A maldição do amor: a outra face da lógica
Sempre acreditei que todo lugar sujo tem o seu encanto natural, assim
como todo relacionamento sórdido também exibe alguma espécie de
charme, como um murmúrio, pouco encantador, mas, com o poder de
ostentar um punhado de particularidades, mesmo abstratas, simplórias e
singularizadas. Porém, às vezes, impossível ludibriar a paixão, mesmo nos
debatendo, esse demônio, um dia tem de florescer, até pela pessoa errada.
O cenário agora está aberto para conflitos vigentes de um amor que nunca
se fez e nunca termina. Começa por uma vontade insaciável de amar, no
âmbito de uma inusitada desventura, perpetrando um sentimento
incógnito. O peso do seu corpo pesando contra (sobre) o meu, tortuosa
profusão de carícias e afagos, beija eu, implorava ainda mais, enquanto a
cada segundo se excedia mais em meus ósculos. Em meio a tantos
amplexos, instaurava-se o desejo que deflagrava em nós!
E no ato final, desse doloroso teatrinho barato, um (im)perfeito jogo de
cena, protagonizado por nós, meras figuras patéticas. Também no íntimo
silêncio, como um véu que cai, ela me faz ver o céu com a candura do
tormento, porque podíamos, quantas vezes quiséssemos, sonhar com o
amanhã ainda naquela noite. Mas, tanto amor e ira, enfim não foi bastante
para evitar, ah sim o fim, era ele que nos descobriu. E terminou, na triste
sina desse amor, que enflorou mais nas garras da consternação do que nas
branduras da fortuna. E depois de um mísero único adeus, ultimou, pena
só não... Pena também da certeza de que deve existir realmente, alguma
outra coisa por traz do puro ódio e de todo sentimento de rancor e
vingança