Sextou!!

''Sextou!!''

Postou ela instantes antes de ir banhar-se.

Tal expressão, possuidora de uma multiplicidade semântica que beirava o infinito, sempre causava-lhe um estado de êxtase : — "Eita", vou sair, vou beber, vou subir, vou descer, vou quicar e rebolar!! — pensava enquanto se despia.

" O sabonete íntimo acabou", constatou ao pegar o frasco.

Devo usar sabonete comum ou xampu? Ah, o importante é deixá-la cheirosa. Lavava-a com a mesma alegria e disposição que a mãe de um aniversariante prepara o bolo para ser devorado pelos convidados.

Mal se enxugara e já sai do banheiro em direção ao quarto, deixando seu rastro de água.

— Mãe, cadê meu shortinho Jens?

— Na gaveta de cima.

— Aff, cadê aquela blusa... Ah, já achei.

—Que agonia é essa, menina?

—Mãe, s-e-x-t-o-u!!!

Estava eufórica, não via a hora de se unir a suas amigas.

"Eita! Vou sair, vou beber, vou subir, vou descer, vou quicar e rebolar!!".

— Não acredito, mãe. O perfume acabou!! Por que vc não prestou atenção que ele estava perto de acabar para providenciar outro?

— Menina, só vc usa esse perfume.

— Aff!!

— Tem aquele meu. Vc quer?

—Deus me livre!! Perfume de velho. Eca!

— Vai sair sem perfume?

—Vou passar na casa de minha amiga e uso o dela.

— Tudo bem.

—Tchau, mãe.

Saiu correndo sem nem mesmo ouvir o que sua mãe lhe dissera.

Após cinco minutos de caminhada, seus pensamentos eclodiam em imagens quase tangíveis. Ela já se via bebendo, dançando, subindo, descendo, quicando e rebolando. Não apenas se via, mas já se sentia em tais atividades.

Enquanto ela se deliciava com tais imagens e planejava o que fazer para tornar o namorado de sua inimiga seu crush, ela ouve um som estranho que interrompe bruscamente seus pensamentos. Tal som fora produzido pelo seu pé direito pisando algo macio.

Sim, era bosta!!

Não, não era de cavalo, nem boi, nem de cachorro. Ela conhecia o mau cheiro da desses. Era um fedor insuportável. "Só podia ser de porco". Pensou a desperfumada, e agora fedorenta, menina que não via a hora de beber, de subir, de descer, de quicar e rebolar.

— Desgraça!! Gritou.

Procurou algo que pudesse ser usado para limpar o sapato. Encontrou um galho seco. Ao passar no solado, o cheiro ficou ainda pior. Ela vomitou em seu shortinho jeans e em suas pernas.

— Desgraça!! Gritou novamente.

Retornar para sua casa ou continuar em direção à casa da amiga??

"Vou ligar para ela".

“Desgraça!! Esqueci o celular no banheiro”.

"Minha amiga pode me emprestar uma roupa, posso tomar banho lá, vai dar tudo certo".

Prosseguiu em direção à casa de sua amiga.

O namorado de sua amiga, seu sonho de consumo, estava parado de moto a uns 5 metros. Ela o reconheceu, assim que olhou para seus cabelos.

"Vou pedir para ele me levar".

— Oi!

—Oi, linda. Tudo bem?

—Estou precisando de um favor.

—Vc não pede. Vc ordena.

—Vc poderia me levar à casa de Simone?

— Agora mesmo...Hum... Vc está sentindo um fedor da porra??

— Não! Pensando melhor, não irei mais. Acabei de me lembrar de algo. Pode deixar. Muito obrigada.

— Oxe, menina. Eu levo vc.

—Não pode deixar.

Saiu apressada em direção a sua casa.

No caminho percebeu um líquido escorrendo pelas pernas. Sim poderia sim ficar pior. E ficou.

Ao chegar a sua casa, as cólicas já eram insuportáveis.

Correu para o banheiro.

Após o banho, a troca de roupa, o absorvente e o remédio para cólica, foi se deitar.

Pegou o celular e observou as postagens de suas amigas.

Ela chorava, soluçava e gemia. Mas não era de dor, era de raiva:

Afinal, sextou. E ela sem sair, sem beber, sem subir, sem descer sem quicar nem rebolar.

MAIKON JEKSON
Enviado por MAIKON JEKSON em 16/06/2019
Código do texto: T6674334
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