Clarisse, um amor infindo.

(Contos/Romance)

 

 

Quando Clarisse nasceu os seus olhos já sugeriam uma procura, mal olhou à parteira, e pôs-se a olhar tudo ao seu redor, somente então começou a chorar como fazem todos os recém-nascidos. Cresceu assim, bem esperta, observando tudo, como se procurasse por algo, ou alguém, e quase sempre o seu semblante caia, como desencantada de uma procura. Clarisse tinha gestos apressados e sempre agia com muita rapidez em tudo que fazia, era realmente muito esperta. Aos seus olhos o tempo parecia voar. Mas uma tristeza imensa lhe corroía o coração, parecia sofrer de uma angústia infinda. E isso ocorria, sempre que voltava p’ra casa. Entretanto, na rua parecia frenética.

 

O envelhecimento precoce de Clarisse era visível, estava por completar quinze anos, e a sua fisionomia aparentava a uma moça de vinte e poucos anos. Era linda, tudo seu era perfeito, rosto, cabelos, corpo encantador; por tudo isso, não dava muita importância ao que provavelmente estava lhe ocorrendo. Mas um dia caiu em si e decidiu procurar ajuda médica, vez que não se interessava por ninguém, mesmo sendo bastante assediada, havia nela uma tristeza que não lhe largava.

 

Por indicação de amigos da família, Clarisse foi se consultar com o Dr. Roland Straus, médico alemão especialista em doenças raras, entre outras “A síndrome de Hutchinson-Gilford, ou progeria que é uma desordem genética no organismo de algumas pessoas. Todavia o médico constatou não ser esse o seu problema, embora fosse muito parecido. As consultas se sucederam muitos exames e pesquisas se evoluíram, por fim o Dr. Straus chegou a um diagnóstico e concluiu que a doença vinha desacelerando, como se estivesse programada para atingir determinada idade. Passaram-se mais seis meses um novo exame apontou estagnação, o organismo de Clarisse não se alterava nem p’ra mais nem p’ra menos, segundo o médico ela estava com trinta anos de idade e ali parou. No mesmo instante em que, sentia-se tranquila, sem as agitações de antes, à noite quando ia dormir uma sensação de espera, ainda lhe perturbava. Em seus sonhos, Ela vivia uma vida que desconhecia e isso lhe deixava intrigada e ansiosa. Mas acordava esperançosa, de que?!, exatamente, não sabia.   

 

Jonathas e alguns amigos estavam reunidos para comemorar os seus sessenta anos. Ele um solteirão bem-sucedido, assediado constantemente por belas mulheres, nunca se interessava por ninguém, naquele mesmo dia, também estava sendo promovido a CEO da multinacional, tudo era festa. Henrique Marques um de seus amigos mais chegados, sugeriu que as comemorações ali na empresa se estendesse p’ra sua casa de praia e todos não se opuseram, sabiam como era lindo tudo por ali. Jonathas, embora arredio a badalações, disse que passaria em casa e depois seguiria a encontrar os demais, ninguém se opôs. Algumas horas depois Ele já se dirigia para a casa de praia, mas sentiu-se atraído a passar por uma rua, onde há trinta anos atrás, algo muito marcante ocorreu em sua vida. Dirigia seu carro bem devagar e num determinado local parou e ficou se lembrando de tudo o que ali ocorreu. Sentiu uma tristeza imensa, foi naquele espaço em frente daquela loja, que Noêmia, sua mulher morreu em seus braços, vítima de uma bala perdida, numa súbita troca de tiros entre policiais e bandidos. As últimas palavras de Noêmia nunca saíram de sua cabeça: - “Não posso morrer, eu volto, farei de tudo, me espere, nossa história não acabou, nosso amor é infindo”. – A sua alegria de aniversário e promoção se misturou com tristeza e solidão. – Resolveu dá partida no carro e ir para o seu destino.

 

Enquanto tentava manobrar a esquerda para tomar a pista, um motoqueiro passou por ele em alta velocidade, estava sendo perseguido por uma viatura da polícia. Nesse instante ele ouviu dois disparos. O homem caiu bem próximo ao local onde sua esposa fora atingida há trinta anos atrás. Novamente Jonathas olhou p’ra loja e algo muito estranho lhe ocorreu, viu uma moça assustada querendo sair daquele local. Era Clarisse que por ali passava de volta p’ra casa. Sentiu vontade de ajuda-la, no mesmo instante que ela se dirigia a Ele para pedir ajuda. Quando se viram o céu brilhou, o medo de Clarisse passou... Jonathas sentiu uma paz imensa e uma alegria que lhe explodia o peito. Ele abriu a porta, Ela entrou. Em seguida já dirigindo lhe falou: - Imagino como você está assustada, esse bairro é muito perigoso. Ela respondeu: - incrível não estou mais, agora me sinto em paz. Sorriram um para o outro, era como se há tempos já se conhecessem. Ele a convidou p’ra sua festa, Ela aceitou.

 

Jonathas e Clarisse se enamoraram, pouco tempo depois se casaram. Até hoje são felizes.

 

 

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Antônio Souza

(Contos/Romance)

 

https://youtu.be/_4bG79MtWUg

 

www.antoniosouzaescritor.com

 

Obra de ficção. Afastada as coincidências para nomes e factos.