Quando se vive em uma grande cidade...

Eram vinhos dançantes em cima das lápides entristecidas...

Em névoas que formavam fantasmas dos romances esquecidos...

Os móveis empoeirados pelas areias da ampulheta...

Sujo o sol desse inverno...

E os cachorros conversam nas lixeiras de madrugada...

O cio e o sorriso...

Os  convites atenciosos e as orelhas em pé...

Enquanto naquele apartamento as cortinas bailavam ao vento, prenúncio de uma chuva fina e lenta que deixava o cheiro do ambiente agradável. Nua ela caminhou sobre as pedras nas águas de rios infinitos. Tão profundas quanto a própria e pura imaginação.

Eram objetos pontiagudos e cortantes em peles secas que nem cascas de árvores envelhecidas pelas estações...

Correndo com as ânsias expostas, entre elas e sobre elas mesmas como as bruxas aladas e suas asas de nuvens. E seus castelos decadentes em ruas conhecidas de todos os lugares que já estivemos antes e num futuro próximo.

Brindes em taças geladas pelas mãos cheias de jóias... E gravatas de seda suavemente dobradas pendiam sobre as maçanetas de algumas portas... Um cheiro doce enebriava o ar, criando movimentos ilusórios de cores nas luzes que adentravam a casa...

Era a loucura do vinho, ou a alegria da insensatez de se permitir... E quem disse quando...

Os fantasmas continuavam dançando e dançando pela noite sem fim...

Suas vidas ou suas mortes, uma quietude lúgubre, com a imaginação do que poderiam estar ouvindo...

Cinzas batidas... As plantas estão cada vez mais verdes, mais bonitas e fortes... Hoje a cortina está acostada, amanhã pode não estar... Por conta disso o sol baixa por detrás dos prédios com seu amarelo pintando tudo, deixando as outras cores com mais brilho.

Os gemidos já não eram tão altos. Os carros continuavam seus caminhos. As luzes das janelas sem fulgor, as próprias pessoas assim. E a música chegara ao fim...