O SONHO ACABOU

   A igreja estava repleta, todos os convidados presentes, o padre a postos junto ao noivo que, ansioso, aguardava a chegada da noiva em seu longo vestido branco. Foram poucos meses de namoro, duas alianças firmaram um compromisso inadiável e a hora era chegada, Raul estava feliz por ter chegado o grande dia do seu casamento com Íris. Ao seu lado sua mãe segurava seu braço esbanjando um sorriso invejável, os demais parentes como o pai, irmãos e primos, além de amigos, ali estavam, tudo deveria sair conforme foi planejado. Os enfeites da igreja com flores estavam perfeitos, fotógrafos estavam prontos para o grande evento, porém Raul demonstrava um pouco de nervosismo, ele olhava fixamente para a porta de entrada como a desejar que ela entrasse logo ao som da marcha nupcial, sempre fora um sonho seu e imaginava que fosse também o de Íris, amava-a loucamente.

   Raul tinha dormido mal na noite anterior, talvez por conta do estresse e dos preparativos para o casório, havia dois dias que não via a noiva, estava ocupada com os preparativos e morava em outro bairro, ele também tinha suas ocupações, ansiava tudo dar certo, apesar de ter ficado um pouco confuso com o que ela dissera: "E se eu desistir de me casar com você?" Isso saiu assim sem sentido uma semana atrás quando passeavam num parque, ele até notou que ela estava tensa, mas tudo ficou bem e eles se entenderam, afinal iam decidir suas vidas.

   Raul olhava fixamente para a entrada da igreja, na sua imaginação via Íris entrando toda sorridente sendo levada pelo seu pai, que também ostentava uma alegria inimaginável. "Enfim meu sonho está sendo realizado" - pensou. Os minutos se passavam e nada da noiva chegar, Raul já começava a suar. Mais alguns minutos, outros minutos e a impaciência tomando conta de todos, principalmente dele. Alguma coisa deve ter acontecido para esse atraso, imaginavam todos, um casamento marcado para as cinco da tarde e a noite chegando sem a noiva adentrar a igreja, era inadmissível, até o padre concordava. Enfim Raul viu uma sombra se aproximando da porta do recinto religioso, suspirou um pouco, era Íris, mas ela não estava de branco, vestia um longo de cor preta e demonstrava um ar de insatisfação, em seguida recuou e desapareceu. Ele correu para a porta mas não a viu, os convidados não entenderam a sua ação e suspiraram com um "oohhh!!!" que ressoou no local. Com as mãos cobrindo o rosto ele, assustado, desfaleceu.

   Dias depois estava Raul na biblioteca de sua residência, muito abatido pensava em tudo que aconteceu, não acreditava que sua noiva fizesse um papel desse. De costas para a porta de entrada ele escutou passos de alguém entrando, não se virou, esperou que chegasse até ele. Uma voz que ele bem conhecia falou: "Oi! Estou aqui". Surpreso ele se virou e viu que era Íris toda de branco, vestia seu lindo vestido de noiva e estava maquiada. Não acreditou. Ela se aproximou lentamente e acariciou seu rosto. Ainda incrédulo Raul apenas olhava sua noiva estarrecido, até que ela puxou-o para si e o beijou apaixonadamente. Foram minutos de satisfação para ele que se sentiu momentaneamente realizado, ali estava a sua pretendente. Um grito porém tirou-o desse lance, era sua mãe que entrava aperreada e perguntava o que ele estava fazendo. Percebendo que estava abraçado com uma almofada o rapaz procurou em volta a sua noiva. Ninguém ali estava. Mais uma vez perdeu os sentidos e caiu pesadamente ao chão sendo amparado pela genitora.

   O pobre rapaz perdeu todo o seu sossego, não se alimentava direito e nem queria mais trabalhar, sendo forçado a tirar uma licença para tratamento de saúde. Depois ele soube que Íris havia se comprometido com outro rapaz e com ele se casado.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 08/11/2021
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