Deslumbre como experiência estética

Antes de considerar a história é preciso definir o sentimento por onde ela caminhará, o deslumbre. Deslumbre é quando se é posto diante de uma beleza que é capaz de arrebatar os sentidos. Sem saber definir a beleza, porque no fundo não precisa definir ou valorar, é precisa simplesmente sentir como experiência estética e deixar que esses sentimentos apontem um caminho sem ter a certeza de qual. Uma coisa comum capaz de causar deslumbre no ser é uma obra de arte... Um livro, uma pintura, uma poesia ou poema, uma peça de teatro, um filme, um corpo que dança, um grafite na cidade, as cores que se misturam no calidoscópio, um ser que se descobre numa conversa... tudo isso são coisas que põe o deslumbrado diante da sensação de vida. Sem intenção ou tensão de se pôr apaixonado diante desse momento por que a vida simplesmente precisa acontecer de uma forma mais leve que traga a esperança, descarrega-se a paixão. A maioria das vezes isso acontece no silêncio do universo onde os sentimentos habitam, dentro do ser.

Existe um problema comum em que o deslumbrado, aquele que contempla a arte, carrega de desejo aquilo que se deslumbra. Ter consciência de que o desejo é algo inconsciente se arranca dele a culpa cristã. Então, os sentidos dançam com os desejos criando sentimentos que como num Big Bang explodem em afetos. Por vezes, no universo do deslumbrado esses afetos vagam no vácuo do espaço silenciados na densa escuridão do sentir. Esse afetos podem viajar por anos-luz silenciados na imensidão do universo ou podem simplesmente serem esquecidos como algo existente e jogado num buraco negro. Mas e quando esses afetos surgem de uma viagem onde atravessam o peso

gravitacional de um buraco de minhoca e sobrevive sendo expelido por um buraco branco mudando o lógica do tempo, o que se faz? Arte.

Deslumbrado por um ser desses expelidos por um buraco branco a primeira coisa que se põe em evidência no Universo são os anos-luz que separam o desejo, vinte e seis anos, que põe em xeque as leis universais da física. O que fazer? A arte dará conta? As opções são lógicas e evidentes. Deixar que o ser expedido vague a esmo em seu universo tendo assim a oportunidade de contemplá-lo ou jogá-lo num buraco negro no campo do esquecimento total.

Apesar das opções dadas o ser deslumbrado nunca aceita a razão. Tenta o tempo inteiro rasgar a inércia de sua massa para imprimir um movimento no qual perca o controle de si e a reação seja maior que a ação. Diante dos absurdos dos afetos então que seja o deslumbre a nebulosa dos desejos.

Ley Gomes
Enviado por Ley Gomes em 18/11/2020
Código do texto: T7114702
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.