ELA VOLTOU, EU SABIA QUE ELA VOLTARIA! (Delírio de um apaixonado)

   Xisto olhava atentamente para aqueles campos verdes de sua fazenda, eram de perder de vista de tão imensos que eram, mas sua vista alcançava mais que isso, ele via imagens que lhe deram muitas alegrias no passado, sentia a felicidade como quem sente sede tendo ao seu lado um copo com água bem fresca, tudo estava sob o seu domínio. Edna era a sua companhia inseparável, sua amante de todos os momentos que o acompanhava onde quer que fosse, assim ele exigia e era atendido. No auge dos seus vinte e poucos anos e ela apenas uma menina de dezesseis ou dezessete anos, não conhecia a tristeza e nem as dificuldades da vida, tinha dinheiro para comprar uma cidade inteira se isso fosse possível. Viveu como um jovem mimado e totalmente dependente dos pais que faziam todos os gostos do filho único. Assim ele permaneceu até os trinta anos quando a vida resolveu dar-lhe um novo caminho, os seus planos para o futuro mudaram radicalmente. Sua intenção de casar não se concretizou, um acidente fatal lhe roubou a futura esposa e tirou-lhe os movimentos físicos ao cair do cavalo que montava junto com Edna. Ela teve morte imediata ao bater a cabeça em uma pedra e ele feriu-se gravemente quase indo a óbito, sua coluna vertebral ficou comprometida e depois de quase um mês em um hospital passou a viver em uma cadeira de rodas.

   Passaram-se alguns anos, da varanda de sua enorme casa Xisto não se cansava de olhar para o horizonte, estava diante de uma propriedade totalmente verde (o verde da esperança, ele sempre dizia) e apesar dos cabelos com algumas mechas brancas imaginava aquele mundo do qual se separou contra a sua vontade. Já passava dos quarenta mas sentia-se como um jovem apaixonado imaginando a volta de sua querida Edna, a quem nunca deixou de amar. Ele tinha plena certeza de que ela se foi para nunca mais voltar, mas sua mente dizia o contrário e isso o fazia alimentar a ideia do seu retorno a qualquer momento, por isso não deixava de fitar aquele campo esverdeado, com muitas árvores em quase toda sua extensão, ela por ali que Edna voltaria para os seus braços, era naquele horizonte que ela iria surgir para que sua felicidade voltasse também. Ele jurava que se isso acontecesse sairia correndo para abraçá-la, essa maldita cadeira de rodas que ficasse para trás. Xisto não tinha outro pensamento senão esse, Edna lhe aparecia em sonhos e jurava que voltaria para continuarem esse amor que nunca deveria ter sido interrompido da forma como foi.

   Numa linda tarde, depois do almoço, lá estava Xisto na varanda a observar o horizonte, as vezes dava um cochilo mas logo despertava, não podia perder a oportunidade de esperar a amada bem acordado. Em sua cadeira de rodas movida a motor ficava de um lado para o outro com certa impaciência, não tirava os olhos do horizonte, até que o seu desejo estava a se concretizar, pois um cavalo surgiu bem longe e seus olhos se deliciaram com essa visão. Montada nele não poderia ser outra pessoa senão Edna, seu sorriso era visto por ele a medida que o cavalo se aproximava, quando chegou bem perto ela abriu os braços como a convidá-lo para ajudá-la a descer do animal. Xisto, espantado, gritou: "Ela voltou!", em seguida complementou com outro sonoro grito: "Eu sabia! Eu sabia que ela voltaria!". Levantou-se da cadeira de rodas e em fração de segundos estava tirando a sua amada de cima do cavalo, abraçou-a e beijou-a ardentemente recuperando todo aquele tempo perdido. Nada poderia ser melhor para ele do que esse encontro amoroso.

   O apaixonado rapaz acordou de seu cochilo sendo amparado pelo seu velho pai, estava no chão depois de ter caído da cadeira de rodas.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 21/11/2020
Código do texto: T7117212
Classificação de conteúdo: seguro