A NOIVA DO VÉU PRETO

   A igreja estava repleta de convidados, a ornamentação com flores estava perfeita, os padrinhos dos noivos devidamente posicionados, o noivo estava próximo ao altar como de praxe e o padre só aguardando a entrada da noiva. A emoção foi grande quando foi entoada a marcha nupcial assim que ela adentrou o templo. O que todos notaram e não esperavam por isso foi o semblante da noiva, ela apresentava um ar de tristeza e mantinha os olhos fechados, o que causou um certo mal estar, principalmente nos familiares, mas a cerimônia de casamento deveria ter prosseguimento. Percorrendo o tapete vermelho desde a entrada até o altar, finalmente ela chega ao poder do seu amado para início do evento religioso.

   Mas vamos deixar o desfecho para depois, essa cena se encaixa no meio da história, portanto vamos começar realmente do começo e fazer com que o leitor entenda direitinho todo o seu contexto.

   Brígida não sentia a menor simpatia por Carol, muito pelo contrário, não se sentia bem quando cruzava com ela na rua, o que era praticamente inevitável, diariamente a via durante o seu percurso para o trabalho, muitas vezes desviava o caminho, mas nem sempre isso era possível. Depois que começou a namorar com Ricardo ficou sabendo que ele era o ex dela, mas que ela insistia em renovar, o que não era do gosto dele, que agora só tinha olhos para ela, foi uma paixão que fez Brígida voltar a ter uma nova vida já que era uma moça triste e desiludida com seu último relacionamento, o mesmo caso de Ricardo, os dois enfim achavam que tinham se encontrado para uma união eterna, estavam se amando mutuamente. No entanto Carol incomodava muito Brígida com sua presença, era insuportável aqueles olhares apesar de não se falarem e ambas sabiam que o pivô dessa situação era Ricardo.

   Passam-se alguns dias e Brígida não viu mais a rival, sentiu-se até melhor e esqueceu um pouco esses dissabores, enfim está pronta para curtir seu namoro e levar a sério a ideia dele de marcarem a data do casamento, afinal já se passou um ano e o amor entre eles ia às mil maravilhas. Enfim a data é marcada, os preparativos, os convites, compra isso, compra aquilo, um vai e vem medonho, sem levar em consideração a alegria do casal e da família. Tudo pronto, a noiva é arrumada em sua residência, o noivo se arruma na dele, os convidados começam a chegar na igreja, que já se encontra toda ornamentada, tanto em seu interior quanto no salão de festas que fica ao lado, local do evento onde os noivos serão recepcionados juntamente com os convidados.

   A noiva Brígida, vestida elegantemente, entra no carro que a levará a igreja, ela sorri satisfeita e feliz. O veículo faz o curto percurso até o templo católico, ela desce vagarosamente e sobe os degraus com destino ao altar onde Ricardo a espera. Se posiciona na porta da igreja, pára, dar um sorriso com seus olhos direcionados para o altar onde vislumbra a imagem do noivo a esperá-la. Súbito ela tem uma vertigem, tudo escurece ao seu redor e ela se sente flutuando, em pleno ar e sobre as cabeças dos convidados ela se vê adentrando sobre o tapete vermelho indo em direção ao altar onde se encontra Ricardo, seu noivo. Ela fica abismada com o que vê, ela caminhando lentamente. Estaria louca? Como pode ela estar fora do seu corpo e ao mesmo tempo vendo ela própria andando tranquilamente na direção do altar? Um detalhe: o véu que usa é preto, mas ela tem certeza que era branco e transparente, no entanto essa que se passa por ela usa esse na cor escura e seu rosto ninguém vê! Brígida não consegue se conter e começa a gritar, porém seus gritos não são ouvidos, não ecoaram naquele local sagrado. Brígida vê aquela estranha indo no seu lugar se casar com Ricardo, mas ele é seu, essa intrusa não pode fazer isso! A noiva que deveria ser ela enfim chega ao altar e dar o braço para Ricardo, que sorri. Nesse momento essa estranha personagem levanta o véu e olha para ela discretamente, momento em que é reconhecida, era Carol, que sorri demonstrando muita felicidade. Brígida chora, se enfurece, tem vontade de ir até o altar, mas não consegue, fica ali em pleno ar assistindo a essa cena dramática. Que raiva! - pensa ela. Contra a sua vontade assiste a toda a celebração, ele dizendo "sim" para ela e ela dizendo "sim" para ele, um verdadeiro absurdo. Terminada a cerimônia chega a hora do beijo, Carol levanta novamente o seu véu preto e olha para Brígida com ar de satisfação antes de tocar seus lábios nos dele. Assim que o beijo é concluído ela "acorda" desse transe, ela é quem beija Ricardo, seu noivo e marido, já que a cerimônia nupcial está a se encerrar, a "outra" que reconheceu como Carol ali não estava, ela devia ter tido uma visão que não era real, que era fruto de sua imaginação. Aproveitou para conferir o véu, era branco como nuvem, estava de acordo com o seu gosto, era o mesmo que colocara antes de sair de casa. Seguiram felizes para a festa que os aguardava.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 22/10/2019
Código do texto: T6776528
Classificação de conteúdo: seguro