NA CALADA DA NOITE

Os dedos pousavam sobre as teclas do órgão.

Cada nota ressoava na imensa sala.

Na calada da noite o olhar ausente da bela mulher.

Parada, ela esperava cada som repercutir.

Só um pensamento lhe chegava: partir.

Mas para onde ir?

Tudo fora em vão. Todos os seus sonhos estavam caídos no chão.

A longa camisola de flanela a cobrir o corpo magro demais.

Ainda havia beleza nos traços delicados.

Partir... ir...ir...

Buscar a morte? Não...isto seria covardia.

Viver sem alegria?

Fechar o instrumento musical... Esquecer... Ganhar a rua.

Mas...de camisola? Sabia que se subisse a escadaria para se vestir, desistiria.

Encaminhando-se até a vidraça ficou a olhar uma lua pálida que dava um ar nostálgico ao seu pequeno jardim.

Uma idéia fixa aquela: Partir.

Longe; como dois faróis, os olhos de um gato, brilharam no escuro.

Neste instante o coração já virava um bumbo no peito.

Seria o gato de Marco? Ele teria voltado?

Marco! Marco!

As mãos se contraíam antes de chegarem ao peito.

Uma dor lancinante...

Não!!! Não!!!

Ela queria chamar pelo seu amado, mas a dor a emudecia.

O corpo escorregava, descia, descia e no chão se estendia; ao mesmo tempo que o gato a alcançava.

O dono um pouco atrás o acompanhava e corria para a mulher caída.

Ela já estava sem vida...

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 11/07/2012
Reeditado em 11/07/2012
Código do texto: T3771967
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