sete meses de gravidez, seu padrasto a surrou tão violentamente que ela precisou ser hospitalizada, mas graças a Deus o pequeno Manuel não sofreu nada. Após uma semana de internação, sua mãe teve alta e infelizmente ela pôs em prática o que planejou enquanto estava naquele leito. Seu padrasto dormia no quarto quando foi esfaqueado até a morte aos gritos de “vai agredir mulher no inferno, seu covarde". A polícia chegou e não houve resistência. Sua jovem mãe foi levada algemada com o rosto sujo pelo sangue do miserável. Manuel Clemente nasceu na prisão e foi adotado por outra família. Clara Clemente se envolveu numa confusão entre as presas e acabou sendo estrangulada.

Nessa nova família Manuel não era bem vindo pelos filhos do casal. Sofria com chacotas e até humilhações. Quando atingiu a maior idade ele resolveu sair de casa e construir sua vida sozinho, foi quando conheceu o submundo do crime. A princípio Manuel agia com mais dois companheiros. Eles roubavam lotéricas e postos de gasolina, tudo era dividido em partes iguais até que um dia Clemente se viu roubado pelos próprios amigos. Fora de controle, Manuel sacou sua arma e os matou ficando com todo o dinheiro do roubo.

Mão Negra. De onde ele tirou esse vulgo? Até hoje ele não sabe. Talvez ele tenha visto num filme ou notícia de um jornal qualquer. Ele apenas sabe que pegou o apelido. Mão Negra o maior ladrão da história. Age sem deixar rastros, é perigoso e se sentir acuado ele mata.

*

O sono bateu forte quando eu ainda assistia as imagens das câmeras de segurança do motel. Não foi nada fácil ficar ali olhando a ação do Mão Negra, sem poder fazer nada, não é possível que ele vá sair limpo dessa. O sujeito é mesmo um cara de pau, age sem medo, de cara limpa, sem receio das câmeras e assalta na maior tranquilidade. Escorregadio demais.

Eu havia pedido um café forte e sem açúcar e enquanto eu o aguardava algo me veio a mente.

- Os localizadores dos celulares. – esqueci o café e fui trabalhar.

Andei com pressa até a recepção onde os clientes ainda conversavam com o gerente. Interrompi a celeuma existente ali perguntando bem alto quem costumava manter o localizador ativado. Um rapaz somente disse que sim.

- E por um acaso o seu aparelho se encontra sincronizado com outro?

- Sim. Minha mãe faz questão de saber cada passo que dou.

- Legal. Obrigado a todos. – me despedi de todos, mas levei o rapaz para fora comigo.

*

Amorim havia começado a tal reunião às nove em ponto. Ele olhou em volta e não viu João Antônio na sala.

- Mais que merda, cadê o J.A?

- Ele me ligou e disse que se atrasaria, senhor. – informou outro policial.

Após passar as mãos na cabeça de poucos cabelos o delegado resolveu seguir com o plano mesmo sem o seu investigador responsável pelo caso.

- Quero um pente fino nos arredores daquele motel. Mão Negra deve estar por perto. Vou manter as patrulhas circulando pra cima e pra baixo vinte quatro horas e enquanto isso quero vocês nas ruas, becos, vielas, bueiros, sei lá, mas peguem esse sujeito.

O celular de Amorim tocou em cima da mesa.

- Aonde você está que não se encontra em minha sala?

- A caminho da casa do Mão Negra.

Amorim ficou boquiaberto.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 19/05/2022
Código do texto: T7519449
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